Portugal mantém aposta no mercado brasileiro
Apesar de ter recuado cerca de 10% em receitas turísticas no primeiro semestre deste ano, o mercado brasileiro ainda
é bastante importante para as empresas turísticas portuguesas. Sinal disso é a contínua dinamização de eventos e acções junto deste mercado. A 44ª edição da ABAV, com início dia 28, é uma das feiras de presença obrigatória.

Raquel Relvas Neto
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Apesar de ter recuado cerca de 10% em receitas turísticas no primeiro semestre deste ano, o mercado brasileiro ainda é bastante importante para as empresas turísticas portuguesas. Sinal disso é a contínua dinamização de eventos e acções junto deste mercado. A 44ª edição da ABAV, com início dia 28, é uma das feiras de presença obrigatória.
Em 2015, os turistas brasileiros despenderam 375 milhões de euros em gastos turísticos em Portugal, um decréscimo de 0,5% comparativamente com 2014. No primeiro semestre deste ano, os gastos do mercado brasileiro continuam a registar uma diminuição acentuada face ao período homólogo do ano anterior.
Segundo dados do Banco de Portugal, no primeiro semestre os turistas brasileiros gastaram apenas 173,07 milhões de euros, uma descida de 9,9%. Ainda assim, o Brasil subiu de 8º maior emissor para Portugal em receitas turísticas no primeiro semestre de 2015 para 7º este ano, pela queda de Angola, que deixou o Top5 dos principais mercados em receitas turísticas no País. Um dos exemplos deste decréscimo do mercado brasileiro é o reflexo que se verifica ao nível do turismo de compras, que no primeiro semestre deste ano registou uma diminuição no valor global de compras efectuadas (-19%), bem como no valor da compra média (-8%) na região de Lisboa, segundo dados da Global Blue, especialista na gestão de operações Tax Free.
Apesar de todos estes dados, as empresas e entidades turísticas portuguesas não desistem deste mercado e mantêm a sua estratégia de captação de turistas brasileiros. O Turismo de Portugal acredita que, nesta fase, “continua a fazer sentido investir no mercado, procurando públicos mais qualificados e com maior capacidade de gerar receita, além de que, depois de superada a actual crise económica o mercado deverá voltar a crescer e serão os destinos que têm aí presença que deverão beneficiar os aumento de fluxos turísticos”. Um dos principais momentos dessa estratégia é a participação em mais uma ABAV – Expo Internacional de Turismo, que acontece este ano de 28 a 30 de Setembro, no Expo Center Norte, em São Paulo, no Brasil.
ABAV
Portugal vai estar presente com um stand de 300 metros quadrados que vai apelar aos sentidos dos turistas brasileiros. “Iremos proporcionar no stand um ambiente cosmopolita, que transporta o visitante para uma esplanada de Lisboa, onde se pode sentir o aroma do café e o sabor de um pastel de nata. Para reforçar este ambiente citadino, irá estar no stand um eléctrico em tamanho real, que poderá ser visitado pelo público”, descreve fonte do Turismo de Portugal. A celebração do Centenário das Aparições de Fátima em 2017 vai ter um lugar de destaque no stand português. Será ainda “utilizada a hashtag #sintaportugal em materiais de comunicação como estímulo à partilha de conteúdos e das experiências vividas no stand”, revela a mesma fonte. A participação neste certame deve-se à importância que o mesmo tem junto do mercado brasileiro.
“A ABAV é o grande evento anual do Turismo brasileiro. É o ponto de encontro entre os profissionais de turismo. Trata-se essencialmente de uma feira que coloca o produto em contacto com os agentes de viagem, o que no mercado brasileiro é muito importante”, começa por dizer Pedro Ribeiro, sales manager dos Hotéis Dom Pedro, cadeia hoteleira que marca presença no certame no stand do Turismo de Portugal, no dos Resorts Brasil e no da Secretaria de Turismo do Ceará, região brasileira onde detêm o Dom Pedro Laguna. Também para os Hotéis Vila Galé, a ABAV é considerada “um dos maiores eventos do calendário turístico da América Latina e a maior feira de Turismo do Brasil”. É neste âmbito que a segunda maior cadeia hoteleira portuguesa vai participar mais uma vez no certame com um stand individual. “A presença da Vila Galé visa promover os 27 hotéis do grupo, embora com maior enfoque nas unidades do Brasil, onde somos o maior operador de resorts. Será também uma forma de divulgar novos produtos como o VG Sun ou o novo resort Vila Galé Touros”, indica Gonçalo Rebelo de Almeida, administrador dos Hotéis Vila Galé, que considera ainda que “estar na ABAV é a maior e melhor oportunidade de reforçar a nossa presença no mercado brasileiro”.
