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Opinião

Turismo: entre a paz e a xenofobia

Este lado do turismo também existe e debatê-lo é dar a possibilidade de nos distanciarmos das idílicas versões dos contos de fadas em que as princesas se casam e são felizes para sempre.

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Turismo: entre a paz e a xenofobia

Este lado do turismo também existe e debatê-lo é dar a possibilidade de nos distanciarmos das idílicas versões dos contos de fadas em que as princesas se casam e são felizes para sempre.

Pedro Castro
Sobre o autor
Pedro Castro

“O Turismo é a visita do Homem ao Homem”. Foi certamente este um dos lemas inspiradores para a criação do código de ética da Organização Mundial do Turismo (OMT) em 1999.

“Pelos contactos diretos, espontâneos e não mediatizados que permite entre homens e mulheres de culturas e modos de vida diferentes, o turismo representa uma força viva ao serviço da paz,. Ao ler passagens como esta, quase me esqueci de todos os conceitos económicos de RevPar, “yield”, taxa de ocupação, rentabilidade, receita média, custos fixos e operacionais, enfim de tudo aquilo que verdadeiramente pauta a nossa atividade, que determina os nossos bónus e o valor acionista das empresas para as quais trabalhamos. E de repente acordei novamente para a realidade e pensei: antes da guerra, os turistas internacionais mais comuns na Ucrânia eram Russos e Biolorussos… o que terá falhado nessa dita construção da paz? E o que pode ter corrido mal quando habitantes de uma cidade escrevem a sua fúria em frases como “tourists go away”? Ou quando as Maldivas não sabem o que fazer com as 700 toneladas de lixo produzidas pelos turistas todos os dias? E o que dizer quando os próprios turistas são aconselhados a permanecerem confinados às gaiolas douradas dos seus resorts “all inclusive” para não serem confrontados com a miséria da população local? Para não falar nos vários destinos turísticos que, em determinadas alturas, beneficiam da instabilidade ou dos conflitos de regiões suas concorrentes, como foi o caso de Portugal e Espanha por relação à primavera árabe, por exemplo.

Este lado do turismo também existe e debatê-lo é dar a possibilidade de nos distanciarmos das idílicas versões dos contos de fadas em que as princesas se casam e foram felizes para sempre. Não! As princesas enfrentam crises e traições, algumas divorciam-se, outras passam por depressões e procuram ajuda e, alguns anos depois, conseguem voltar a ser felizes, com maior realismo e consciência da fragilidade da felicidade e da paz que as rodeia.

No caso português, a crise mais imediata que temos por gerir é a da mão de obra no turismo. Contas feitas dizem que nos faltam 50 mil empregados no setor, muito dos quais estão a exercer essas mesmas profissões na Suíça, França, Espanha, Alemanha e até na Islândia.

Qual é a solução proposta pelos atuais decisores políticos para colmatar esta falta? Atrair de volta os Portugueses que já têm essa experiência? Ou evitar que a nossa rara juventude recém-formada tenha de abandonar o país para construir o seu futuro no estrangeiro? Vamos valorizar o trabalho em vez de multiplicar os apoios sociais? Não. Aposta-se numa política pública desequilibradora, mas muito mais fácil, mais barata e que não vota em atos eleitorais: vamos recrutar essa mão de obra ao Brasil, PALOP, Marrocos, Bangladesh, Indonésia, entre outros.

Está absolutamente comprovado que a entrada maciça de imigrantes provoca graves conflitos sociais e facilita a ascensão de partidos de extrema-direita, mesmo em países altamente turísticos como Itália. Perante o avanço concreto desta ameaça em Portugal, temos de olhar para o que se passa no resto da Europa e aprender: partidos e políticos que eram diabolizados e marginalizados até há pouco tempo, estão hoje no governo ou à beira dele. Em nome de quem e de quê vamos, em Portugal, repetir estes erros e colocar todo o nosso sistema político-social à mercê desse risco previsível? Em nome da indústria da paz, do entendimento entre povos e cultura, do desenvolvimento social das populações visitadas e da sua sustentabilidade? Ou em nome dos RevPar, “yield”, taxa de ocupação, rentabilidade, receita média, dos baixos custos fixos e operacionais, dos bónus e do valor acionista das empresas de algumas pessoas com acesso facilitado à esfera decisória? No dia em que entregarem o poder aos neo-fascistas, não se queixem.

Sobre o autorPedro Castro

Pedro Castro

Diretor da SkyExpert Consulting e docente em Gestão Turística no ISCE
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