Publituris despede-se do seu mais antigo colaborador
Reconhecido apaixonado pelo mar, ensino e jornalismo, Humberto Ferreira faleceu, esta terça-feira, 10 de novembro de 2020, em Lisboa, aos 88 anos.
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É com profundo pesar que o Publituris se despede do seu mais antigo colaborador e um reconhecido apaixonado pelo mar, ensino e jornalismo, Humberto Ferreira, que faleceu, esta terça-feira, 10 de novembro de 2020, em Lisboa, aos 88 anos.
Em 2017, convidado da rubrica Conversas à Mesa, o Humberto, como carinhosamente gostava de ser tratado, sem formalismos de senhor, revelava-nos que teve sorte na vida, pois “sempre fiz o que gostei”:
“Humberto Ferreira é colaborador do Publituris há 46 anos, quase tantos quantos tem o jornal, que comemora este mês o seu 49º aniversário. Aos 86 anos, assina todas as quinzenas a coluna Turiscópio, à excepção desta edição, onde é a figura central do Conversas à Mesa.
Relações Públicas, jornalista, professor e director, tantas vidas numa só vida feita de conhecimento e partilha. Nasceu em Lisboa em 1931. O pai, oficial da Marinha, separou-se e foi para Inglaterra, deixando Humberto Ferreira entregue às tias paternas. Mas por pouco tempo. Casado com uma inglesa, o pai regressou a Portugal. Ele, as tias e a mãe inglesa, como o próprio conta, chegaram a viver em Cabeço de Montachique, zona rural às portas de Lisboa. Teve duas irmãs que morreram ainda pequenas. Da infância recorda Cabeço de Montachique, e de regressar a Lisboa, para viver no Bairro América, entre Santa Apolónia e a Graça. Fez a escola primária no Campo de Santa Clara e depois foi estudar para o liceu Gil Vicente.
Terminado o liceu foi para Glasgow, na Escócia, onde o pai foi destacado novamente para uma missão. Tinha o sonho de seguir as pisadas do pai e ser oficial da marinha. Quem não gostou da ideia foi o próprio pai, que sabia ser uma vida difícil por significar muitas vezes estar longe da família.
Acabou por ir estudar Arquitectura Naval, em Glasgow. “Na altura era a segunda cidade do Reino Unido, com quase três milhões de habitantes e tinha 47 estaleiros de construção naval, a universidade era muito conhecida por esta indústria”, recorda.O curso durou quatro anos e foram “dos melhores anos da minha vida”. Estava com mais cinco portugueses. Ele foi o único que não casou lá.
Quando terminou os estudos, regressou a Portugal. O pai arranjou-lhe um emprego no antigo estaleiro da Argibay. “Estive nove meses no estaleiro, durante os quais antevi que Portugal não tinha condições para desenvolver a indústria de construção naval”. Desistiu e arranjou um emprego, em Outubro de 1955, na Agência de Navegação Pinto Basto, que só viria a deixar em Setembro de 1974, para abraçar então uma nova profissão como jornalista.
Na Pinto Basto, tratava dos navios de passageiro que chegassem a Lisboa. “Íamos a bordo, fazíamos o embarque e o desembarque de passageiros, falávamos com o comandante, e éramos Relações Públicas”, conta.
Quando em 1968, o Publituris foi fundado por Nuno Rocha e Belmiro Santos, já Humberto Ferreira fazia parte da equipa de comunicação da Pinto Basto. “Quando eles lançaram o jornal, uma das pessoas com quem falaram foi comigo em 1968. Nessa altura, já era casado, tinha uma filha e dava aulas no ISLA, ao mesmo tempo que trabalhava na Pinto Bastos. Convidaram-me para escrever no Publituris. Recusei por não ter tempo, mas passados dois anos, em 1970 aceitei colaborar”.
Carreira de jornalista
Nascido no Porto, o fundador do Publituris Nuno Rocha veio para Lisboa com a missão de abrir a delegação do jornal Norte Desportivo, que passou depois a ser a sede do Publituris, na Rua Marquês Saldanha, no Largo do Calhariz. “O Nuno Rocha era um indivíduo extraordinário. Depois de fundar o Publituris, começou a sonhar, a sonhar e quis fundar um semanário, o Tempo, que fez sombra ao Expresso”.