Mais uma vez, a Abreu online marca presença no evento que começa dia 28, novamente com um stand individual. Luís Tonicha, manager director da Abreu online, explica que a importância da ABAV passa por “nos manter próximo dos parceiros”. “A Abreu online é uma empresa luso-brasileira, por isso tem uma presença natural e importante no Brasil por razões históricas e que são conhecidas. É neste sentido que estaremos na ABAV, para dar continuidade ao trabalho que tem vindo a ser feito há anos: fortalecer as parcerias com os hotéis e agentes locais de modo a manter e potenciar as sinergias deste B2B no e com o Brasil”, esclarece.
Quanto às expectativas para a próxima edição da ABAV, o administrador dos Hotéis Vila Galé refere que pretendem “continuar a alcançar bons resultados e no seguimento da divulgação, reforçar a comercialização dos produtos Vila Galé e fechar novas parcerias junto de operadores e agentes de viagens”. Pedro Ribeiro complementa que a presença na ABAV será “mais um momento importante” na divulgação dos Hotéis Dom Pedro neste mercado, o qual “é cada vez mais importante para a nossa empresa”, sendo assim o primeiro mercado no Hotel Dom Pedro Palace, em Lisboa, e no Dom Pedro Laguna, no Ceará (Brasil). O responsável considera que a feira serve de “barómetro” para medir e prever o comportamento do mercado brasileiro para o ano seguinte. Por sua vez, Luís Tonicha considera que a feira é “um ponto de encontro do mercado global, onde se traçam estratégias para o ano e alinham vontades entre parceiros”. Para este ano, o responsável perspectiva que a feira procure “encontrar um caminho que possa ajudar à retoma daquele mercado, que vive mais uma crise económica, situação a que nos habituámos porque é cíclica. Quanto à participação acredito que o mercado se faça representar em massa”.
Sendo a principal região visitada pelos turistas brasileiros, Lisboa volta a participar na ABAV com cinco empresas associadas integradas no stand do Turismo de Portugal. Miguel Gonzaga, Visitors Bureau Brand Manager da ATL, refere que “o Brasil, apesar da crise que atravessa, continua a ser um mercado prioritário para Lisboa e, como tal, a presença de Lisboa junto do trade é importante”. O responsável considera que “será uma boa oportunidade para podermos perceber as tendências do mercado num futuro próximo. Sendo os agentes de viagens responsáveis por cerca de 80% das vendas de passagens aéreas naquele país, constituem certamente uma opinião bastante válida para este efeito”.
O Alentejo, que marca novamente presença no evento no stand do Turismo de Portugal, conta com várias reuniões agendadas com operadores brasileiros e vários encontros com a imprensa. Vítor Silva, presidente da ARPT do Alentejo, indica que a Agência vai estar atenta “a novas oportunidades de negócio que surjam e queremos continua a afirmar o Alentejo como grande destino, não só de património, como de enogastronomia”.
Estratégia
Para se manter no ‘top of mind’ dos brasileiros, as empresas e entidades turísticas portuguesas adoptam várias estratégias. No que diz respeito ao Turismo de Portugal, este tem mantido e “até reforçado a sua actividade no mercado, designadamente ao nível de operação turística e na relação directa com o trade e imprensa”. Como exemplo, iniciativas orientadas para o consumidor final, activação de marca em eventos e acções de relações públicas com a imprensa e líderes de opinião “procurando, assim, comunicar um país contemporâneo e com uma oferta turística atractiva para o público brasileiro”. Também este ano, pela primeira vez, o Turismo de Portugal marcou presença na Travel Week, em S. Paulo, uma feira voltada para o segmento de luxo, “menos afectado pela crise, e onde estiveram representadas cerca de 40 empresas portuguesas”.
“O mercado brasileiro continua a estar no Top 5 de mercados internacionais”, começa por dizer Vítor Silva, seja ao nível de dormidas como em número de turistas. “Isto por si só já diz bem da importância deste mercado”, refere. “Contudo, a acção da Agência não se esgota na ABAV, sendo esta apenas a ponta de um icebergue de um conjunto de acções realizadas ao longo do ano, como é o caso de inúmeras fam e press trips, reuniões com operadores turísticos brasileiros, forte actividade nas redes sociais, workshops, entre um sem número de outras actividades que visam captar mais programação para a nossa região e, simultaneamente, aumentar a nossa visibilidade nesse imenso mercado”, completa.
