Repensar o turismo é investir em pessoas
A reunião dos ministros do turismo, durante o World Travel Market London 2022, foi marcada pelo otimismo. Contudo, houve palavras que ficaram marcadas para se ter sucesso no futuro: pessoas, educação, ambiente, sustentabilidade, parcerias, intraligação entre governos, foram algumas.
Victor Jorge
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Na 16.ª sessão da Conferência dos Ministros do Turismo, realizada no decorrer do segundo dia do World Travel Market (WTM) London 2022, em que participou a secretária de Estado do Turismo, Comércio e Serviços (SETCS), Rita Marques, ficou claro que o turismo está de volta, mas, como alertou o secretário-geral da Organização Mundial do Turismo, Zurab Pololikashvili, “o setor terá de adaptar-se a uma nova realidade”.
O responsável pelo organismo que tutela o turismo nas Nações Unidas, adiantou que “estamos perante uma janela de oportunidade, mas que não é permanente” e que há muito trabalho por fazer e que a lista de afazeres e, de facto, muito grande”.
Com uma forte componente do seu discurso focado no emprego e na educação, Pololikashvili começou por referir no seu discurso de abertura que “mais de 50% dos jovens querem ser empreendedores no turismo” e que, por isso, “há que tornar o setor novamente atrativo e captar essa ‘nova gente’”.
Para o secretário-geral da OMT, o cerne do desenvolvimento do turismo está mesmo em “repensar o turismo, investindo em pessoas”, considerando ainda que o negócio tem de ser mais “arrojado”.
Frisando que os benefícios do investimento no turismo não se aplicam somente ao setor, com muitos e outros setores de atividade a aproveitá-los, Pololikashvili afirmou que os ministros do Turismo têm, agora, “um trabalho muito importante a realizar com os restantes ministérios dos respetivos países” e sugerindo aos responsáveis pelas pastas do turismo que “deixem um legado”.
“É preciso ação e não só palavras”, disse, deixando a pergunta se será legítimo e correto “esperarmos voltar aos números pré-pandémicos” e que “impacto terá no nosso ambiente”, numa altura em que se realiza a COP27 no Egito.
Já Julia Simpson, presidente e CEO do World Travel and Tourism Council (WTTC) começou por afirmar que, “o que o turismo mais precisa agora é de liderança”, afirmando que “as parcerias público-privadas (PPP) serão fundamentais para o sucesso que o turismo a nível global possa vir a ter”.
“Estamos num estado empreendedor e isso só será conseguido e possível com estas parcerias”, reforçou, apelando ainda a “decisões racionais”.
Recordando que o setor mundial do turismo perdeu cerca de 62 milhões de empregos e mais de 5 biliões de dólares com a pandemia, lembrou, igualmente, a importância do turismo para a economia global: “1 em cada 10 empregos está no turismo e um em cada 10 dólares do PIB provém do turismo”.
Por isso, admitiu que “temos a obrigação de mostrar o nosso valor e a contribuição que temos na economia de forma global”. Para tal, destacou a importância de dar oportunidades às pessoas que queiram entrar no turismo através de empregos dignos.
Por fim, salientou a importância de melhorar a literacia digital no setor do mundo, já que, “não nos podemos esquecer que o mundo mudou e o turismo e turistas e viajantes mudaram”.
Função social do turismo
Na sua intervenção, Rita Marques destacou a importância da questão social do turismo e no desenvolvimento do setor, bem como a inclusão, considerando-a “fundamental para o sucesso de qualquer estratégia. Temos de ser mais verdes, mais sustentáveis, mas temos de ser, também, mais sociais”, referiu a SETCS.
O aspeto social, naturalmente, não se consegue sem pessoas, recordando Rita Marques que “a Europa está a ficar velha e Portugal está a ficar mais velho”, fazendo referência à necessidade de ir buscar pessoas a outras geografias para colmatar as faltas que existem no país. Aí, Rita Marques salientou as oportunidades que Portugal está a desenvolver com os países lusófonos, destacando as mais de 250 milhões de pessoas no mundo que falam a língua portuguesa.
Destacado pela SETCS foi, também, a nova política de vistos, frisando a “necessidade de formação para que essas pessoas se sintam inclusas”, destacando no final os novos vistos para nómadas digitais lançados recentemente em Portugal.
Na ronda final de um minuto dado a cada responsável do turismo, Rita Marques destacou que, é preciso “valorizar as pessoas, além de formar e pagar mais e melhor, bem como equilibrar a vida profissional com a pessoal”.
Rapidez e educação para “novos tempos”
Nas restantes intervenções, houve tempo para conhecer o número que a Arábia Saudita irá investir no turismo nos próximos 10 anos: 800 mil milhões de dólares. Planeado está um novo aeroporto em Riade para capacidade para 180 milhões de passageiros, referindo o ministro do Turismo da Arábia Saudita, Ahmed Al Khateeb, que todo este investimento tem o ambiente no topo da agenda.
Do lado egípcio, Ahmed Issa, focou a necessidade do turismo ter “raízes”, admitindo que questão “não está na procura”. Num país que precisa de 350 mil quartos, o ministro do turismo do Egito salientou que “o foco está em experienciar o país, mas todo o país e não só os grandes locais”.
Do Barain, a mensagem deixada foi de “unificação dos governos” para melhor repensar o turismo, enquanto o ministro do turismo das Maurícias frisou que “estamos a esquecer-nos muito rapidamente dos impactos da COVID, já que a pandemia foi global e agora estamos a pensar demasiado no local”. Repensar o turismo para Louis Steven Obeegaddo passa por “interligar o Governo. Não faz sentido repensar o turismo sem finanças, sem infra-estruturas, sem transportes, sem saúde, sem economia e sem ambiente”, recorrendo, novamente, à necessidade das PPP para esta estratégia.
O mesmo frisou ainda que, “o turismo foi visto muitas vezes como concorrência entre os destinos. O que a pandemia nos veio ensinar é que temos de trabalhar em conjunto”.
Miguel Torruco, secretário de Estado do Turismo do México, veio recordar a importância do turismo doméstico. “Já nos esquecemos que, quando precisamos de apoio, de ajuda e de turistas, foi do turismo doméstico que veio essa ajuda e apoio. Agora, que os números estão, novamente, em alta, estamos a esquecer-nos dele e apostar as fichar nos mercados internacionais”. Para o responsável mexicano, a palavra-chave para o futuro é “rapidez. Quem não conseguir atuar com rapidez, adaptar as suas políticas e estratégias à constante mudança, terá dificuldades em ter sucesso e acompanhar o ‘novo’ perfil do turista”.
No final, o secretário-geral da Organização Mundial do Turismo, Zurab Pololikashvili, concluiu que, “estamos com dificuldade em repensar o turismo porque este mudou muito rapidamente e não conseguimos acompanhar essa rapidez”.
Para enfrentar esta realidade, Zurab Pololikashvili salientou que “a educação é o mais importante”, deixando a seguinte mensagem: “o turismo é, atualmente, o melhor investimento que existe”.