Que futuro para o MICE?
Portugal tem ganho notoriedade a receber e organizar congressos e convenções, mas antes da pandemia já muitos desafios se impunham ao segmento turístico que agora se acentuam.
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Portugal alcançou o top 10 dos destinos mundiais que mais recebe e organiza congressos e convenções, tendo subido uma posição desde o ano passado e mantendo o sétimo lugar a nível europeu, de acordo com o relatório da Associação Internacional de Congressos e Incentivos (ICCA) relativo a 2019, revelado este mês de maio. No ranking das cidades, Lisboa e Cascais também subiram no ano passado.
Depois de ultrapassar destinos como Berlim, Viena, Singapura ou Madrid, sendo apenas superada por Paris, que lidera o ranking, a capital portuguesa subiu para segundo lugar mundial e europeu e Cascais passou a ocupar a posição 150 mundial (180 em 2018) e 77 a nível europeu (92 em 2018).
Apesar destes bons resultados, o país podia ser ainda mais atrativo para a captação de congressos, eventos e convenções. A própria Associação de Turismo de Lisboa considera que para o destino ser mais competitivo, é “crucial que possam ser tomadas medidas que assegurem a competitividade do turismo da região de Lisboa, um setor com elevado impacto socioeconómico”, sugerindo, nomeadamente, que “o IVA deste produto turístico fosse dedutível, tal como já o é em Espanha”.
A dedução do IVA no MICE é já uma reivindicação antiga feita pelos profissionais do setor e que agora têm um desafio acrescido, pois as previsões apontam que as convenções, eventos e congressos vão ser dos últimos segmentos a recuperar das consequências económicas desta crise pandémica. Os mais optimistas apontam o segundo semestre de 2021 e, até mesmo 2022 como os anos de retoma de uma normalidade neste segmento que tem um forte impacto económico nos destinos que o recebem.
Operação
Com o segmento totalmente parado, Rui Calapez, CEO da Buzz DMC, refere que apesar de alguns reagendamentos para o segundo semestre deste ano, 2020 é já um ano perdido.
“Pela perspetiva, 2021 poderá ser um ano em que poderemos recuperar da pancada de 2020. Anima-nos, no entanto, que tanto em Portugal como Espanha, ainda vão surgindo pedidos regularmente, todos para 2021”, aponta. Para o responsável, “o M&I é o espelho da saúde da economia” e se a economia global teme uma retracção de quase 18%, isto “terá óbvio impacto no segmento”. Dentro dos Meetings & Incentives, Rui Calapez considera que serão os ‘meetings’ a verificar uma retoma mais rápida mas, sublinha, “a utilização maior e recorrente de meios virtuais será, acredito, uma constante nos novos programas”, ou seja, as reuniões físicas vão ficar resumidas aos organizadores, quanto aos restantes a participação será via online ou em pequenos grupos. “Não nos podemos esquecer das próprias questões físicas dos espaços de reunião, idealizados para determinada ocupação que, e pelo menos enquanto o pânico continuar e/ou surgimento de vacina ou cura não surgir, será acrescido desafio”, aponta. Quanto aos Incentivos, Rui Calapez acredita que o próprio conceito vá sofrer alterações, concretamente a redução do tamanho dos grupos.
“Estou convencido que este segmento será o que mais vai sofrer. Incentivos como ferramenta de promoção duma empresa, enquanto esta não tiver lambido as feridas, vão tardar”.
Por sua vez, João Paulo Oliveira, founder & managing partner da Leading, explica que, como qualquer crise, também esta obriga a que as empresas “se reinventem, porque o mercado e os clientes também aprendem a ver as coisas de outra perspetiva”.
No que toca à Leading, esta crise veio “acelerar opções que tínhamos pensado como mais estratégicas”, ou seja, de forma generalista “vamos digitalizar tanto quanto possível a nossa operação, vamos apostar mais em modelos próprios e trabalhar melhor o ciclo do negócio”. A Leading vai apostar assim em materializar algumas necessidades, passando a disponibilizar “modelos de negócio híbridos que passem pelo digital e pelo presencial”.