Para o Porto, o Brasil é o seu terceiro mercado emissor. É neste sentido que a Associação de Turismo do Porto e Norte volta a estar presente no evento, além de se estrear na São Paulo Travel Week. Sandra Lorenz, ‘product manager’ da ATP, refere que no primeiro semestre, a região registou um crescimento de 10,8% em dormidas. Assim, “pretendemos dar continuidade à estratégia de promoção que tem vindo a ser desenvolvido neste mercado”, explica. Estratégia essa complementada também com famtrips, acções com os media, entre outros.
No que diz respeito aos Hotéis Dom Pedro, Pedro Ribeiro explica que têm “apostado na promoção no mercado brasileiro com uma presença constante com acções próprias e acções conjuntas com outras empresas nacionais”. Ao que acresce a parceria com a GJP Hotels, que “tem dado excelentes resultados, o que faz com que o mercado brasileiro tenha mantido uma procura alta e consistente”.
Para a Abreu online, “o Brasil é assumidamente uma aposta no que toca ao turismo interno, porque além de sermos uma plataforma global (abreuonline.com), neste mercado contamos com uma plataforma própria (abreuonline.com.br) que vende Brasil para brasileiros. Assim, este é um dos nossos principais objectivos: estabelecermo-nos como uma das principais opções dos agentes de viagens para venda de hotelaria e outros serviços no Brasil para brasileiros”.
Futuro
Contrariamente à tendência geral, nos Hotéis Vila Galé não se está a sentir a quebra do mercado brasileiro, este até aumentou nos hotéis da cadeia hoteleira. “A desvalorização do real faz com que os brasileiros optem mais por viajar no Brasil do que no estrangeiro. Isso reflecte-se na hotelaria e é positivo para os grupos hoteleiros, em particular aqueles que têm resorts, como é o caso da Vila Galé. Hoje, o mercado interno brasileiro representa quase 90% das nossas ocupações e receitas no total dos sete hotéis Vila Galé no Brasil”, explica Gonçalo Rebelo de Almeida. No entanto, o administrador da Vila Galé considera que a evolução do mercado interno brasileiro “é mais difícil de prever, mas perspectivamos um aumento de receitas neste mercado de 5% a 6%”.
Com um crescimento a rondar os 25% no Dom Pedro Laguna, com subidas do mercado doméstico (brasileiro), português e argentino, as expectativas dos Hotéis Dom Pedro são, a nível global, “positivas, com crescimentos no Algarve e na Madeira”. A Abreu online tem vindo a “crescer com consistência no que toca às vendas de hotelaria Brasileira e Argentina e verificamos que existe manutenção das vendas para Europa e Caraíbas”.
Luís Tonicha acrescenta: “Pensamos poder vir a ocupar um lugar de destaque uma vez que a Abreu online é considerada pelo mercado como uma empresa séria e sólida, o que nos dias de hoje significa segurança para os passageiros dos nossos clientes. O nosso produto está bastante adaptado ao mercado brasileiro com inclusão de destinos e hotéis com maior procura naquele mercado e, por isso, acredito que estamos preparados para chegar a esse lugar de destaque”.
“As expectativas para este ano são de estabilização do mercado”, aponta Miguel Gonzaga. “Como sabemos, o fluxo turístico do Brasil para Lisboa entrou em decréscimo em Setembro de 2015, tendo terminado o ano com uma quebra final acumulada de 5%. Em Janeiro deste ano registou-se a maior quebra (-25%) sendo que desde então se tem vindo a registar uma tendência para a estabilização desse decréscimo”, descreve o responsável, que acrescenta ainda que “acreditamos que o Brasil estará prestes a atingir o seu ponto mínimo de ciclo negativo, seguindo-se uma expectável recuperação”. No entanto, “com a grande oferta de voos/lugares disponíveis (cerca de 64/17.000 por semana), Lisboa será certamente um dos primeiros destinos a poder usufruir de qualquer alteração positiva nos fluxos emissores”.
A Associação do Porto e Norte de Portugal prevê reforçar o posicionamento neste mercado, “em particular dentro do segmento com maior poder de compra, com vista ao reforço da notoriedade da marca destino, Porto e Norte a essência de Portugal”, indica Sandra Lorenz. Por sua vez, o responsável pela promoção externa do Alentejo admite que sendo um ano de Jogos Olímpicos é habitual que tenha “efeitos directos ao nível do número de turistas. Contudo, a nossa expectativa para este ano é manter a cifra alcançada em 2015”.