“Não temos de ‘repensar’ o turismo. Temos de ‘transformar’ o turismo”
Durante dois dias, a sustentabilidade do turismo e das viagens, estará sob debate em Évora. Ao Publituris, Christian Delom, secretário-geral de “A World for Travel”, admite que, no futuro, viajar será “mais caro” e que para acontecer uma transformação, será preciso que “todos avancem no mesmo sentido e ao mesmo tempo”.
Victor Jorge
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O turismo e as viagens foram dos setores ou indústrias mais afetadas pela pandemia. Para acontecer a retoma (para alguns) ou regresso (para outros) à normalidade é preciso, mais do que saber o “quando”, saber o “como”. Nas palavras de Christian Delom, mais do que “repensar”, é preciso “transformar”. Évora será o palco de discussão para a definição do que poderá ser o futuro das viagens e turismo. E fica a certeza: pela vontade da organização, o evento de 2022 será, novamente, em terras alentejanas.
Nos dias 16 e 17 de setembro, Évora será a capital mundial do turismo. Que conclusões gostaria que saíssem desses dois dias de trabalho?
Muitas. Mas o principal objetivo já está conseguido e surge na expectativa, ou melhor, nas expectativas que o evento está a gerar.
Antes da pandemia tínhamos muito “travel bashing” [critica forte ao universo das viagens e turismo protagonizado por Greta Thunberg] e as razões para a sua existência até não eram de todo erradas, porque, sejamos sinceros, o turismo e as viagens têm impacto ambiental, social, económico, laboral. Por isso, o evento serve para criar uma consciência, ou melhor, uma maior consciência sobre os impactos do turismo e das viagens no nosso planeta, realidades para as quais havia pouca predisposição antes da pandemia.
Assim, o nosso primeiro objetivo passava por criar essa consciência e juntar todos os ‘stakeholders’ e fazer com que se aliem na transformação dos padrões existentes. A partir daqui, pretendemos que a indústria assuma compromissos para essa transformação.
A nossa expectativa é que as pessoas, a indústria, os governos, os ‘stakeholders’, as ONG, sejam capazes de assumir compromissos, tal como assumem nas assembleias da ONU.
Mas esperam ter alguma influência política, ou melhor, em decisões políticas?
Sim, claro. Influência ou impacto político, económico e no negócio. A forma como se pensa está a mudar. Estive em Cancun, na reunião do WTTC e no final percebeu-se que, CEO, indústria, governos, ‘stakeholders’, todos têm a consciência que é preciso fazer algo.
Acontece que, muitas das vezes, os profissionais falam entre si, falam para dentro do setor, da indústria, para organizações semelhantes ou seus pares. Ou seja, as companhias aéreas falam com companhias aéreas, a hotelaria fala com a hotelaria, aeroportos com aeroportos. Costumo utilizar o seguinte paralelismo: estão todos na mesma piscina, mas cada um na sua pista, sem olharem para o lado e saber o que se passa.
A solução não está numa única pista, mas na união de todas as pistas, em unir todos na mesma piscina. Porque se um ‘stakeholder’ está a mudar, mas outro não, não vai haver mudança.
O nosso objetivo final é conseguir salvar o planeta e a indústria das viagens e turismo. Tudo ao mesmo tempo. Não um em vez do outro ou um de cada vez, mas todos ao mesmo tempo.
No final existirão cinco compromissos aos quais chamamos “Espírito de Compromisso de Évora” para que exista não só a consciência, mas que estaremos, efetivamente, a andar para a frente e, principalmente, juntos.
Os diferentes impactos da pandemia
Todos sabemos que o turismo e as viagens foram fortemente impactados a partir do início de 2020. Em vez de lhe perguntar “quando” se poderá dar uma retoma, pergunto-lhe “como” acontecerá esse regresso à tão falada “normalidade”?
Bem, para isso terá de ir ao evento [risos]. Mas tem razão, em vez de perguntarmos “quando”, a questão que deve ser colocada é o “como”. O “quando” está, definitivamente relacionado com a realidade da pandemia em todo o mundo. Enquanto todos os países não recuperarem e todas as pessoas estejam vacinadas, não poderemos falar no “quando” e continuaremos a ter problemas.
