Transalpino segue estratégia de diversificação de negócios
José Bizarro, administrador da empresa, explica a evolução da agência de viagens, que hoje conta com mais três empresas de negócios distintos.
Raquel Relvas Neto
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Começou como uma multinacional pertencente a um grupo italiano com presença em cerca de 17 países e focada unicamente nas viagens turísticas de comboio para o segmento jovem. Atualmente, a Transalpino em Portugal, onde está há 36 anos, funciona de forma independente e tem acompanhado a evolução do mercado turístico, apostando em novas áreas de negócio.
José Bizarro, administrador da empresa, explica que os jovens que viajavam com a Transalpino, ao terminarem os seus cursos superiores, mantiveram-se como clientes da agência de viagens, requisitando os serviços desta para as suas viagens profissionais. Esta situação motivou a entrada da Transalpino no segmento corporate, onde a agência foi ganhando clientes na área da medicina e indústria farmacêutica. “Isso fez-nos crescer nos anos 90”, indica. Reuniões de equipas médicas, de congressos médicos e viagens corporativas de médicos começaram a fazer parte da operação diária da Transalpino, o que permitiu que a agência entrasse no mercado da organização de congressos.
A entrada no corporate também beneficiou da participação da Transalpino numa sociedade anónima de agências de viagens, a Aviana, que evoluiu e hoje é a Go4travel. “Isso foi-nos permitindo ter condições para poder, na área do corporate e não só, ter alguma dimensão”, descreve.
Há cerca de 14 anos também investiram noutra área de negócio: os cursos de inglês no estrangeiro para jovens. Com mais movimentação nos meses de verão, esta área de negócio foi evoluindo e hoje funciona sob a alçada da empresa criada para o efeito, a Ciling. Jovens dos 11 aos 17 anos que procuram cursos de línguas em grupos ou até mesmo executivos em cursos livres são os principais clientes.
Esta experiência de criar uma nova empresa para direcionar uma área de negócio que surgiu inicialmente no seio da Transalpino foi ganhando forma dentro da empresa. Há cinco anos, a estratégia definida foi “criar, em vez de áreas de negócio, empresas em áreas em que tínhamos algum ‘know how’”. É assim que surge também a Eventos by Transalpino, uma empresa que “está muito vocacionada para o segmento médico, trabalhamos essencialmente com laboratórios e sociedades médicas. Prestamos serviço de secretariado puro a quatro sociedades médicas, por isso muitos dos eventos e necessidades que têm são direcionadas para nós”.
Surge também a BC, uma empresa que presta serviços às restantes empresas da Transalpino, mas não só. Contabilidade, marketing e design são alguns dos serviços que eram contratualizados fora, mas que agora estão concentrados na BC, que fornece assim os seus serviços à própria Transalpino, Ciling e Eventos by Transalpino, mas também a outras empresas externas. “O futuro dessa empresa também deve passar pela área de transfers e city tours, porque dentro da Transalpino também há essa necessidade”.
Dentro do universo Transalpino existe também uma área de negócio nova, o incoming, que, no futuro, deve evoluir para uma nova empresa. “Está nos nossos projectos, provavelmente a curto, médio prazo criar um DMC (Destination Management Company) com marca diferente da Transalpino”, revela José Bizarro, que indica que primeiro o foco está na consolidação do negócio, em ganhar estrutura e pessoas com competência. “O facto de termos ganho um congresso internacional que se realizou em Portugal aguçou-nos o apetite para explorar mais o negócio. Neste momento, apostámos em três mercados em vertentes diferentes – EUA, Brasil e Espanha -, e a estrutura tem crescido progressivamente”.
Personalização
José Bizarro defende que a personalização do serviço prestado, seja por qualquer das empresas e áreas de negócio do grupo, é o factor diferenciador e o que vai contribuir para o aumento do ‘know-how’ e portefólio da empresa. De forma a melhorar a eficiência dentro do grupo e criar sinergias entre as várias equipas, a Transalpino tem, além das duas agências de viagens de rua em Lisboa e no Porto, um escritório central em Lisboa, onde reúne as várias empresas. “Reformulámos as nossas infraestruturas, de forma a que nos nossos escritórios, quer em Lisboa, quer no Porto, possamos dar um serviço mais personalizado”, sobretudo na área do lazer, com foco no ‘private’. É exatamente o ‘private’ e o ‘incoming’ que vão ser as áreas de maior aposta da empresa e nas quais o responsável identifica uma maior margem de crescimento, sem descurar o corporate que ainda é “uma atividade muito importante, pelo volume de faturação e pelo número de clientes”.
Quanto ao futuro, José Bizarro destaca que “ainda não me vejo como um grupo, porque não tenho a dimensão de um”, mas a estratégia delineada passa por “diversificar os negócios, criar serviços e produto”.
Desafios
José Bizarro considera que o papel principal das agências de viagens de “sermos os parceiros dos fornecedores, o conselheiro do cliente está um bocado subvertido”. E identifica um desafio comum com dois dos principais parceiros: as companhias aéreas e a hotelaria. O empresário começa por dizer, que a resolução desta temática passa muito pelo movimento associativo. “É flagrante a agressividade, a guerrilha que nós [agências de viagens] sentimos, hoje em dia, dos nossos parceiros, dos nossos fornecedores”, afirma.
O responsável fala sobre a “guerra desenfreada” das companhias aéreas com as agências de viagens, com o objetivo das primeiras aumentarem as vendas diretas ao cliente final. “Até percebo que queiram vender diretamente, querem ter autonomia, têm produto, mas não precisam de ter para o agente de viagens condições completamente diferentes das que dão ao consumidor final”, indica, referindo que as condições comerciais fornecidas às agências de viagens são substancialmente menos competitivas do que as apresentadas diretamente ao cliente final. José Bizarro explica que, atualmente, não se vê diferenciação entre as companhias aéreas tradicionais e as ‘low-cost’, sendo que estas últimas são mais transparentes. “Hoje em dia, as ‘low cost’ têm uma postura perante as agências mais verdadeira”. Para o responsável, a APAVT – Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo deve falar sobre estes problemas junto da comunicação social para que o tema cause maior ruído e haja uma resolução do problema. José Bizarro entende que a preocupação recai sobre problemas macro, como a saturação do aeroporto de Lisboa, que é um problema nacional, mas a questão do relacionamento das companhias aéreas com as agências de viagens “é um problema que sofro no dia-a-dia”.
Com o parceiro da hotelaria “é a mesma batalha”. “Há alguns grupos, os principais, que têm alguma ética de trabalho e com os quais partilhamos mesas quando vamos a feiras internacionais, fazemos promoção em conjunto, mas há outros que não nos confirmam grupos e confirmam quando é o cliente a ligar diretamente. Julgo que a APAVT também deveria pressionar nem que fosse através de outra associação hoteleira no sentido de resolver estes problemas. Se houver regras, todos trabalhamos”.