Secretários de Estado do Turismo de diferentes governos debatem futuro do Turismo
Um plano especial para o Turismo, digitalização, alteração de políticas de comunicação do destino e reforço de apoios às empresas turísticas foram algumas das conclusões do webinar promovido pela ESHTE.
Raquel Relvas Neto
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São raras as vezes que se juntam vários ex-secretários de Estado do Turismo de diferentes Governos Constitucionais com a atual secretária de Estado do Turismo para debater o futuro de uma das principais atividades económicas de Portugal. A atual situação provocada pela pandemia da COVID-19 foi justificação suficiente para que a Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril (ESHTE) juntasse sete dos últimos secretários de Estado do Turismo no webinar com o tema “COVID/19 e turismo: e daqui em diante?”
O objetivo foi tentar traçar linhas de atuação para atenuar os efeitos que a situação pandémica está a ter no Turismo e também para ajudar a preservar e retomar a atividade turística no país. Foram várias as ideias identificadas como a criação de um plano especial para o Turismo, a aposta na digitalização, a alteração da política de comunicação do destino, a manutenção do apoio ao setor privado, entre outras.
Licínio Cunha, secretário de Estado do Turismo entre 1978/1979 e 1985/1991, ressalvou que “não é possível fazer previsões quanto à retoma turística”, mas tal não deixa de atenuar a importância de lançar um Plano de Recuperação e de Reorientação do Turismo, com início em janeiro do próximo ano e com o horizonte temporal de 2030, baseado em dois sub-planos. E explicou: com a duração de dois ou três anos, o primeiro sub-plano teria como objetivos a reestruturação das empresas turísticas, a generalização da implementação de sistemas de controlo de doenças contagiosas, a recuperação da procura turística; a aceleração da digitalização, a promoção de projetos inovadores em detrimento do crescimento da oferta sobretudo em zonas costeiras. Quanto ao segundo sub-plano, os objetivos gerais, defende Licínio Cunha, passam pela promoção de produtos de maior valor acrescentado, melhor aproveitamento do turismo para uma maior diversificação da economia, o apoio ao desenvolvimento regional pelo incentivo, por exemplo, à criação de redes de recuperação e de turismo comunitário, a dinamização da criação de programas de apoio à redução da pobreza e à melhor distribuição da riqueza; o fortalecimento da competitividade das empresas e dos destinos; e a adaptação às previstas transformações tecnológicas.
No entanto, realçou ainda o responsável, “para o sucesso de qualquer plano que se venha a definir” existem condições que devem ser garantidas como o facto de as “estratégias de desenvolvimento da economia nacional têm de integrar o Turismo a fim de promovê-lo no desenvolvimento das atividades que ele dinamiza e fortalece”, mas também a permanente monitorização de qualquer programa que venha a ser definido e estabelecido.
Já Alexandre Relvas, secretário de Estado do Turismo entre 1991-1995, destacou a importância da formação dos trabalhadores do turismo para a adaptação “ao novo ambiente e exigências do setor”. Para o responsável, torna-se também uma “prioridade” a capacidade de transmitir aos mercados emissores a imagem de destino seguro de Portugal. “É importante manter os apoios financeiros e lay off para as empresas do setor, Portugal tem uma capacidade instalada do setor que não pode ser perdida”, identificou Relvas. Entre as mudanças estruturais que o Turismo vai enfrentar e que vão ser alvo de investimento estão, segundo Alexandre Relvas, a digitalização; e a saúde e segurança. “Estas duas áreas vão exigir investimentos em equipamentos e vai ser absolutamente necessário fortes investimentos em termos de formação de pessoal”, justificou. A redução dos custos das estruturas das empresas também foi uma das ações identificadas pelo responsável, mas no campo do setor privado.
Para Vítor Neto, SET entre 1995 e 2002, que apela a uma maior defesa “da importância do Turismo na economia”, a comunicação do destino Portugal de forma integrada é premente. Para o responsável, é essencial ter “uma estratégia global do país”, comunicá-la, mas apresentando ao mesmo tempo a “diversificação dos nossos territórios”.
Enquanto Luís Correia da Silva (SET 2003/2004) alertou para uma retoma do Turismo “lenta e mais arrastada no tempo do que o previsto”, Bernardo Trindade (SET entre 2005/2011) advertiu que a retoma depende essencialmente do transporte aéreo que, por si só, vai ser alvo de uma profunda reestruturação, existindo assim menos aviões e rotas mas um aumento da concorrência entre destinos. Contudo, Bernardo Trindade considera que a forma como Portugal geriu a situação pandémica, coloca o destino num “bom ponto de partida”.
Secretário de Estado do Turismo entre 2013/2015, Adolfo Mesquita Nunes realçou que o turismo é “um setor extraordinário que merece uma atenção extraordinária por parte das políticas públicas”, não apenas pelos prejuízos económicos mas pelas implicações que “a sua paragem por mais tempo do que o normal” tem ao nível social, provocando “efeitos sociais graves”. Admitindo que é “ainda muito cedo para saber com que linhas o setor do turismo se vai coser”, Mesquita Nunes considera que estando o essencial do destino turístico preservado, é necessário preservar o setor privado. É neste sentido que defende ajudas especiais e personalizadas às empresas turísticas. A par disto, defende também a organização e alteração das políticas de comunicação do destino, não deixando, no entanto, de elogiar as recentes campanhas lançadas pelo Turismo de Portugal.
Por fim, Rita Marques, atual SET, destacou a “coerência em relação ao turismo” que existiu nos últimos anos e governos, que assumiram “um compromisso público” perante o setor que resultou também numa cooperação intrínseca ao setor turístico, “uma pedra angular” que vai manter-se nestes novos tempos. Contudo, sublinhou, a palavra de ordem agora é “confiança”, que tem sido sustentada pelos reconhecimentos internacionais que Portugal tem obtido, como o facto de ter sido o primeiro país a receber o selo de Safe Travel da WTTC. Além da confiança, a responsável afirmou que o setor privado deve criar uma nova proposta de valor na sua oferta aos turistas, dando como exemplo a flexibilidade ao nível das reservas e de pagamento por parte dos clientes, que ganham especial importância nestes tempos de incerteza. “Uma das coisas que aprendemos com esta pandemia, é que o turista precisa de ter do lado do operador económico uma grandíssima flexibilidade no momento de reserva e de pagamento. Esta flexibilidade vai ter que existir e pode ser que se dê o caso de ser uma proposta de valor. Aí instigava todos os operadores económicos a seguir esta política, garantindo aqui uma boa gestão deste clima de incerteza que vai continuar a pairar enquanto não houver uma vacina”.