Uma certeza existe: a forma como as pessoas irão viajar depois da pandemia será diferente. Por isso, teremos de perguntar “como” é que o universo do turismo e viagens irá responder e reagir.
Em minha opinião iremos ter três respostas diferentes dos três diferentes segmentos da indústria das viagens. As viagens de negócios, por exemplo, irão ser muito mais impactadas do que as viagens de lazer. E porquê? Porque na indústria da aviação e mesmo na hotelaria, a rentabilidade é medida pelas receitas das viagens de negócios, muito mais do que pela rentabilidade das viagens de lazer que são, de certa forma, complementares. Por isso, a estratégia das companhias de aviação e dos hotéis está muito mais focada em disponibilizar boas soluções para as viagens de negócios do que para os outros segmentos, ou seja, MICE e viagens de lazer.
Imaginemos que no pós-pandemia, as viagens de negócios registam uma quebra, de 10%, na sua quota de mercado? Esta quebra representará 20 a 30% nas receitas.
Ou seja, as receitas que permitiram, até então, o tipo de preços baixos praticados nas viagens de lazer será impactado. Assim, temo que as viagens de lazer não se mantenham a preços tão baixos.
Isto sem falar que não fomos, ainda, impactados pelas taxas ambientais: Mas pode ter a certeza que esta indústria sofrerá os efeitos dessas taxas. Resumindo, os preços irão subir.
“O evento serve para criar uma consciência, ou melhor, uma maior consciência sobre os impactos do turismo e das viagens no nosso planeta, realidades para as quais havia pouca predisposição antes da pandemia”
Em todos os segmentos: negócios, MICE e lazer?
Sim, em todos os segmentos. Teremos um efeito, digamos, elástico e esse aparecerá de forma rápida, porque no caso das viagens de negócios a decisão para viajar será mais tomada pelos departamentos financeiros e não pelas operações.
Claro que os comerciais continuarão a viajar, mas aquelas pessoas que se deslocavam para fazer gestão de categorias, formação, consultadoria, essas pessoas não viajarão com a mesma frequência.
Portanto, o que estamos a fazer agora (a entrevista foi realizada por via digital) será o futuro para alguns, senão muitos, segmentos da indústria das viagens?
Exatamente. E isso terá um impacto em todo o modelo de negócio. Imaginemos que, no futuro, as companhias aéreas terão nas viagens de lazer o seu grande mercado. As rotas não serão as mesmas. O que será feito dos hubs? Esses foram construídos para as viagens de negócio e não para lazer.
No caso da aviação, vamos ter aviões maiores, mais pequenos, com mais capacidade ou menos capacidade? Quanto à hospitalidade, aos hotéis, será que continuarão a ser construídos no centro das cidades ou mais nos subúrbios? Não se trata do mesmo hotel, do mesmo preço, eventualmente, dos mesmos serviços.
Mas estamos a esquecer-nos de um lado muito importante: o turista, aquele ou aquela que viaja?
Não, não me estou a esquecer. Recordo a transformação que se vive no setor alimentar de há 10 anos para cá. Quem é que há 10 ou 15 anos falava em orgânicos? Agora é possível encontrá-los em todo o lado. Quem é que se preocupava com a produção local? Agora é um “must”.
O que quero dizer com isto é que o mercado, o nosso mundo, muda muito rapidamente e a pandemia veio acelerar tudo.
Estou totalmente convencido que a procura por viagens vai estar mais focada em ter mais divertimento, mais lazer, mais segurança, mais sentido. Vamos passar a perguntar-nos a razão pela qual viajamos, como viajamos, que impacto terei no destino, o que poderei partilhar com a população local, se viajo só para descobrir ou se tenho como preocupação, também, a partilha.
Já li entrevistas em que diz que as pessoas irão viajar menos, mas por mais tempo. Como é que isto vai impactar a indústria das viagens, hotelaria, companhias aéreas, etc.?
Penso que o segmento que menos problemas terá será o alojamento, os hotéis. Até poderá ser benéfico para este segmento, porque sabemos que estadas maiores produzem margens melhores. Portanto, poderão ser boas notícias para a hotelaria.
É sabido que a localização destas ‘city trips,’ que tanto cresceram, eram possíveis porque os hotéis estavam ocupados por parte das viagens de negócios durante a semana, o que possibilitou a disponibilização de quartos e redução nos preços para as viagens de lazer aos fins de semana.
