“A sustentabilidade é o único caminho nesta recuperação”
A Rede Europeia de Turismo Sustentável debateu, esta quarta-feira, alguns desafios que se impõem à implementação de boas práticas sustentáveis no setor.
Raquel Relvas Neto
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A sustentabilidade ganhou um novo ênfase com a pandemia e foi definida como o caminho prioritário para a recuperação da indústria turística, que se tem debatido diariamente nas várias instâncias responsáveis. A própria presidência portuguesa da União Europeia estabeleceu que esta é a oportunidade de se contruir um modelo sustentável do turismo europeu. A secretária de Estado do Turismo portuguesa, Rita Marques, recentemente frisou que “temos uma oportunidade única para recuperar e reconstruir o ecossistema do turismo na Europa” com base na transição verde e digital.
Este objetivo levanta várias questões, como o combate às alterações climáticas, à redução da perda de biodiversidade, do fomento da economia circular, da coesão territorial ou na relação harmoniosa com as comunidades residentes. Foi com esse propósito que a Rede Europeia de Turismo Sustentável (European Network for Sustainable Travel), recentemente criada, promoveu uma conferência online com especialistas europeus para debater e trazer vários ‘inputs’ para este objetivo.
Teresa Ferreira, do Turismo de Portugal, destacou que este é “um momento importante para termos no nosso ‘mindset’ em como a sustentabilidade é o único caminho nesta recuperação”, considerando que deve ser “a nova norma” de todas as partes envolvidas no turismo. “Se queremos trabalhar num planeta melhor, temos de trabalhar num turismo melhor”, sublinhou, fazendo referência aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável definidos pela ONU que integram a base do recém-lançado Plano do Desenvolvimento Sustentável 20/23 do Turismo de Portugal. A responsável, que falava acerca do exemplo português na área da sustentabilidade, afirmou que este plano “ajuda-nos a estarmos mais focados na sustentabilidade e identifica as ações e projetos que vão ajudar a atingir os nossos objetivos mais rápido”. Reduzir a pegada turística, ir ao encontro das expectativas dos consumidores e aumentar a eficiência do negócio turístico são os pilares que norteiam este plano que conta já com 100 atividades a implementar até 2023.
Teresa Ferreira identificou a dificuldade de tornar o turismo mais sustentável, devido à transversalidade de que é inerente. “É importante ter as ferramentas certas e fomentar a cooperação entre sectores, que por vezes não é fácil”, refere.
Outra das dificuldades tem a ver com a articulação das políticas europeias com as nacionais, que se têm de adaptar. “Todos os níveis – europeu, nacional, regional e local – têm de trabalhar em conjunto, cada entidade tem as suas regras, mas têm de estar conectadas e articuladas. Todos estes níveis têm de fazer o seu caminho”, defendeu a representante do Turismo de Portugal, concluindo ainda a importância e necessidade de “trazer o turismo para as diferentes agendas” reflexo da sua transversalidade.
Por sua vez, a eurodeputada, Cláudia Monteiro de Aguiar, considerou que se a Europa quer cumprir os objetivos do ‘Green Deal’ é necessário “promover instrumentos financeiros para as empresas fazerem esta transição. Temos de criar condições para isso, não é apenas criar taxas para pararem a forma como estão a fazer”. E acrescentou: “Se pudermos ter mais apoio financeiro aos Estados-membros, talvez o Turismo de Portugal possa ter outra oportunidade para ajudar melhor estes projetos de sustentabilidade.” A eurodeputada aludiu ainda ao facto do Turismo não estar contemplado nos Planos de Resiliência e Recuperação dos Estados-membros com apoios financeiros diretos.
A par dos instrumentos financeiros, a eurodeputada apontou ainda para a lacuna que existe a nível europeu em métricas qualitativas e quantitativas. “Os stakeholders precisam de argumentos, métricas, dados quantitativos. São fundamentais nos dias de hoje. Se tiver dados num projeto local pode-se descobrir como localmente o governo pode apoiar”, frisou, exortando a importância que as métricas e dados têm para os decisores políticos e económicos melhor ajudarem na adaptação das regras e instrumentos.