Vítor Filipe, João Pombo, Atílio Forte e Pedro Costa Ferreira fotografados no DoubleTree by Hilton Hotel Lisbon
APAVT | Histórias do congresso contadas pelos presidentes
O convite aos presidentes da República, os discursos polémicos, as histórias de bastidores e como o congresso da APAVT se tornou um dos eventos mais mediáticos do turismo. São as histórias contadas pelos presidentes da APAVT.
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Artigo publicado na edição de 8 de novembro (1405)
Quando o auditório do Savoy Palace, no Funchal, estiver completo no próximo dia 14 de novembro para a abertura de mais um congresso da APAVT, irá cantar-se o hino nacional como é tradição em todos os congressos da associação e já lá vão 45 edições. A formalidade da ocasião recomenda fato escuro como dress code. Nas primeiras filas estarão os membros da direção e os representantes do governo central e regional como manda o protocolo. Nos primeiros anos do congresso, a pompa e circunstância era ainda maior. No palco estavam os órgãos sociais vestidos a preceito. Nas cerimónias de abertura e de encerramento, sobretudo, era impensável ir sem gravata. Depois, por força do tempo, o protocolo foi aligeirado, em especial nas sessões, que deixaram de ter mesas corridas para passarem a ter confortáveis e modernos sofás. O congresso evoluiu não apenas na forma, como também no conteúdo, existindo pelo meio muitas histórias que alguns recordarão e que outros conhecerão pela primeira vez neste artigo. Foi para contar alguns desses episódios, que têm como protagonistas Presidentes da República, políticos, figuras da sociedade portuguesa, membros da associação e os seus associados que reunimos o testemunho dos vários presidentes da APAVT para que a memória do maior congresso de turismo não se perca. Carlos Luís, Atílio Forte, João Pombo, Vítor Filipe, João Passos e Pedro Costa Ferreira responderam ao desafio e as histórias são contadas nas próximas linhas.
Jorge Sampaio em Macau
Desde sempre que os presidentes da República e os Primeiros-Ministros são convidados para os congressos da APAVT. Desde Mário Soares a Cavaco Silva, passando por Jorge Sampaio. Mas o processo de convite nem sempre foi fácil, que o diga João Passos, presidente da APAVT entre 2006 e 2011. Em 2008, quando a APAVT organizou o congresso em Macau, o então presidente da associação recorda “a luta” para conseguir levar o presidente Jorge Sampaio ao congresso. Jorge Sampaio já não era presidente, mas João Passos tinha assumido o compromisso de conseguir levá-lo a Macau e desistir não era opção, embora estivesse quase a fazê-lo. “Foi muito complicado, de tal maneira que estive quase para desistir, mas conseguimos através do contacto de um amigo que conhecia a Dra. Maria José Rita”, recorda. Depois desse primeiro contacto, o processo tornou-se “facílimo”. “O presidente aceitou, mas na realidade andei, digamos que, com as calças na mão, porque estava a ver que não conseguia levar o presidente Jorge Sampaio que era um compromisso que tinha assumido”.
Embora tenha ido de propósito para o congresso da APAVT, Jorge Sampaio acabou por ter uma agenda própria em Macau. “Era uma figura idolatrada e como tinha sido há dez a entrega de Macau à China, feita por ele, tudo se conjugou. Ele teve uma intervenção espetacular na primeira sessão. Há boa maneira do presidente Jorge Sampaio”, recorda.
A relação com Bernardo Trindade
Mas esta não é a única história do congresso de Macau de 2008. Se há figura que não pode faltar ao congresso da APAVT é o secretário de Estado do Turismo. Na altura era Bernardo Trindade quem ocupava o cargo. A relação com o presidente da APAVT estava um pouco melindrada por algo que sucedeu no congresso do ano anterior, em Búzios. “Foi por causa das low-cost, na altura havia um barulho enorme dos operadores de receptivos, DMC’S, etc, por causa dos subsídios que eram concedidos às low cost para voarem para cá. A abordagem não caiu bem no Dr. Bernardo Trindade”, recorda João Passos. Ness discurso terá dito: “Por causa dos apoios às low cost há companhias de rede com larga tradição no nosso país que simplesmente deixaram de voar para Portugal, porque não tiveram os mesmos apoios que aquelas lograram obter, numa situação que na nossa opinião configura concorrência desleal, onde a transparência aparenta ser um conceito ignorado, tanto mais que estarmos a falar de subsídios em boa parte à custa do erário público.” Depois desse discurso criou-se um mal-estar, que depois terá sido agravado em Macau. “Em Macau fiquei muito aborrecido. Convidámos o SET e ele passou meteoricamente por Macau. Tínhamos montado uma reunião com compradores chineses e não sentimos o mínimo apoio. Naquele balanço que fazemos com os jornalistas no final do congresso, reagi”. “Sempre disse aquilo que pensávamos enquanto direção. Depois ficou tudo bem e o SET foi a todos os congressos”.