Para o MICE, no entanto, que é chave, esses eventos com milhares e milhares de pessoas vão, igualmente, sofrer mudanças, já que, com um custo bem menor, consegue até ter um alcance bem maior com o digital.
Imagine um evento com 5 ou 10 mil pessoas? Há dias estive a falar com um académico que me admitiu que, antigamente nunca se tinha pensado que um mesmo evento poderá acontecer para um público na Ásia, de manhã, e da parte da tarde para um público nas Américas. Por isso, julgo que o segmento de MICE vai ter alterações profundas no futuro.
Depois temos as viagens de lazer, porque, no fundo, falamos de turismo. Em ocasiões anteriores já tinha referido “menos viagens, estadas mais longas”. Talvez lhe juntasse a proximidade. Julgo que a proximidade regressará, não tanto como antigamente, mas as pessoas irão olhar para destinos mais próximos.
Portanto, menos viagens longas?
Dependerá se consegue pagar esse tipo de viagens. Sabemos que, cada vez mais, as pessoas têm disponibilidade financeira para viajar, principalmente, na Ásia. Mas tudo dependerá da questão económica que o mundo atravessará.
Resumindo, se antes viajávamos por cinco dias ou uma semana, passaremos a viajar por duas semanas. Se antes viajávamos por dois dias, passaremos a viajar por cinco dias ou uma semana. Não se trata de uma revolução, mas sim de uma evolução.
“Vamos passar a perguntar-nos a razão pela qual viajamos, como viajamos, que impacto terei no destino, o que poderei partilhar com a população local, se viajo só para descobrir ou se tenho como preocupação, também, a partilha”
Mudar, não. Transformar!
Admitiu que viajar será mais caro no futuro. Os impactos no ambiente farão com que, quem viajar mais, terá de pagar mais?Penso que as taxas ambientais irão aumentar, não sei lhe dizer em que medida, para que valores, mas tenho a certeza que ficarão mais caras. Quem polui mais terá de pagar mais.
Uma realidade semelhante à que o secretário-geral da ONU, António Guterres, admitia há tempos para a globalidade da indústria: quem poluir mais, terá de pagar mais.
É isso mesmo. Claro que isso dependerá sempre da vontade política e nunca será igual em todos os países, mas tenho a certeza que caminhamos por essa via.
Repare nas resoluções que saíram da Conferência ou Acordo de Paris? De certeza que as resoluções que sairão da COP 26 (26.ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climática, a realizar entre 31 de outubro a 12 de novembro de 2021, em Glasgow) irão apontar nesse sentido. Aliás, não há outro caminho.
A descarbonização irá trazer uma transformação enorme, não só para a indústria das viagens e turismo, mas para tudo: transportes, produção alimentar, mobilidade, energia, etc..
Com a pandemia veio, também, uma máxima que é “repensar o turismo”. O que é que isto quer dizer na verdade?
Não estou a falar de repensar, estou a falar de transformar. Nós não temos de repensar o turismo. Temos de transformar o turismo. São duas coisas completamente diferentes e com resultados e impactos diferentes. Trata-se de transformar a forma como produzimos, de distribuição, comercialização, marketing. Estou a falar de toda a cadeia de valor.
Depois temos a questão laboral. Estamos perante um setor ou uma indústria que deixou de ser, do ponto de vista profissional e de quem trabalha nela, tão promissora como outros setores. Temos de ter mais skills, mais pessoas a ficar na indústria e não pessoas a trabalhar na indústria de forma sazonal.
Agora, utilizando o termo repensar, transformar, evoluir, o objetivo terá de ser sempre o mesmo: ter pessoas a viajar!
Precisamos que as pessoas viajem, porque se não viajarem ou não tiverem possibilidades de e para viajar, falhamos.
“Estamos perante um setor ou uma indústria que deixou de ser, do ponto de vista profissional e de quem trabalha nela, tão promissora como outros setores”
Mas apontou um fator fundamental: as pessoas. Não as pessoas que viajam, mas as pessoas que trabalham na indústria do turismo e viagens. Durante este período da pandemia, milhões saíram, foram despedidas, não quiseram mais manter-se neste setor por não ser promissor, como disse, ou porque, entretanto, descobriram outros empregos mais atrativos. Será que quem saiu voltará ou será preciso (re)pensar em formar novas pessoas e de forma diferente?
