“Estávamos tão embevecidos com a grandiosidade dos nossos números, que esquecemo-nos que lá fora há um mundo real e concorrência”
Eliseu Correia, proprietário da DMC EC Travel, especialista no Algarve e na Madeira, é peremptório ao afirmar que a exclusão de Portugal da lista dos 65 países seguros para o mercado britânico é responsabilidade apenas de Portugal e não da análise aos nossos números pelos britânicos ou da concorrência de outros destinos.
Raquel Relvas Neto
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A 27 de julho, o Reino Unido vai realizar uma reavaliação da lista de países isentos de quarentena nas chegadas ao Reino Unido, da qual Portugal foi excluído devido aos surtos de covid-19. Mesmo que Portugal seja incluído na nova lista, o impacto negativo que esta exclusão tem no turismo nacional é já “devastador”.
Para Eliseu Correia, fundador e proprietário da EC Travel, DMC especialista no Algarve e na Madeira, a exclusão da primeira lista de 65 países afeta sobretudo a imagem de Portugal como destino seguro, tendo sido “altamente afectada”.
Quanto às previsões de recuperar algum mercado britânico após o novo anúncio, o responsável considera que Portugal já só deverá conseguir “migalhas” do bolo de turistas britânicos que vão viajar este verão. “Se alguém julga que no dia 4 ou 5 de agosto ainda vai ter uma avalanche de clientes para setembro ou outubro ou para o próprio mês de agosto, pode esquecer isso, porque quando chegar a nossa vez de ir ao bolo só vão haver migalhas”. Como explicou o responsável ao Publituris, os destinos concorrentes, como Espanha, Itália e até a Grécia, que só vai abrir aos turistas britânicos a partir de 15 de julho, “vão obviamente deixar muito pouco do que sobra daquilo que são os potenciais clientes do mercado britânico para viajar”.
Para o empresário de Turismo, esta situação é única e exclusivamente responsabilidade da gestão que Portugal fez nos últimos dias. “Nos últimos 15 dias antes do anúncio do Reino Unido, todas as notícias, todos os indicadores que tínhamos a nível nacional foram todos negativos e ninguém teve a capacidade diplomática nem intelectual de inverter esse processo”. Eliseu Correia considera que esta situação não se deve à estratégia dos espanhóis, italianos ou gregos, mas sim “à completa apatia e incapacidade de quem comanda de resolver os problemas e salvaguardar os interesses do nosso país”. “Estávamos tão embevecidos com a grandiosidade dos nossos números Covid e com o óptimo trabalho que estávamos supostamente a fazer e esquecemo-nos que lá fora há um mundo real e há concorrência”, remata.
Quanto às soluções para colmatar a lacuna de turistas britânicos no destino, o responsável aponta o dedo às “ligações aéreas miseráveis”, sobretudo desde o Algarve, que existem para o mercado alemão, que poderia atenuar esta ausência. Eliseu Correia dá ainda como exemplo a estratégia adotada pela Grécia, país que só admite passageiros britânicos a partir de meados do mês. “Os gregos têm ligações privilegiadas com a Alemanha e deram toda a prioridade ao mercado alemão, sabendo que este não convive bem com o mercado britânico. Assim, abriram eles próprios um corredor de segurança para o mercado germânico até dia 15 para os deixar à vontade e para estes dizerem quão seguro é a Grécia. Só depois vão abrir uma segunda fase aos britânicos, quando as coisas já tiverem equilibradas da parte deles”.
No que diz respeito ao mercado nacional, o responsável da EC Travel realça que este sempre foi um mercado importante para o Algarve. Contudo, além de existirem muitas unidades hoteleiras que “não têm tradição no mercado nacional”, há muitos portugueses que não vão sequer conseguir fazer férias este ano, seja porque já as utilizaram na altura do confinamento, seja porque estão desempregados ou as suas empresas faliram. “Este ano não vamos ter mais portugueses a fazerem férias em Portugal, porque uma grande fatia dos portugueses não vai ter condições nem económicas nem sociais para o fazer.”
Assumir a importância do Turismo
Esta situação com o mercado britânico vem agravar o estado das empresas turísticas que tinham depositado esperanças na abertura de um corredor de segurança para o mercado britânico. “Era a última esperança que tínhamos de recuperar alguma normalidade”.
Para o responsável, chegou o momento de se olhar para o Turismo “com pragmatismo e não com hipocrisia e falsas promessas”. E a melhor forma para “demonstrar que têm alguma consideração por esta área e que acreditam nela, é rapidamente arranjarem investimentos, fundos a fundo perdido para as empresas sobreviverem”, indica, salientando que a atual situação vai levar ao encerramento de “dezenas, se não forem centenas, de empresas até ao fim do ano”.
“Como profissional de Turismo, e julgo que posso falar pelos meus colegas, estamos fartos de receber os louros de que somos muito bons para a economia, mas quando estamos na mó de baixo ninguém nos dá a mão seja pelo que for”.
Ao Publituris, Eliseu Correia apontou ainda para a necessidade de se reabrirem os bares e discotecas. “O que é preferível: termos bares e discotecas abertos devidamente controlados, higienizados, preparados, aprovados e legalizados, ou é preferível termos festas ilegais em bombas de gasolina, em vivendas seja onde for? Devíamos pensar nisso.”
O responsável da DMC salienta que a animação noturna tem a sua relevância num destino turístico e que os últimos acontecimentos que se têm verificado no destino, como as festas ilegais ou o descontrolo de turistas em festa nas ruas algarvias, não contribuem positivamente para a imagem de destino seguro que o país quer transmitir.