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A reabertura dos Estados Unidos requer paciência de chinês

A entrada nos EUA não é tão simples como antigamente e é necessária uma boa dose de paciência e uma certa quantidade de papelada.

A reabertura dos Estados Unidos requer paciência de chinês

A entrada nos EUA não é tão simples como antigamente e é necessária uma boa dose de paciência e uma certa quantidade de papelada.

Pedro Castro
Sobre o autor
Pedro Castro

As restrições de viagens para os Europeus em direção aos Estados Unidos estavam em vigor desde março de 2020, inicialmente aplicadas pelo ex-presidente Donald Trump e mantidas pelo atual Presidente durante um total de 604 dias.

Há algumas semanas, a administração Biden anunciou que iria reabrir as suas fronteiras terrestres e aéreas a todos os passageiros estrangeiros totalmente vacinados contra a COVID-19 para todo o tipo de viagem – essencial ou não – provenientes de 33 países, incluindo os 26 estados europeus do espaço Schengen, Irlanda e Reino Unido. A reabertura aconteceu finalmente no passado dia 8 de novembro.

Voltaram a incluir-se assim os europeus no mercado aéreo intercontinental mais lucrativo do mundo, uma vez que estes viajantes já não têm de cumprir a quarentena ao chegar aos Estados Unidos. Os americanos vacinados já podiam deslocar-se livremente para a Europa desde o início do Verão e a UE aguardava apenas por esta reciprocidade de Washington. No seguimento desta decisão, várias companhias aumentaram frequências, rotas e destinos para os Estados Unidos.

No entanto, a entrada no país não é tão simples como antigamente e é necessária uma boa dose de paciência e uma certa quantidade de papelada. Comecemos pelos papéis: para além do certificado de vacinação completa com uma vacina reconhecida pela OMS, os visitantes devem apresentar o resultado negativo à COVID (PCR ou antigénio) de um teste realizado, pelo menos, nas 72 horas anteriores ao voo. Devem também preencher um formulário com os contatos válidos nos EUA para facilitar o rastreamento em caso de contágio. Obviamente, o formulário de entrada ESTA continua a ser exigido e, nos casos aplicáveis, a necessidade do visto também permaneceu inalterada. O Certificado Digital Europeu é aceite, mas é recomendado ter uma versão impressa sempre à mão. O Controlo e Prevenção de Doenças Americano (CDC) recomenda ainda que todos os viajantes façam um teste COVID – a seu cargo – entre o 3.º e o 5.º dia após a chegada. Por enquanto, esta é apenas uma recomendação sem caráter obrigatório…um assunto a acompanhar à medida que a situação pandémica se agrava por essa Europa fora.

A paciência, essa, será exigida a vários níveis:

– desde logo, aos passageiros antes da partida para o preenchimento dos vários formulários e realização dos testes a seu cargo e por sua conta e risco; durante o check-in (pelas longas filas de espera consequência da verificação minuciosa que as companhias terão de cumprir – recomenda-se uma antecedência de 3 horas no aeroporto); à chegada aos aeroportos americanos (o Departamento de Segurança Interna prevê que o maior de volume de chegadas de viajantes estrangeiros implique maiores tempos de espera nos postos de entrada) e, por fim, durante a própria estadia (existe uma grande disparidade de regras e de medidas de prevenção de Estado para Estado e elas são constantemente mutáveis de acordo com a situação no momento – ou seja, não valem as regras vigentes no momento da reserva do bilhete mas as regras que vigorem durante a viagem);

– às companhias aéreas. Apesar de toda a euforia, a recuperação vai ser lenta em termos de procura, de tarifa média, de taxas de ocupação e, sobretudo, de performance financeira…por exemplo, quantos destes bilhetes vendidos estarão a ser pagos com os “vouchers” de viagens canceladas anteriormente não havendo por isso qualquer entrada efetiva de dinheiro? Já analisando os dados da Cirium sobre o número de voos entre as duas costas do Atlântico, observa-se que a semana de 8 de novembro de 2021 contou com 1560 partidas entre os EUA e a Europa o que compara com as 2’708 (ou seja, existe uma diferença de mais de 40%) da mesma semana em 2019. Por outro lado, as companhias aéreas (extensível aos operadores de navios de cruzeiro quando deixam desembarcar passageiros em solo Americano) não deverão deixar embarcar nenhum passageiro que não cumpra rigorosamente com os requisitos ou que apresente documentos falsificados, sob pena de incorrerem em pesadas multas. Esta verificação individual para cada passageiro inclui: passaporte, visto ou ESTA, certificado de vacinação e sua validade (ou verificação dos requisitos de isenção, como as crianças entre os 2 e os 17 anos), teste negativo e sua validade (entre 72 horas e 24 horas antes da viagem, dependendo do caso, ou isenção no caso de crianças menores de 2 anos) e declaração de contato. Haja paciência!

Esta reabertura não nos deveria deixar sem capacidade crítica para entendermos as questões que se seguem:

– Como reagirão os Estados Europeus este Inverno à vacinação dos EUA que se situa nos perigosos 70%? Nesta matéria o próprio Departamento de Estado Norte Americano já reagiu e atualizou a 4 de novembro a lista dos países de “nível 4” – que implica a recomendação aos cidadãos americanos de não viajarem para esses territórios – e passa agora a incluir 14 países da União Europeia;

– Como coordenar esta abertura com a validade dos certificados que já se insinua nalguns países e com a lentidão da aplicação da 3.ª dose nalguns mercados?

– E se o viajante europeu testar positivo durante a sua estadia nos Estados Unidos, o que lhe acontecerá? Em termos de negócio, como promover e conciliar os programas “stopover” com a multiplicação de testagens obrigatórias “nas 72 horas antes da partida” que cada escala prolongada pode potencialmente representar?

– O nível invulgar de controlo documental exigido às companhias aéreas – cuja missão e essência da atividade é apenas “transportar em segurança” – sugere a existência de uma perniciosa e indevida transferência de responsabilidades e de competências do Estado para o agente económico. É justo?

Qualquer que seja o motivo da sua próxima viagem para os Estados Unidos, prepare-se porque uma coisa é certa: não será “business as usual”.

Sobre o autorPedro Castro

Pedro Castro

Diretor da SkyExpert Consulting e docente em Gestão Turística no ISCE
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