Certamente. As condições de trabalho dadas pela indústria das viagens e turismo terão de ser, claramente, diferentes e melhoradas, porque todos sabemos que se trata de um trabalho duro para um rendimento muito baixo. E, na maioria dos casos, nem se trata de emprego estável, é sazonal. Por isso, também aqui teremos de ter mais e melhor sustentabilidade.
Outra questão que terá de ser analisada é a existência de planos de carreira para quem pretenda entrar neste universo. Teremos de repensar, ou melhor, transformar esta questão, de modo a chamar pessoas para esta indústria, mas dando-lhe, à partida, um plano de carreira, algo que possam seguir e com futuro.
Mas há ainda outro pormenor a ter de ser pensado: como integrar a comunidade local, a população local? Em certos e determinados países, sabemos que são os nacionais a gerir o negócio, mas há regiões onde são pessoas de outros países que fazem esta gestão. Portanto, vamos deixar que pessoas de outros países, de outras nacionalidades façam a gestão da indústria no nosso país, na nossa região, na nossa localidade? Hoje em dia, esta questão além de não ser justa, já não é aceite.
Quando referimos que a população local não aceita o turismo, não se trata somente do turista, mas de todas as pessoas que vêm de fora, sem trazer qualquer benefício para a população local. Não há um reflexo no rendimento das pessoas locais.
Portanto, neste ponto, falamos em sustentabilidade, mas laboral, social?
Sim, é outra forma de sustentabilidade. Quando falamos de sustentabilidade, falamos de sustentabilidade como um todo. Essa sustentabilidade laboral é essencial para a comunidade e, muitas vezes, o facto de se trazer pessoas de fora é vista de forma negativa e é rejeitada.
As questões relacionadas com a inclusão, a importância das mulheres na e para a indústria, tudo isso traz outras e novas perspetivas sobre e para a indústria que devem ser aproveitadas.
Sabe, o que me impressionou quando estávamos a organizar este evento, foi o facto de nunca antes termos vivido uma situação como esta, com tantas mudanças a acontecerem em tão pouco tempo.
Portanto, esta também é uma questão fundamental: como reagir rapidamente e sem fazer colapsar a questão económica e financeira não só da indústria, mas globalmente.
Mas quem julga que vai repensar, mudar, transformar-se mais rapidamente: a indústria ou o turista/viajante?
Ou os governos ou as ONG? Mas as ONG, por vezes, querem transformações demasiado rápidas e os governos querem e anunciam transformações, mas são demasiado lentos.
Sinceramente, não lhe consigo dar uma resposta. O que penso é que não quereremos que uma parte avance demasiado rápido em relação a outra. Ou seja, o avanço, as transformações terão de acontecer de forma harmoniosa, paralela. De que nos servirá se um setor ou uma indústria avance muito rapidamente, se depois não é acompanhada por todas as outras?
Se as companhias aéreas conseguirem oferecer uma solução mais amiga do ambiente, com menos emissões de carbono e todas as outras componentes da indústria das viagens e turismo não fizerem o mesmo esforço, não resultará.
O mesmo acontece com a hotelaria, com a restauração, com as agências, a distribuição, os cruzeiros. Se um avançar sem o outro ou outros, muito dificilmente teremos impactos positivos.
A população mais jovem julga, neste momento, que não estamos a dar as repostas certas no tempo certo e ao nível do que esperam.
Repare, o modelo de negócio que gere esta indústria desde o início, ou seja, há décadas, assenta no seguinte: diminuir custos para diminuir preços. Para ter preços mais baixos, naturalmente, que terá de “industrializar” os processos e ter as pessoas ao mesmo tempo no mesmo local. Este não será o padrão do modelo de negócios do turismo e das viagens para e no futuro.
Mas, em sua opinião, todas as regiões conseguirão efetuar esta transformação ao mesmo tempo?
Não. Penso que a responsabilidade dos países desenvolvidos é maior. Os outros, os menos desenvolvidos, terá, naturalmente, que avançar, mas não possuem a capacidade dos países mais desenvolvidos.