Nuno Rocha fundou o semanário Tempo em Maio de 1975 com outros dois sócios, um deles foi Vera Lagoa (que em 1976 fundou “O Diabo” e em 1979 o “Correio da Manhã”, juntamente com Vítor Direito). “O Nuno Rocha disse-me para ser chefe de redacção”, recorda. Humberto Ferreira aceitou o convite e foi chefe de redacção adjunto e também administrador entre 1975 a 1981, altura em que deixou o projecto.
Nesse período, manteve a colaboração com Publituris, mas pouco, já que a administração do semanário tomava-lhe muito tempo. No Publituris, ficou Belmiro Santos, “um tipo extraordinário e dedicado”, elogia.
Depois de deixar o semanário abraçou outro projecto, o jornal vespertino A Tarde, na Rua Marechal Saldanha também. Chegou a director da publicação e nunca deixou de colaborar com o Publituris. “As duas redacções estavam perto uma da outra. Quando saí do jornal, passava pelo Publituris todos os dias”.
Reformou-se oficialmente do ISLA em 1998, mas continuou a trabalhar no Publituris. Escrevia sobre aviação e sobre cruzeiros, conhecia quase todos os presidentes das companhias de aviação. “O Belmiro ao princípio não gostava de navios, então sempre que surgia um cruzeiro, dizia-me: Humberto está aqui um cruzeiro”. Criou amizades no Turismo: “O Mendes Leal era um dos amigos antigos, conheci-o na TAP, ele foi funcionário da TAP no aeroporto, depois é chegou a director de hotéis”.
Quando em 1999, o Publituris foi comprado, Belmiro Santos retirou-se, mas Humberto Ferreira manteve-se na equipa.
Família
Casou-se em 1957, com a filha de um colega do pai. Um ano depois nasceu a única filha do casal. Tem dois netos e duas bisnetas. Passou a fazer férias sempre em Sagres, de onde é originária a família da mulher. “Até os netos e as duas bisnetas adoram Sagres”, apesar do clima agreste. A neta Leonor é única que trabalha no Turismo, é events coordinator no Lisboa Marriott Hotel.
“A vela foi uma paixão, apesar de não ter praticado durante muito tempo. Comecei cedo, depois casei-me, mas arranjava sempre tempo para a Vala. Morava em Algés nessa altura e ia fazer Vela com amigos. Um dia, num Domingo, estava a chegar a Belém, vejo a minha mulher e a minha filha com três anos à minha espera. Chego todo molhado e digo assim: isto é que é uma vida, em vez de andar a passear ao domingo com a minha filha ando aqui”. Deixou a vela e passou a passear todos os Domingos com a filha. “Sou muito amigo do Carlos Pitta, ele tem um iate, e às vezes vou com ele”, conta.
Todos os dias Humberto Ferreira “perde duas a três horas no computador”, a pesquisar sobre turismo. “Não perco, ganho”, afirma. “Recebo muita formação, de maneira que é relativamente fácil e gosto. Sempre gostei daquilo que fiz. E assim, não custa nada fazer isto. Tive sorte, sempre fiz aquilo que gostei, sempre consegui alcançar lugares de destaque. Tenho tido uma sorte levada da breca. Fui para o ISLA, cheguei a director, fui para o Jornal Tarde, cheguei a director. Também tenho tido sorte com os amigos, sou uma pessoa conciliadora, não gosto de zaragatas e de zangas. Claro que também não gosto que me pisem os calos” confessa”.
O velório realiza-se esta quarta-feira, na Igreja de Nossa Senhora do Amparo, em Benfica, e o funeral na quinta-feira de manhã.
À sua filha e restante família assim como aos muitos amigos de longa data que partilharam inúmeras viagens, o Publituris expressa as suas condolências.
“Especial 48º Aniversário: A minha paixão pelo Publituris“, por Humberto Ferreira.