Scolari falha congresso
Antes de assumir a presidência da APAVT, João Passos colaborou na organização do congresso desde o tempo de Atílio Forte. Não consegue afirmar se o mais difícil era escolher o local ou os temas do congresso, mas tem uma certeza: o convite aos oradores “era o mais difícil de tudo”. “Queríamos ter sempre oradores e moderadores com algum peso no panorama político. Desde o início dos meus mandatos e já antes isso acontecia. O agente de viagens sempre foi o parente pobre do turismo. Queríamos através deste congresso, que se tornou indubitavelmente o congresso do turismo de Portugal, dar o maior peso possível ao setor”.
Se o convite aos oradores era um processo complexo, o que dizer de uma situação em que o orador cancela a sua participação? Foi o que aconteceu em 2007, no congresso de Búzios. O então treinador da seleção portuguesa, Luiz Felipe Scolari, tinha confirmada a presença como orador mas cancelou a participação. “Já estava em Búzios e recebi um telefonema dele em que me disse: ‘Sr. presidente o meu patrão não me deixa ir. Na altura ele estava a treinar a seleção. Tive que dar a cara e dizer não consegui ter o Scolari. Como também não consegui ter o treinador do Boavista, eu sou do Boavista. A coisa passou”, recorda João Passos.
Em 2001, no congresso no Porto, já tinha acontecido algo semelhante mas com um desfecho diferente. João Passos não era presidente mas recorda que estava tudo preparado para um painel com uma figura conhecida a nível nacional. “Estávamos no Hotel Porto Palácio e o orador não aparecia, felizmente que era cá do Porto. Liguei-lhe e ele estava a meio de uma aula. Tinha-se esquecido. Felizmente a coisa correu bem. Apanhei um susto. Eu e a pessoa que ia moderar, na altura era a Mafalda Bravo. Ela entrou em pânico. Acabou por chegar a horas”.
Para a história dos congressos em que João Passos foi presidente ficam também as conversas de painel que o próprio teve com diversos oradores, entre quais o professor José Hermano Saraiva. Foi no seu primeiro congresso como presidente, em 2006. “Com muita pena minha tive de o interromper ao fim de 46 minutos, mas ainda consegui fazer-lhe duas perguntas. O auditório estava cheio”. João Passos recorda ainda a conversa com Fernando Pinto em palco, no congresso de Búzios em 2007. “Ele estava como administrador da IATA, era um cargo rotativo, e eu andava doido por causa das garantias que as agências de viagens tinham de ter, enquanto que as companhias faliam e não tinham garantias nenhumas, ainda hoje se verifica. Tivemos uma conversa interessante. Mas ele deu a volta. É um homem que admiro bastante e com quem tive relações excelentes”.
O congresso tratado por telefone
O processo de escolha do local do congresso parte muitas vezes do convite de países ou regiões que gostariam de receber o evento. Já esteve para acontecer em diversos locais fora de Portugal, mas por uma ou outra razão, isso não aconteceu. “Éramos contactados por Turismos internacionais, tanto o Brasil, sobretudo Salvador, e também a Madeira, estavam sempre disponíveis para receber o congresso”, conta João Passos.
