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Há caminho de pedras por percorrer

Se mais imponderáveis não vierem a ocorrer ou circunstâncias da guerra não perdurarem, esta poderá ser uma realidade plausível em 2022, tanto na esfera da economia nacional como na do turismo.

Há caminho de pedras por percorrer

Se mais imponderáveis não vierem a ocorrer ou circunstâncias da guerra não perdurarem, esta poderá ser uma realidade plausível em 2022, tanto na esfera da economia nacional como na do turismo.

Sobre o autor
António Abrantes

No plano externo, a confiar nas previsões dos organismos internacionais especializados, as principais economias europeias, norte-americana e chinesa, não obstante os efeitos da brutal invasão da Ucrânia determinada pelo regime autoritário da Federação Russa, vão consolidando a recuperação da sua actividade produtiva pós COVID-19 podendo, alguns países atingir, ou mesmo ultrapassar, em termos reais, o seu produto de 2019.

Para o turismo europeu, a ETC – European Travel Commission, no seu relatório European Tourism: Trends & Prospects, Quarterly Report (Q1/2022), refere existir, no curto prazo, um forte desejo de realização de viagens intra-europeias, apesar das incertezas decorrentes da situação da guerra na Ucrânia e da ameaça contínua da COVID-19. Três em cada quatro europeus pretendem fazer uma viagem nos próximos seis meses, sendo os destinos mediterrânicos os mais atractivos: Mais de metade (56%) planeiam uma viagem e pretendem visitar outro país europeu; 77% têm planos para viajar entre abril e setembro próximo e 38% dizem estar prontos para viajar entre Junho e Julho, e outros 32% visam o período de Agosto a Setembro.

Antecipa-se, assim, um ano de recuperação do turismo na Europa, com substancial retoma da procura, em paralelo com o aumento de preço do serviço turístico.

Perduram, contudo, alguns constrangimentos no turismo. Surgiram, entretanto, novos problemas que, não lhe sendo específicos, poderão ter nele consequências indesejáveis.

A crescente e já forte inflação nos preços dos factores de produção; a evolução em crescendo das taxas de juro; a dramática insuficiência de profissionais em todas os ramos turísticos; a perda de eficiência da logística de abastecimentos; a que acrescem as dificuldades generalizadas das estruturas aeroportuárias em responderem aos fluxos de passageiros, são constatações sobejas de grandes preocupações para as empresas e consumidores.

Estamos, assim, perante um horizonte de recuperação económica e da procura turística, com ganho substancial no preço médio, logo nos proveitos, mas confrontados com acréscimos proporcionalmente superiores de custos de exploração, com consequente repercussão no resultado operacional das empresas. Ou seja, ao acréscimo expectável dos proveitos, poderá sobrepor-se um acréscimo superior de custos, que esbaterão – senão mesmo travarão – a retoma dos níveis de rentabilidade esperados das empresas turísticas. Mais preocupante, ainda, quando tudo em conjugação, poderemos, a final, enfrentar dano na qualidade do serviço prestado e erosão na relação qualidade-preço.

Todas estas questões estão, igualmente, presentes no turismo português. Portugal beneficiará, naturalmente, desta dinâmica no plano da procura e do preço, mas será depositário das mesmas dificuldades.

À economia portuguesa vaticina-se uma forte recuperação (partindo de quedas fortíssimas, sem memória recente), fruto do potencial de utilização de dotações excepcionais de fundos comunitários. Ao turismo perspectiva-se um desempenho em linha, por via da recuperação das dormidas de residentes e avanço nas dormidas de não residentes (ainda que -15% relativamente a 2019), mas no conjunto ainda abaixo dos valores pré-pandemia (-12% sobre 2019). Se mais imponderáveis não vierem a ocorrer ou circunstâncias da guerra não perdurarem, esta poderá ser uma realidade plausível em 2022, tanto na esfera da economia nacional como na do turismo.

Mas vivemos momentos estranhos no plano interno. Misto de confiança na recuperação da economia a par de uma sensação de apatia na acção do Governo.

Esta sensação é suportada no facto de um PRR que não avança, do qual não se tem informação útil, a não ser que é para concretização de investimento público em carteira. Do abandono da urgência na resolução da nova acessibilidade aérea na região de Lisboa, agora sem localização definida. No desconhecimento do PT2030, que verá os seus dias em 2023, na melhor das hipóteses. Na inoperacionalidade do Banco de Fomento. No desconhecimento das reformas estruturais que o poder político se propõe realizar e tão necessárias ao país.

Se tudo isto também implica no turismo, seria já em si suficientemente preocupante. Desnecessário se tornava, em cúmulo, desconsiderá-lo na macro-estrutura do Estado. Ainda por mais desaparecido do discurso da economia, perseguido pelas finanças e desrespeitado pelo território.

Há, pois, um longo percurso, de caminho de pedras, por fazer.

Sobre o autorAntónio Abrantes

António Abrantes

Docente Universitário | Curso Turismo do ISCE e ULHT
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