Histórias do Turismo: “A pneumónica e o turismo em Portugal”
Por Jorge Mangorrinha,investigador em História do Turismo
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Um ano após a entrada em Portugal da “gripe espanhola”, que se mantinha, a Imprensa regozijava-se pelo restabelecimento dos comboios rápidos entre Madrid e a Europa, a que o rápido Lisboa-Madrid tinha ligação e, portanto, o nosso país ligar-se-ia de novo ao centro europeu. Estávamos em Maio de 1919, a Grande Guerra terminara e a gripe chegara em Maio de 1918, mantendo-se. Portanto, a notícia foi escrita em plena crise epidemiológica, que apenas acabaria no final do ano. Em cerca de dois anos, dizimou portugueses (taxa de mortalidade superior à maioria dos países europeus) e milhões a nível mundial, sobretudo crianças e jovens adultos. Algumas zonas do país perderam 10% da população. Mas a falta de informação sobre este surto foi generalizada na Imprensa portuguesa ou quando era referida não se lhe dava a importância devida ou mesmo servia de caricatura.
Portugal encontrava-se, também, a sair mal da Grande Guerra, pelo número elevado de mortes e comprometendo o plano de convergência gizado desde o início da República entre os interesses do Estado e da iniciativa privada para a actividade turística como motor de desenvolvimento. Nesses primeiros anos, o turismo foi como que um fogacho de luz, ténue, crescendo de forma cautelosa e prudente, mas firme e responsavelmente, assim aguentando as “intempéries” de uma Europa turbulenta e em permanentes convulsões, que geraram situações graves de conflito, a que a pandemia se associou, maleficamente.
Mas ao ler as notícias dos anos 1918-1919 descortinam-se poucos prejuízos, já que sobejam o relato das novas iniciativas e o questionamento sobre os projectos de futuro, como que uma promessa de esperança. Seria a fé no sobrenatural, centrado nas “aparições” de 1917 no lugar de Fátima, que nos valeu para um contexto mais optimista ou uma censura eficaz?
Em termos internacionais, no turismo, dava-se a afirmação do transporte aéreo comercial. Visitavam Portugal cerca de seis mil ingleses, desconhecendo-se o número concreto de entradas de franceses que se afiança ter sido elevada. Tornava-se necessário investir na hotelaria, mais e melhores hotéis, com um funcionamento de qualidade, que exigia formação a todos os níveis. Mas o Estado, endividado ele próprio e à beira da ruptura financeira e quase sem crédito, não podia ser garante de quaisquer operações nesse campo. Neste quadro, as isenções e vantagens oferecidas pelo diploma perdiam grande parte do impacto pretendido. Seria, contudo, a Sociedade Propaganda de Portugal, por intermédio da Comissão de Hotéis, presidida por Manuel Emygdio da Silva, a pugnar pela primeira legislação hoteleira (Decreto n.º 11 176, de 11 de Agosto de 1917).
É neste contexto que a actividade turística caminhava sob o signo da tríade constituída pela Repartição do Turismo do Ministério do Fomento, pela associação cívica Sociedade Propaganda de Portugal e pela Companhia dos Caminhos-de-Ferro, trabalhando em parceria e harmonia, conhecendo dificuldades e contratempos que dividiram entre si, procurando superá-los, porque nem sempre encontraram situações favoráveis. Simbólica foi a visita oficial do Presidente da República, Sidónio Pais, deslocando-se ao Algarve numa viagem de comboio, inaugurando a primeira unidade hoteleira em Faro e da província (1918).
Até parece que o “país turístico” não foi muito atingido pela crise epidemiológica. País rural, pobre, dotado de poucos recursos e deficiente em termos de higiene e saúde públicas, só ao alcance de alguns afortunados. País fragmentado social e culturalmente. Os que tinham recursos terão sido menos atingidos. Certamente, não eram os atingidos os mais prováveis actores da viagem turística.
*Por Jorge Mangorrinha
Investigador em História do Turismo