Em 2010, quando o congresso se realizou na Madeira, o motivo principal foi o temporal que ocorreu em Fevereiro desse ano. Um acontecimento que despoletou uma onda solidária com a região e o congresso acabou por ser uma oportunidade para a promoção do destino após-temporal. Nesse ano, o congresso chegou a estar previsto realizar-se em Brasília. No ano a seguir, no qual João Passos conclui o mandato, chegou a falar-se em Fortaleza e em Buenos Aires, mas o evento acabou por acontecer em Viseu. “Não fazia sentido, em plena crise, estar a fazer congressos fora do continente. Não havia dinheiro para isso, estávamos todos a passar uma fase extremamente complicada. O congresso foi feito praticamente por telefone entre mim e o Pedro Machado, foi uma coisa do outro mundo”, recorda.
O maior congresso de sempre em Marrocos
“Do outro mundo” terá sido também o congresso em Marraquexe, em 1987, e com Carlos Luís como presidente da APAVT [foi presidente entre 1986 e 1991]. Além de ter sido o maior congresso da história da APAVT em termos de participação com 1300 pessoas inscritas, o evento teve inclusive uma missa celebrada pelo então Reitor do Seminário de Fátima, Luciano Guerra. Quem participou ainda hoje se deve lembrar da história curiosa desse congresso. Pouco habituados à culinária do Magreb, a maioria dos congressistas sucumbiu a um estado de enfermidade pouco simpática, digamos assim.
No período de vigência do mandato de Carlos Luís, os congressos alternavam entre Portugal e o estrangeiro. Dois anos depois de Marraquexe, o congresso realizou-se em Torremolinos, em Espanha, e fica para história como aquele em que a TAP assumiu o patrocínio de um dos jantares do programa. “No meu discurso, houve uma polémica de quem oferecia o último jantar. Falei com o nosso amigo Manuel Bastos, diretor comercial na altura da TAP, e ficou prometido que a partir dali o último jantar dos congressos seria sempre oferecido pela TAP”, recorda Carlos Luís.
Neste período, os programas do congresso “eram elaborados em reuniões de direção e era ajustado à atualidade turística. Sempre com um programa social. Nesse aspeto, as empresas gastavam mais dinheiro do que agora. Davam-nos muitas condições”, conta.
Os media e o peso político
Muito embora os congressos até à década de 90 tivessem tido sempre a participação de políticos, foi sob a presidência de Atílio Forte que se introduziu um painel com a participação dos partidos. Essa e outras medidas deram maior mediatismo ao congresso e, por conseguinte, ao turismo. “Estávamos em meados da década de 90 e o turismo, a nível mundial e também em Portugal, começava a conquistar um papel cimeiro do ponto de vista económico e social”, recorda Atílio Forte, que exerceu o cargo de presidente da APAVT entre 1995 e 1997. “Portugal não estava alheio a este factor. Mas, do ponto de vista da mentalidade, o país não estava preparado para este desenvolvimento e para dar relevância a este papel do turismo. Por ventura, terá sido a APAVT uma das associações que teve na linha da frente destas mudanças. Como tal, os congressos da APAVT, no nosso entendimento conjunto, começaram a traduzir isso”, começa por contar. Além dos temas, houve outros aspetos que ajudaram a que os congressos passassem ter mais visibilidade. “Recordo-me que no congresso em Ponta Delgada, em 1995, foi a primeira vez que houve um painel em que os políticos participaram. Depois durante muitos anos, esse painel continuou a existir”, lembra. Foi também a primeira vez que se utilizaram ecrãs gigantes no congresso da APAVT. “Nós, que organizávamos congressos, reuniões, incentivos, não estávamos a utilizar algumas das soluções que vendíamos aos nossos clientes”, conta. “O congresso da APAVT tinha a obrigação de ser impecavelmente organizado”, constata. Outro aspeto introduzido neste congresso foi o convite aos jornalistas. “Foram convidados para ir ao congresso da APAVT sem terem de pagar a inscrição e alojamento no congresso. Não só foram convidados os meios especializados como os generalistas, desde as televisões à imprensa escrita. Se queríamos ter voz, era preciso ter lá pessoas que transmitissem a mensagem para a opinião pública”.
Foi ainda durante o congresso de Ponta Delgada que Atílio Forte proferiu uma frase que ainda hoje é célebre e ficou na memória das pessoas e, obviamente, na sua. “No discurso dos Açores, em Ponta Delgada, tivemos a presença do primeiro-ministro recentemente empossado, António Guterres. Tinha acabado as duas maiorias absolutas do professor Cavaco Silva. Lembro-me que disse no meu discurso: Não queremos mais laranjas amargadas, mas também não queremos ser picados pelos espinhos das rosas, a fazer uma alusão clara aos símbolos dos dois partidos”, conta.
