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Opinião

O paradoxo evidente na aviação

Houve uma total falha nos modelos que previam a retoma do transporte aéreo. As instituições oficiais, como a IATA, Eurocontrol e outras, tinham, nas melhores previsões, a recuperação a acontecer em 2024 ou 2025 – estamos em 2022 e o volume está muito próximo dos valores pré-pandemia.

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O paradoxo evidente na aviação

Houve uma total falha nos modelos que previam a retoma do transporte aéreo. As instituições oficiais, como a IATA, Eurocontrol e outras, tinham, nas melhores previsões, a recuperação a acontecer em 2024 ou 2025 – estamos em 2022 e o volume está muito próximo dos valores pré-pandemia.

Paulo Manso
Sobre o autor
Paulo Manso

Vivemos, por estes dias, um total caos nos aeroportos a nível mundial. E qual é o principal motivo de todo este caos? A falta de profissionais para o cumprimento das funções necessárias. No caso particular dos técnicos de manutenção de aeronaves (TMA), a falta faz-se sentir de forma muito grave e com impactos fortíssimos na operacionalidade das aeronaves e, por conseguinte, nas interrupções da operação.

Houve uma total falha nos modelos que previam a retoma do transporte aéreo. As instituições oficiais, como a IATA, Eurocontrol e outras, tinham, nas melhores previsões, a recuperação a acontecer em 2024 ou 2025 – estamos em 2022 e o volume está muito próximo dos valores pré-pandemia.

Por outro lado, houve também uma grande falha por parte das empresas de consultadoria que colaboraram com as empresas no redimensionamento e ajuste das mesmas, empresas pagas a peso de ouro e cujos resultados estão à vista: o total desajuste das suas estruturas face à procura e ao mercado atual.

E ninguém é responsabilizado? O resultado de tudo isto está a ter impacto em várias áreas. Há passageiros para transportar, mas total incapacidade das empresas para o fazer. Gastou-se dinheiro a estudar a situação, gastou-se dinheiro para despedir, vai-se gastar dinheiro para contratar (se houver quem contrate) e está-se a perder receita com passageiros. Passageiros esses que, na prática, as empresas não conseguem transportar. A somar a tudo isto, ainda há duas avultadas faturas a pagar: indemnizações aos passageiros vítimas destas “trapalhadas” e uma péssima publicidade para algumas companhias e destinos turísticos. Podíamos estar todos a ganhar com esta procura, as empresas e a economia nacional, mas estamos, isso sim, a desaproveitar um momento e uma conjuntura muito boa.

Na TAP ainda se vive um cenário mais estranho. Temos falta de trabalhadores, mas temos colegas no processo coletivo de despedimento – sim, apesar da escassez de recursos humanos continuamos com o processo de despedimento. Fará isto algum sentido? Em alguns casos e em algumas profissões (como no caso dos TMA), estamos a despedir colegas altamente qualificados, colegas que não existem no mercado, colegas que demoram anos a ser formados, e a TAP a precisar deles. Não se compreende e esta situação não é benéfica para ninguém. Bom senso precisa-se!

“A inteligência é a capacidade de nos adaptarmos à mudança”, já dizia Stephen Hawking. Assim sendo, diria que vivemos momentos de total ausência de inteligência, já que não nos estamos a adaptar à nova realidade, tudo falhou e, essencialmente, falhou quem é pago para ajudar a não falhar. Falharam as consultoras, falharam os organismos e instituições, e tal não devia ter acontecido, tantas falhas tiveram e estão a ter impactos brutais na vida de tantas pessoas, umas porque esta situação lhes traz transtornos na hora de viajar, mas muitas estão ainda numa situação mais complicada, pois viram as suas vidas destruídas por estas falhas.

E o que se pode fazer para corrigir tudo isto? Na Europa e no resto do mundo, as companhias estão a contratar mais pessoas, estão a renegociar as condições oferecidas aos seus trabalhadores, estão atentas ao problema da inflação. Em Portugal qual o ponto de situação? Na TAP e na PGA os trabalhadores continuam esmagados por cortes brutais, que chegam aos 35% dos seus vencimentos. A somar a estes cortes temos uma inflação galopante e o clima de relações laborais está longe de ser o melhor. Resultado: estas empresas continuam a perder profissionais que já não suportam estas condições e, com isso, a situação das próprias empresas só se vai agravando.

A quem serve tudo isto? Às empresas não é com toda a certeza, aos contribuintes portugueses também não, ao país ainda menos. Portugal precisa destas empresas para mostrar que é um país competitivo, para que outras empresas do nosso país possam mais facilmente fazer negócios na Europa e noutros cantos do mundo, para continuarmos a ser considerados um destino turístico de excelência.

Temos de agir, temos de exigir, Portugal não pode ser um país eternamente adiado. Não podemos continuar a desperdiçar oportunidades e áreas em que somos realmente bons e competitivos porque não se faz o que deve ser feito. Tomem-se decisões, passemos à ação, chega de adiar, estamos a condenar toda uma geração a emigrar ou a trabalhar precariamente na área dos serviços.

Sobre o autorPaulo Manso

Paulo Manso

Presidente da direção do SITEMA – Sindicato dos Técnicos de Manutenção de Aeronaves
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