Histórias do Turismo| Porque não conhece Portugal?
Leia a crónica de Jorge Mangorrinha, Investigador em História do Turismo
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A pergunta formulada em 1938 na revista “Viagem”, através de um curioso mapa de destinos turísticos reais e potenciais, induz o esforço existente na época para motivar o maior conhecimento do nosso país por parte do Portugueses. A “revista de turismo, divulgação e cultura”, como se apresentava em subtítulo, iniciou a sua publicação em Julho desse ano e foi dirigida e editada, no Porto, por Marques da Costa, sendo proprietário Hernâni da Costa. Estávamos no início do Estado Novo. O Secretariado da Propaganda Nacional foi criado em 1933 (mais tarde, em 1944, renomeado como Secretariado Nacional de Informação, Cultura Popular e Turismo), marcando um segundo ciclo do turismo nacional, de cariz cultural e propagandístico.
Mas as opiniões divergiam acerca da importância do papel do Estado na actividade turística. Em 1927, José de Athayde, referia que a interferência estatal se podia “considerar como uma das medidas mais inteligentes e de maior previsão económica tomadas nos últimos vinte anos”. Mas o técnico de turismo João Terenas considerava que, até 1926, se ignorara, em Portugal, o que fosse a indústria do turismo. E o médico Armando Narciso exigia que a actividade fosse finalmente organizada e legislada, para que Portugal passasse a ser “um país de turismo” (I Congresso Nacional de Turismo, 1936).
A partir de fontes primárias e divulgada pela primeira vez ao público no livro do centenário da institucionalização do turismo em Portugal (Mangorrinha, J., “História de uma Viagem: 100 Anos de Turismo em Portugal (1911-2011)”), a intervenção de João Terenas constitui particular relevância, já que terá viajado pela Europa em 1926 e em Outubro terá sido incumbido de apresentar as bases do desenvolvimento do turismo em Portugal. No relatório sobre o estado do sector em Portugal, redigido em 1931 sob encomenda do Ministro do Interior, João Terenas fez críticas ao trabalho da Repartição de Turismo e da Sociedade Propaganda de Portugal, bem como às estradas, completamente ao abandono, que se transformavam “na maior vergonha nacional dos últimos tempos; e o porto de Lisboa, principal entrada de estrangeiros em Portugal, desacreditava-se ao ponto de os Comandantes de certos navios aconselharem os respectivos passageiros a não desembarcarem na nossa capital… por isso se considerar perigoso.”. Defendia-se que a área do turismo estivesse desligada da dos Jogos, tentando depois que ela fosse enquadrada no Ministério dos Negócios Estrangeiros, porque o turismo em Portugal teria de ser “a sequência lógica da solução do problema do Trânsito Internacional através do país e os assuntos de carácter internacional correrem por aquele Ministério”. Em 16 de Junho de 1930, foi criada, na Secretaria de Estado dos Negócios Estrangeiros, a Comissão de Propaganda de Turismo no Estrangeiro. Terenas combatia a considerada excessiva burocratização e o controlo do sector por parte dos membros dos organismos do Estado, defendendo que o problema do turismo não podia nem devia ser resolvido exclusivamente pelo Estado. – “É absolutamente devida e necessária a colaboração, com o Estado, das forças económicas particulares, directamente interessadas como ninguém na solução desta questão nacional, porquanto, se ela beneficia a colectividade nacional, antes de a atingir com os seus prémios, garante a riqueza, até ao máximo, dos indivíduos ou sociedades que recebem, em primeira mão, os lucros mais quantiosos”. Esta participação da iniciativa privada passaria pelo contributo material “nessa obra nacional (…) do plano governamental de turismo”.
Esta opinião de enquadrar organicamente o turismo nos Negócios Estrangeiros, tal como já se passava com a promoção externa, sustentava-se pelos resultados que, por exemplo, em França se fizera de Paris, como ponto obrigatório de passagem, de conversão e de irradiação dos turistas para todos os continentes e o mais importante empório comercial que fomentou o investimento em infra-estruturas e equipamentos de apoio ao turismo e transformou turisticamente a costa francesa. Portugal podia capitalizar o seu porto de Lisboa, em conexão com os fluxos para todos os continentes. Mas esta proposta de João Terenas não mereceu acolhimento, mantendo-se o turismo sob a alçada do controlo da pasta do Interior, de acordo com as características mais conservadoras do novo regime e a integração do nosso país na esfera dos regimes nacionalistas. Esta opção mereceu, aparentemente, pouca ou nenhuma oposição, devido à favorável conjuntura externa europeia e também ao fracasso político e económico da República parlamentar. A classe média, sobretudo, passa a procurar um governo forte que restaurasse a ordem e a tranquilidade. Salazar aceita ser Ministro das Finanças com a condição de superintender nas despesas de todos os ministérios e, depois, como Presidente do Conselho de Ministros teria atribuições excepcionalmente vastas. Em termos internacionais, as acções políticas de regimes totalitários integraram o turismo, como solução para os problemas financeiros decorrentes da Primeira Grande Guerra (países europeus ocidentais) e intervenção do Estado na actividade económica (Brasil), todos eles como matéria de afirmação da sua imagem soberana.
O problema é que em Portugal a população viajante se resumia a muito poucos e era necessário um investimento grande em obras públicas. O novo regime totalitário português fez destas uma das suas bandeiras, contribuindo para novas possibilidades directas e indirectas no turismo nacional, mas com repercussão efectiva muitos anos mais tarde, quando o investimento privado começou a sentir Portugal como país de turismo.
O turismo tem sido uma obra de diferentes regimes políticos, porque ele é de todos e para todos, e não deve ser espartilhado numa única área de governação, nem sequer sujeito a mudanças radicais de visão, organização e método, só para parecer que o mundo é uma novidade permanente e não resultante do trabalho de diferentes gerações, que o é, de facto. Isto, porque é na organização da oferta turística que se podem e devem lançar as bases para a estabilidade do desenvolvimento e da gestão, tarefa da responsabilidade de reguladores, pedagogos, investidores e operadores, públicos e privados, para tornar o país mais apelativo e o turismo interno crescente. Ontem, como hoje!