Reviravolta na lei das agências
Em 1996, no congresso organizado em Macau, o “verniz estalou” entre a associação e o governo. Tudo por culpa da nova lei das agências de viagens. “Tínhamos feito um acordo para a nova lei, ao fim de alguns meses de negociação com o ministro da Economia, o professor Augusto Mateus e com o Secretário de Estado do Comércio e Turismo, Jaime Andrez. Fomos para Macau dias antes do congresso e houve um Conselho de Ministros em que o diploma foi levado para aprovação, seria uma mera formalidade. Só que nesse Conselho de Ministros foram introduzidas inúmeras alterações e tudo aquilo que era deveras importante para a APAVT foi anulado e sofreu um grande revés. Mais, recebemos também a notícia que o ministro da Economia não iria estar presente em Macau mas em sua representação iria o SET. Isso levou a que tivesse que fazer um discurso bastante duro, que na altura fez manchete nos jornais portugueses. Mas tinha de ser feito perante aquele ‘volte face’ e retirar da palavra dada”, conclui.
Para a Atílio Forte, este período foi “um momento muito importante na afirmação da atividade turística, infelizmente de alguma forma conquistou-se muita coisa mas também se perdeu capacidade de intervenção. Mas há uma coisa que ficou, o turismo nunca mais foi olhado como era”.
Quanto a histórias que provocam risos, Atílio Forte recorda-se de uma: “A direção estava à porta para receber as entidades oficiais e, apesar de pedirmos aos congressistas que esperassem na sala, muitos decidiram também vir para a porta receber os órgãos de soberania. Na qualidade de presidente fui o primeiro a cumprimentar um alto dignatário do Estado Português que me disse que precisava de ir à casa de banho. Encaminhei-o, disse ao meu colega onde íamos para não virem todos atrás, mas as centenas de pessoas que se concentraram à porta foram atrás até à casa de banho. Quando viram que estávamos na casa de banho não arredaram pé”, conta.
O desenvolvimento do turismo no Brasil
Quando João Pombo chegou à presidência da APAVT não era propriamente um novato nas andanças do congresso. Foi vice-presidente na liderança de Atílio Forte e ‘herdou’ o congresso de Natal, em 1998, que já havia sido tratado pela anterior direção. Se dúvidas existissem sobre o papel que o congresso da APAVT tem na promoção turística de um destino, o Brasil é um bom exemplo, em particular Natal. “Quando fomos a primeira vez não havia voos diretos, a procura e a oferta de transporte aéreo acabou por crescer”, recorda João Pombo, que foi presidente da APAVT entre 1998 e 2001.
No ano a seguir, o congresso realizou-se pela primeira vez em Cuba. Em 1999, o regime do presidente Fidel Castro estava numa fase de mudança, numa tentativa de abertura do regime e o turismo tinha uma força gigantesca. A APAVT também deu o seu contributo. “Da recolha de propostas, Cuba foi a melhor e estava em linha com desenvolvimento turístico que estava acontecer e que, de resto, veio a materializar-se. Sempre que uma associação de agentes de viagens faz uma coisa desta natureza, acaba sempre por ser um motor de venda”, considera. Mas não foi o único ponto de interesse deste congresso. “Foi um congresso muito interessante do ponto de vista do conteúdo, com oradores muito interessantes”, recorda. Contou com a participação do Professor Hernâni Rodrigues Lopes que acompanhou os dois mandatos de João Pombo, tendo este pedido que fosse consultor da APAVT. “Fomos co-autores do livro “Reinventando o Turismo em Portugal – primeiro quartel do século XXI”, lembra. Também a participação de Vítor Sevilhano Ribeiro foi notada, tendo este apresentado o primeiro estudo sobre o futuro das agências das viagens. Nesse congresso, a APAVT decidiu atribuir a medalha de prata a Carlos Cruz. “Foi quando Portugal ganhou a organização do Euro 2004, a APAVT distinguiu a pessoa designada pelo governo para liderar a equipa de candidatura”, recorda. Os quatro anos de mandato de João Pombo registaram vários acontecimentos marcantes para o país, como a Expo’98 e a conquista do Euro 2004, mas também fatídicos para o mundo como o 11 de setembro.