Sabe, metade do mercado do turismo “inbound” e “outbound” está na Europa. Se a Europa não mudar, quem somos nós para exigir mudanças aos outros?
Ou seja, esta transformação terá de ser liderada pela Europa e pela América do Norte?
Sim, terá de ser liderada pelos grandes. E não nos podemos esquecer que um dos maiores, atualmente, é a China.
Mas os grandes têm a obrigação de vigiar os mais pequenos e ajudá-los.
“As condições de trabalho dadas pela indústria das viagens e turismo terão de ser, claramente, diferentes e melhoradas, porque todos sabemos que se trata de um trabalho duro para um rendimento muito baixo”
Mas na indústria, quem está à frente dos grandes grupos nos mais diversos segmentos e empresas, consegue ver e tomar decisões que impactem o futuro a 20 ou 25 anos?
Sabe, tudo muda. Por exemplo, os fundos de investimento querem mudanças. Até porque, na maior parte o investimento não é feito a curto prazo, mas sim a médio e longo prazo, a 15, 20 ou mais anos. Ou seja, muitas vezes, esses investimentos têm um timing muito maior do que certos CEO que estão nos respetivos lugares.
Tenho falado com alguns ‘stakeholders’ destes fundos e o que eles me dizem é que querem saber o que está a acontecer, de modo a não cometer erros nos investimentos que fazem.
Isto deixa-me um pouco mais confortável e se conseguirmos antever que o mundo muda, as pessoas mudam, as exigências, a procura e a oferta mudam, então, estes fundos serão mais exigentes.
Por isso, volto a dizer, nós precisamos de todos, dos que pensam, dos que agem, que legislam, que regulam e, naturalmente, dos que consomem.
No final do evento vão apresentar um plano de ação com compromissos que todos deverão seguir. Esse plano já está fechado ou será discutido em Évora?
Não, não está fechado e será alvo de debate e discussão em Évora. Mas para conhecer esses compromissos terá de ir a Évora [risos].
Já falámos de sustentabilidade, na urgência de repensar ou transformar a forma como se viaja e se faz turismo. Contudo, há quem refira que a indústria das viagens e turismo também terá de mudar sob influência da digitalização. Já disse que a indústria do MICE será diferente no futuro, fruto desta maior vertente tecnológica. Portanto, que impacto terá a digitalização na indústria?
Terá uma influência enorme. Porquê? Se quisermos diminuir o desperdício, os dados ajudarão as pessoas a produzir, viajar, viver de forma mais sustentável.
Já temos os “smart destinations”, as “smart cities”. Por isso, isto será, com toda a certeza, uma forma de integrar a tecnologia na produção. E o que é mais importante é que conseguiremos “guiar” e tomar decisões ao mesmo tempo que o consumidor está a consumir. Ou seja, produzir à medida e não produzir para desperdiçar.
Também sabemos que este será um mercado cada vez mais B2C e menos B2B, que as plataformas vieram preencher e assumir um papel relevante. Temos as Airbnb, as Bookings, a própria Google e outras que estão a fazer parte desta mudança.
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Portanto, respondendo à sua pergunta, sim, a tecnologia tem e terá um grande impacto.
Além disso, a tecnologia ou a digitalização traz maior transparência. Ou seja, o consumidor sabe, na hora, o efeito do que está a fazer, do que pretende, do que planeia. E essa medição pode levar a mudanças, a transferências, já que poderá estar a ver que o impacto que poderá vir a ter não é do seu interesse, não só para o destino como também pessoalmente.
A importância da tecnologia e da digitalização está, aliás, espelhada no evento com uma sessão dedicada ao tema: “Better Than Good Enough Technology”
E o que se seguirá ao evento de Évora? O “A World for Travel” não se esgotará neste evento, certo?
Depois deste evento, haverá, com toda a certeza, um evento em 2022.
E onde será esse evento em 2022?
Se conseguíssemos ficar em Évora seria simpático.
Quer dizer que ainda não está decidido?
Não, isso dependerá dos nossos parceiros. Mas seria simpático continuar em Évora.
Mas entre esses dois eventos, iremos analisar e verificar o que os diversos ‘stakeholders’ irão fazer relativamente aos compromissos assumidos em Évora.