Opinião | As curvas e contracurvas do Turismo e Hotelaria
Leia a opinião de Duarte Morais Santos, da CBRE Hotels.
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Por Duarte Morais Santos, CBRE Hotels
Expressões como “pico” e “planalto” já constavam no vocabulário da maioria dos players de mercado antes desta pandemia Covid-19, mas neste momento, e em termos macroeconómicos, quaisquer dúvidas que existissem já se dissiparam: o caminho será mesmo para baixo, transversal à maioria dos setores, ainda que maioritariamente concentrado em 2020.
Não restem também dúvidas que o setor do turismo – que representa cerca de 15% do PIB nacional – será um dos mais afetados pela pandemia em Portugal, perspetivando-se uma quebra acima dos 50%. A consequência será uma retração económica em torno dos 6%, de acordo com as projeções do Banco de Portugal, posicionando este setor como um dos maiores contribuidores para a queda da economia nacional (e, naturalmente, arrastando os mais diversos subsetores e atividades satélite).
Entre picos e quedas, a linha que simboliza a abertura gradual da atividade económica surge como um verdadeiro balão de oxigénio para a economia nacional, até agora asfixiada pelo estado de emergência. Mas os moldes em que esta será feita são a grande questão dos empresários e, relativamente à hotelaria, a confiança está a decrescer.
Segundo dados da AHP – Associação da Hotelaria de Portugal, os hoteleiros portugueses estão bastante mais pessimistas do que há um mês, quando alegadamente atingimos o pico da pandemia. Atualmente, mais de 70% dos inquiridos espera uma quebra entre 50-90% para o primeiro semestre 2020, em contraponto da opinião divulgada há um mês, em que os mesmos 70% previam uma quebra de até 39%. Cerca de 40% dos hoteleiros acreditava num cenário de recuperação ainda no 1º semestre mas, neste segundo inquérito da AHP, a confiança hoje é praticamente inexistente para tal cenário.
O fecho de unidades hoteleiras por todo país e a incerteza de moldes e datas de reabertura são fortíssimas razões para esta curva descendente da confiança mas, a grande apreensão do setor é mesmo o contexto de fronteiras fechadas e voos limitados, que nos incapacita de receber hóspedes internacionais. Segundo o World Travel & Tourism Council, Portugal está entre os países da UE em que o mercado internacional mais pesa, representando mais de 65% de gastos no país.
Em 2019, o mercado doméstico representou apenas 21% das dormidas em Lisboa, 24% no Algarve e 13% Madeira. A acentuar este panorama pouco animador, Lisboa está ainda entre os principais destinos MICE a nível Europeu, sendo que a recuperação deste segmento deverá ser uma das mais demoradas. Certo é que muitos dos grandes eventos foram adiados para a segunda metade do ano, sendo ainda provável que voltem a ser adiados, cancelados ou substituídos por eventos menores, pois a apetência de viajar rumo a grandes ajuntamentos será, certamente, limitada.
A chegada do Verão num contexto de restrições/ limitações nos acessos às praias vai também impactar o setor, especialmente o mix “sol e mar” como o Algarve e a Madeira, que sofrerão fortemente com estas reduções de turistas s. E note-se que estes destinos, pela sua natureza e sazonalidade, praticamente nem abriram atividade em 2020!
Quanto à recuperação dos diferentes segmentos, estima-se que esta se inicie pelo doméstico, seguido do internacional short-haul, e depois internacional de mid/long-haul. Recorde-se que neste contexto Portugal está menos bem posicionado, dada a relevância de mercados como EUA, Brasil ou Angola. Apesar de existir alguma substituição do consumo internacional por doméstico, o número de viagens de portugueses para fora de Portugal é inferior a 3 milhões, que deverá representar cerca de 10 a 15% da procura internacional anual.
Mas, ainda assim, há uma contracurva animadora deste gráfico: diz-nos a experiência que a recuperação do turismo pós 2013 – ano do fim do programa da Troika – foi bastante rápida nos primeiros 3 anos, atingindo mais de +50% no RevPAR, o que deixa boas perspetivas. Mais ainda, a CBRE prevê, à data que escreve este artigo, que a maioria dos players comece a reabrir as suas unidades em Junho e Julho, prevendo-se (ainda) de forma limitada os casos de aberturas em Agosto e Setembro.
O setor lazer tem também demonstrado ser bastante mais resiliente ao longo dos anos e cerca de 70% das viagens feitas para Portugal são feitas com esse intuito. Os destinos de lazer com menor densidade populacional serão, provavelmente, os primeiros a recuperar porque é expectável que locais com maior densidade sejam evitados, podendo contribuir para uma nova configuração do turismo nacional. Os destinos vocacionados para os mais jovens deverão também ser um dos primeiros a recuperar, sendo que Portugal tem vindo a crescer neste segmento, nomeadamente no que aos centros urbanos diz respeito, e a localizações como Ericeira, Costa alentejana, entre outras.
Outra tendência é a da conversão e reinvenção: alguns projetos em desenvolvimento deverão ser repensados nomeadamente relativamente a outros usos e ou marcas internacionais, potencialmente contribuindo para a maior sustentabilidade da recuperação do setor. Esta poderá também ser pautada por alguma transferência do alojamento local para a hotelaria nacional, à medida que algumas destas unidades passam para aluguer de longa duração (muitas delas não voltando ao mercado de curta duração).
Da Ásia vêm também, ainda que com as inerentes limitações, alguns dados positivos. Segundo dados STR, mais de 90% dos hotéis já reabriam, com taxa de ocupação acima já dos 30%, num contexto de contenção do aumento de casos. É verdade que os mercados doméstico e corporate têm sido os grandes impulsionadores, mas ainda assim, um bom sinal num contexto em que se teme uma segunda vaga da pandemia.
Em suma, não há qualquer tipo de dúvida de que esta será uma das piores crises de que há memória, e o setor do turismo será dos mais afetados. É também verdade que os riscos são muitos e de natureza variada, podendo aumentar ainda mais o efeito e duração desta crise como a demora na reabertura da economia, nova vaga de Covid-19, crise de dívida, falências de relevância em setores chave apenas para referir algumas. Ainda assim, há também esperança no horizonte – o pico da pandemia parece já ter passado, algumas entidades falam na potencial existência de uma vacina ainda este ano (que seria verdadeiramente um game-changer) e o comportamento normalmente apelidado de revenge consumption, após tanto tempo de confinamento, poderão contribuir para uma recuperação mais rápida que o esperado do setor. Entre picos, planaltos e curvas ascendentes e descendentes, o caminho faz-se caminhando, e daqui para a frente, o caminho, após esta quebra de 2020, só pode ser para cima. O setor já provou a sua resiliência no passado, e irá voltar a fazê-lo!