Em 2001, o congresso realizou-se em Portugal, concretamente no Porto, mas nada teve a ver com os atentados às Torres Gémeas. A decisão foi tomada em 1999. “A Dra. Manuela de Melo, que era vereadora da CM Porto, endereçou-nos um convite para que o congresso fosse no Porto coincidindo com o Porto Capital Europeia da Cultura 2001. Essa candidatura nem teve concorrência, porque entendemos que a APAVT tinha que estar ligada a um evento importantíssimo como este. Veja no que deu, essa coisa fantástica que é o destino Porto”, constata.
“A preocupação dos agentes de viagens entre 11 de setembro e final de novembro de 2001 foi tirar as pessoas que tinham nos EUA”, revela. Os atentados foram inevitavelmente tema do discurso de conclusões desse congresso. “Esta nova era, pós 11 de Setembro, que hoje estamos a viver, no sector das agências de viagens em particular, irá determinar uma grande reestruturação no sector, pois a dimensão da quebra de negócios e de actividade não tem qualquer paralelo com crises anteriores”, afirmou nesse discurso.
Outra das conclusões do congresso referia-se à figura do provedor do cliente. Foi constituído em 2000 por João Pombo, por sugestão pessoal e apresentado no congresso de Fortaleza, porque acreditava na auto-regulação.
Cancelamento do congresso na Tailândia
A organização do primeiro congresso de Vítor Filipe como presidente da APAVT foi tudo menos pacífica. Mas Vítor Filipe, que foi presidente entre 2002 e 2005, já tinha experiência na organização de congressos, uma vez que a sua entrada na APAVT aconteceu em 1998 na liderança de João Pombo. Traquejo e engenho foi o que precisou perante o episódio do cancelamento do congresso na Tailândia: “Ganhei muita experiência na organização dos congressos no tempo do João Pombo, era um dossier com o qual estava muito familiarizado. Consegui o apoio para fazer o congresso de 2002 pela primeira vez na Tailândia. Fechámos com o Turismo da Tailândia e fiz uma visita para reconhecer os locais. Entretanto, houve os atentados em Bali, na Indonésia e o governo português na altura liderado por Durão Barroso desaconselhou as viagens para a Ásia e tivemos que, em dois meses, refazer o congresso todo”. Este acontecimento trocou as voltas a Vítor Filipe, que estava habituado a organizar o congresso com muita antecedência. “Uma das minhas grandes preocupações era ter tudo organizado a tempo e horas e congressos de excelência. Mudámos tudo para o Funchal e tivemos o apoio do Governo Regional e do presidente, que nos deu o apoio total, na altura galardoámos o Dr. Alberto João Jardim, até porque a Madeira sempre foi um exemplo em termos turísticos para o país”. Vítor Filipe conta que foi “uma aventura” refazer o congresso em dois, três meses. “Sempre houve um cuidado extremo na organização do congresso. Anunciámos este congresso em 2001, no Porto. Foi necessário refazer alojamentos, inclusive houve algum prejuízo para a própria associação, já tínhamos sinalizado hotéis na Tailândia e, de alguns, não conseguimos reembolso”.
Vítor Filipe conta que no lançamento das inscrições para os associados, o programa do congresso já estava definido, com os painéis e respetivos oradores identificados. Em linha com a visão que tinha sido iniciada com a direção de Atílio Forte – dar mais visibilidade ao congresso -, eram convidados jornalistas do setor económico e político para a moderação dos debates. “Recordo o Nicolau Santos, o António Perez Metelo, Carlos Rosado de Carvalho, o Gomes Ferreira e Luís Ferreira Lopes”. E alguns dos painéis também foram mantidos. “Havia dois painéis que para mim eram fundamentais e que a partir de uma certa altura deixaram-se de se realizar. Primeiro, era o painel dos partidos políticos. Quando sai, deixaram de fazer esse painel. Era o painel que mais visibilidade tinha a nível de imprensa não especializada. Foi uma asneira terem acabado com ele. Também outro painel que deixou de se fazer, mas que felizmente vai voltar nesta edição, é a sessão reservada exclusivamente aos agentes de viagens. Penso que é um painel importante e que faz falta. Pessoalmente não me sinto confortável para discutir problemas da classe na presença de pessoas que não são agentes de viagens”.