Também a Buzz DMC está a reinventar o seu negócio. O CEO da empresa sublinha que “nada voltará a ser como dantes. Vamos para uma nova normalidade. O negócio vai seguramente mudar e a forma de o fazer também”. Neste sentido, a Buzz DMC está a preparar-se através “de novos conceitos de programas seja, também, do ponto de vista tecnológico. A nossa oferta, sobretudo no segmento M&I usará mais tecnologia, no lazer temos preparada uma aplicação para visitas individuais (para já nas cidades de Lisboa, Porto e Funchal). Também na promoção da empresa haverá diferenças do método tradicional ainda que, esteja convencido que este é, foi e será, um negócio de pessoas para pessoas ou arriscamo-nos a perder o sentido do Turismo: a partilha”.
Rui Calapez recorda a importância que os privados têm no desenvolvimento e sustentabilidade do Turismo em Portugal, onde se inclui o M&I: “Todos sabemos se não fossem os privados o turismo não teria atingido o peso que tem no PIB nacional. Os privados, exatamente por serem privados, trabalham para sustentar os seus negócios pelo que serão os primeiros a avançar, como aliás sempre têm sido. Nós, enquanto DMC em Portugal e Espanha, temos usado este tempo para preparar novos programas, mais produto e usarmos os nossos representantes no estrangeiro para fazer mais “buzz” que os outros destinos. Não vamos esperar que possamos regressar ao “normal” para ir a feiras e fazer porta a porta, estamos já através da nossa rede de distribuição a comunicar novas ideias e inovadoras, desenvolvidas com os nossos parceiros, para tornar os nossos destinos mais interessantes que outros”. O responsável aponta também o caminho da parceria entre players para contribuir para a redução de custos das operações, aumentando assim a competitividade da oferta que apresentam.
Entidades públicas
No que diz respeito ao apoio por parte das entidades públicas, Rui Calapez considera que os aumentos dos apoios de que se falam ao nível da captação de congressos não são competitivos. “Pelo que sei, haverá novas linhas de apoio à captação de congressos e conferências. Julgo que, para já, estamos no caminho certo… No entanto, estas linhas devem ser competitivas em comparação a outros destinos. Não basta dizer que podemos dar 10.000€ a um evento se a nossa concorrência (outro destino) pode oferecer 100.000€. Tenho fé que o Turismo de Portugal está a fazer bem o seu trabalho e a usar a sua ‘intelligence’ para nos posicionar de forma competitiva”, destaca.
Já João Paulo Oliveira espera “coragem e pragmatismo nas decisões” por parte do Governo. Para o responsável tem de ficar claro que o “turismo foi muito recentemente o motor da retoma, puxou pelo país e deu um contributo muito importante para a economia nacional”. Mas aponta que o tecido empresarial do turismoé constituído por “empresas com características muito especificas que devem ser compreendidas”. Ou seja, “é um setor que não pode ser visto como outros setores. Por isso, porque pode ser novamente a tal locomotiva da retoma, tem de ser apoiado”. Mas “não com medidas que promovem o endividamento mas com medidas que não retirem competitividade às empresas”. Para o responsável, é essencial contar com “apoios fortes e, em alguns casos, a fundo perdido. Não podemos e não merecemos ser tratados de forma diferente de outros setores, só porque há a perceção que o setor tem uma vida fácil, não é reivindicativo e subsiste em qualquer circunstância”.
No que refere a entidades como o Turismo de Portugal, as ERT’s e as ARPT’s, o responsável da Leading espera que estas “liderem uma estratégia pensada, desenhada propositadamente para uma saída da crise. E que não voltem ao mercado exatamente da mesma forma que lá estavam antes. Isso seria imoral e inaceitável, porque de facto as empresas precisam dessas entidades para conseguirmos internacionalmente um posicionamento e resultados concretos”.