Qual o futuro das viagens de negócios?
Frédéric Frère, CEO da Travelstore, considera a preocupação com o meio ambiente, responsabilidade social e teletrabalho vão marcar cada vez maior presença nas empresas, mas o ser humano não vai deixar de privilegiar o contacto humano.
Raquel Relvas Neto
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Aviões em terra e as viagens suspensas por tempo indeterminado. As ferramentas tecnológicas vão colmatando as reuniões de negócios inadiáveis e criam uma nova realidade no dia-a-dia das empresas. Mas será que esta nova forma de negociar veio para ficar? Ou depois deste período de confinamento obrigatório, as viagens de negócios vão retomar? E como é que vão retomar?
Estas são algumas das questões que Frédéric Frère, CEO da Travelstore, especialista em soluções de viagens de negócios, esclarece. Para o responsável, este momento que vivemos causado pela pandemia da COVID-19 pode marcar um novo paradigma nas viagens de negócio, não por modelos inovadores nas mesmas, mas sim pela acentuação de algumas tendências que já se vinham a verificar como o “trabalhar a partir de casa”.
No entanto, isto não quer dizer que “vamos deixar de viajar, porque o ser humano é um ‘animal social’ que, a certa altura, precisa de ‘saltar do ecrã para fora’ para realizar os seus objetivos sejam profissionais ou, simplesmente, porque sabe que só tem uma vida e que há à sua volta um planeta incrível que vai querer descobrir e saborear ao máximo durante a sua curta existência”.
É um facto que, atualmente, as video-conferências têm ajudado no dia-a-dia das empresas, mas esta não é uma realidade nova e sim algo que já acontecia com regularidade. As vídeo-conferências permitem, segundo o responsável, “a realização de reuniões que, sem essa capacidade, não se fariam ou que poderiam obrigar a viagens compridas sem um retorno tangível para a empresa”. Porém, estas não contribuíam para reduzir o número de viagens de negócios, sendo, inclusive, “um fator de crescimento destas”. E explica: “Nunca me esqueço de uma conferência onde um gestor apresentava o plano de implementação das elevadas capacidades de video-conferências na sua empresa e, no final, quando alguém lhe perguntou se o orçamento em viagens tinha reduzido, ele respondeu que este tinha aumentado de forma significativa, porque as video-conferências provocavam, a certa altura a necessidade do contacto presencial”. Ou seja, “penso que, no sair da crise, iremos assistir a uma contenção das viagens e, por consequente, a uma maior peso das vídeo-conferências, mas unicamente por motivos de segurança sanitária e isto até voltarmos a uma total normalidade”.
“Não vamos deixar de viajar, porque o ser humano é um ‘animal social’ que, a certa altura, precisa de ‘saltar do ecrã para fora’ para realizar os seus objetivos sejam profissionais ou, simplesmente, porque sabe que só tem uma vida”
Frédéric Frère recorda que as empresas são “feitas de pessoas que sabem quanto as relações e os contactos humanos presenciais são importantes nos negócios”, mas, completa, “durante algum tempo as aéreas de controlo de gestão e de compras vão tentar capitalizar a experiência vivida durante a crise para desafiar a necessidade de se viajar e propor a alternativa da video-conferência, da formação online, etc.” Porém, é só uma questão de tempo “até voltarmos a verificar o regresso à normalidade, porque a há sempre o momento em que, como referi acima, sentimos necessidade de salta fora do ecrã para ‘fecharmos negócio'”.
Novas prioridades
Preocupação com o meio ambiente, responsabilidade social e teletrabalho são conceitos que vão ganhar maior presença nas empresas. Na opinião do CEO da Travelstore, “esta crise é, antes de mais, uma grande lição de humildade para todos os seres humanos que se apercebem quão frágeis e dependentes da “mãe natureza” são. As empresas irão assim, cada vez mais, assumir uma postura socialmente responsável e irão tentar limitar as viagens de avião na medida do possível”. E com isto vem também as iniciativas de responsabilidade social que, para o responsável, vão ser realizadas sobretudo nas grandes empresas por terem maior capacidade de investimento.
“Outra tendência será certamente a do aumento do teletrabalho, rompendo um tabu que muitas empresas, com mentalidades mais convencionais, ainda têm de pensar que a presença assídua no local de trabalho tradicional (escritórios) é fator de produtividade e para quem o picar o ponto ainda é uma métrica válida”, indica. Uma das realidades positivas que esta crise trouxe foi “forçar as empresas a recorrer a métricas de produtividade baseadas nos resultados independentemente do local em que produzimos o nosso trabalho”. Esta realidade vai ser benéfica para a indústria dos eventos, pois “o facto das pessoas estarem cada vez mais a trabalhar fisicamente longe umas das outras deverá também gerar a necessidade de as juntar e isso vai favorecer a indústria dos eventos”. Afinal, “as equipas não irão precisar de se reunir nos escritórios que, inclusive, não terão capacidade para acolher a todos, mas sim em espaços de eventos adaptados para esse efeito”
As ‘Travel Management Companies’
Os critérios de segurança física e sanitária das pessoas vão estar no topo da lista das empresas. Para o CEO da Travelstore, esta pode ser uma forma das ‘Travel Management Company’ “compensarem a redução dos orçamentos de viagens, porque esta crise demonstrou quando se tornam úteis nos momentos mais complexos, como já tinha sido o caso durante a crise do vulcão na Islândia com milhares de viajantes a necessitar de ajuda para serem repatriados”.
“Iremos ter que lidar com novos procedimentos relacionados com segurança sanitária e o viajante deverá apreciar serviços que contribuam para minimizar os inconvenientes causados por esses processos”
Neste sentido, é provável que “iremos ter que lidar com novos procedimentos relacionados com segurança sanitária e o viajante deverá apreciar serviços que contribuam para minimizar os inconvenientes causados por esses processos”.
A “capacidade de adaptação à mudança e a sua versatilidade” vão ditar o futuro das ‘Travel Management Companies’. Apesar de serem empresas de serviços que já lidaram com outras crises e adversidades, Frédéric Frère considera que, “dada a dimensão única desta crise, só irão sobreviver as mais fortes, isto é, aquelas que terão reunido condições financeiras para resistir e aquelas que saberão reorganizar-se para lidar com menor vendas no sair da crise”. Para o responsável, há dois tempos nos quais os gestores devem concentrar os seus esforços: “O tempo do dimensionamento das organizações e dos recursos para os adaptar à nova realidade envolvente; e o tempo da reflexão estratégica sobre como fazer evoluir os modelos de negócio e propostas de valor ao cliente numa altura de elevada disrupção”.
Quanto à retoma das viagens de negócios, o CEO da Travelstore perspectiva que durante o verão deste ano “iremos começar a registar uma retoma das viagens – apesar do risco sanitário ligado ao coronavirus continuar a existir – sendo que os viajantes irão aprender a lidar com uma “nova normalidade” feita de maiores cuidados a nível da higiene e segurança”. No entanto, crê que “vão demorar muitos meses, diria mais de um ano, antes de nos aproximarmos novamente dos valores pré-crise”.