Microfone com problemas?
De todas as histórias que Vítor Filipe podia contar sobre os congressos da APAVT, há uma que recorda em especial do congresso de 2003, em Salvador da Bahia, no Brasil. Foi no último jantar patrocinado pela TAP. “Estava em palco a fazer o meu discurso de agradecimento e, às tantas, começo a notar que a minha voz estava a sair distorcida, parecia que estava em câmara lenta. Quando termino, um colega diz-me: O que é que tens? Eu respondo: Este som está esquisito, não está? Ao que ele responde: quem está esquisito és tu”. “Estava tão cansado do esforço desenvolvido no congresso, que devia estar com um princípio de esgotamento. Mas depois recuperei rápido. As pessoas se calhar terão pensado que bebi uns copos. Mas não. Estava de tal forma cansado que falei muito lentamente. Afinal, não foi um problema de som”.
Há ainda outra história recordada por Vítor Filipe. Desta vez no congresso de Maputo, em 2005, no seu último do mandato. “Foi extraordinário realizar o congresso em Moçambique, porque tenho um grande carinho pelo país. Passei lá dois anos, na Guerra Colonial. Como tal, já tinha comentado que adorava fazer um congresso num dos PALOP’s. Quando o ministro do Turismo de Moçambique, o Dr. Fernando Sumbana Junior veio a Portugal, almoçámos juntos e decidimos avançar com o congresso. Fiz uma viagem de inspeção e o ministro deu-nos um apoio enorme. Na viagem de inspeção, tiveram a amabilidade de me levar às Quirimbas e a Pemba, ao meu antigo quartel”, conclui.
Congressos em Portugal
Durante a presidência de Pedro Costa Ferreira, iniciada em 2012, somente um congresso foi realizado fora de Portugal, concretamente em Macau. Durante estes oito anos, o congresso já percorreu o país e as ilhas. “A primeira razão [para que isso tenha sucedido] tem a ver com fatores externos. A crise, nacional e internacional, aumentou a dificuldade de fazer os congressos fora de Portugal. Em segundo lugar, foi uma decisão nossa de, ao longo da crise, contribuirmos para a dinamização do turismo interno e, com isso, fazermos os congressos em Portugal”, começa por dizer Pedro Costa Ferreira. “Acabou por se tornar uma tradição que tem corrido bem. Vou fechar o meu terceiro mandato no próximo ano e sei que o próximo congresso vai ser em Portugal”, revela.
No início foi complicado, reconhece o atual presidente da APAVT. “Os meus primeiros anos de APAVT foram anos de crise e, claro, que era complicado formar adesão e manter a tradição. Julgo que se manteve e a prova disso é que, assim que saímos da crise, tivemos um dos momentos mais felizes de crescimento dos congressos. Este ano fechámos as inscrições porque ultrapassámos os 750 inscritos”.
Uma das características que tem marcado estes congressos tem sido a interação com o destino, que aumentou ao longo dos anos. “No último ano, fizemos mais uma inovação, com investimento em vídeos sobre a nova oferta do destino. Foi uma ação que correu muito bem, foram mostrados ao longo do congresso e oferecidos às empresas e ao Turismo de Portugal e vamos fazer o mesmo na Madeira”.
É mais difícil definir a localização do congresso ou os temas? Pedro Costa Ferreira não tem dúvidas. “Apesar de tudo, acho que é mais difícil escolher os temas e oradores. Este congresso tem uma alma, tem um significado grande para a APAVT e julgo que se tem mantido ao longo de todos os anos do meu mandato e julgo que herdei isso dos meus antecessores e que os sucessores provavelmente também herdarão”. Para Pedro Costa Ferreira, “o congresso é uma montra da capacidade de intervenção dos agentes de viagens na cadeia de valor. É um congresso organizado por agentes de viagens, mas não é um congresso de agências de viagens. Por causa disso, é difícil escolher o tema. Até pelo momento em que se faz o congresso, no final do ano, é suposto que o congresso marque uma análise do que tem sido o turismo no seu global e aponte o caminho para aquilo que queremos que seja no futuro”, defende.
“A construção do tema é aquilo que para mim tem mais responsabilidade e a escolha dos oradores vem com o tema, se escolhermos um grande tema e não escolhermos oradores de grande credibilidade não estamos a trabalhar bem o congresso”.
Nesta edição de 2019, vai haver uma sessão reservada apenas aos agentes de viagens, algo que já existiu no passado mas que Pedro Costa Ferreira explica como se vai proceder: “Já existiu no passado o Open Fórum que era para debater sem agenda os assuntos da associação, mas que tinha, em meu entender dois erros fundamentais: era um muro de lamentações, em que o presidente ia para o pelourinho e os associados atiravam tomates; e o segundo erro é que era feita à vista de todo o setor. Era qualquer coisa como um desentendimento entre o marido e a mulher que convidavam os vizinhos para assistir. Sempre estive contra isso e manifestei-me contra isso na altura. O que pretendemos neste encontro é que seja realmente só para agências de viagens e não será com uma agenda aberta. Aproveitando a extraordinária adesão de associados a este congresso, vamos fazer um ponto da situação da atividade da APAVT, explicar quais têm sido as nossas grandes preocupações e linhas de comunicação e atuação e ouvir os associados”.
Discursos polémicos: Fim de ciclo
Ao longo da história dos congressos, os discursos dos presidentes são momentos marcantes do evento. Foi assim que aconteceu e continuar a acontecer. “Acho que temos feito um esforço, que julgo que é visível, para tocar em algumas feridas do setor e colocar em cima do palco algumas opiniões mais livres. Veja-se o ano passado a forma relativamente isolada com que falámos de fim de ciclo e, sobretudo, a forma como não fomos compreendidos, desmentidos e diminuídos por causa disso”, recorda Pedro Costa Ferreira. Por outro lado, o presidente da APAVT relembra também os comentários que fez à plataforma clicktoportugal.com no discurso do ano passado: “Passado um ano, aquilo que dissemos foi exatamente o que aconteceu: tivemos um banho de dinheiro e tecnologia que está completamente obsoleta, não tivemos reservas significativas, e não se fez concorrência à booking.com e acabámos o ano a explicar a toda a gente que estamos dependentes de operadores turísticos como a Thomas Cook, mais do que estávamos há um ano”, defende. “É evidente que este tipo de abordagem traz sempre algumas feridas conjuntamente, porque não há forma de o fazer sem, de certa maneira, chocar com outros intervenientes. Temos tido a preocupação de tentar fazer perceber que ela é construtiva. Sublinhamos que as nossas relações com a AHP são boas e a nossa vontade de trabalhar é total. Tentamos balançar algumas ideias fortes com uma tentativa de compreensão que estamos a construir, mas confesso que estamos a fazer uma gestão na fronteira e que corremos riscos e que às vezes são mal compreendidos”.
Para concluir a conversa, Pedro Costa Ferreira falou ainda sobre a presença da TAP no congresso. Terá sido a decisão da TAP de não patrocinar um dos jantares um momento difícil do congresso? “Não, foi perfeitamente razoável. Aconteceu também num final de ciclo do nosso relacionamento e foi perfeitamente natural que isso acontecesse. Nem ficámos ofendidos, nem as relações ficaram diminuídas por isso. De certa maneira recebemos essa notícia como o corolário normal do que eram as relações na altura em que essa decisão foi tomada. Um jantar é uma responsabilidade grande para os dois intervenientes. É um acontecimento que deve acontecer apenas e quando as relações entre as duas instituições são absolutamente especiais”, responde Pedro Costa Ferreira, que revela ainda “que já houve conversas para voltar a ter o jantar da TAP na APAVT. Portanto, a ausência desse jantar não trouxe problemas acrescidos na relação. Apenas consideramos ambos que não estavam reunidas as condições para voltarmos a ter”.
Terminamos como começámos, a falar da presença de chefes de Estado no congresso. Marcelo Rebelo de Sousa foi convidado várias vezes, mas não tem agenda. “Não sei se virá alguma vez na minha presidência, é verdade que foi sempre convidado, é verdade que nunca teve agenda”, afirma.