Conversas à Mesa | “Temos de ter muita garra, esperança na vida e nunca desistir”
Mafalda Bravo foi a convidada do Conversas à Mesa que decorreu no Restaurante Olivier Avenida.
Carina Monteiro
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A vida de Mafalda Bravo dava um livro, mas daqueles em que cabem vários géneros literários, desde o romance ao conto, da novela ao drama, passando pela comédia, mas sempre com um final feliz.
Bravo de nome e de temperamento, Mafalda revelou cedo uma personalidade rebelde e desalinhada. Na escola alemã, todos conheciam os Bravo – o pai, o tio e os irmãos estudaram todos na mesma escola. “O que diziam era que éramos Bravo de apelido e raça”, conta. Não gostava de estudar, mas nunca chumbou, apesar das dores de cabeça que dava aos professores. “Na altura chamava-se personalidade, hoje chama-se hiperatividade. Não era, os Bravo são assim”, brinca. Saiu do colégio alemão com 14 anos e foi estudar para o colégio académico. Mas não durou muito tempo, a vida de Mafalda havia de mudar em dois anos. Com 16 anos casou-se e pouco tempo depois teve a primeira filha, Mafalda. Inês, a segunda filha, nasceu dois anos depois. Aos 22 anos, separou-se e mudou-se com a filhas para Lausanne, na Suíça, para estudar Gestão de Empresas. “O meu irmão já tinha estudado no estrangeiro e pedi ao meu pai que apostasse em mim. Disse-lhe que seria um investimento que eu iria recompensar mais tarde”, conta. “Foram os melhores anos da minha vida. Enquanto estava na faculdade a estudar, as minhas filhas estavam na escola. Era a única da turma que tinha filhos, os meus colegas eram todos estrangeiros e ajudavam-me imenso. Quando uma pessoa sai do seu mundo e está por sua conta, as nossas fronteiras abrem-se totalmente”. Quatro anos depois, regressou a Portugal. Entretanto, tinha conhecido um português, amigo de um do seus irmãos, que a desafiou a abrir um negócio de confeção de roupa para mulher que exportariam para a Suíça e Inglaterra. O negócio corria bem, mas Mafalda teve de assumir a gestão da agência de viagens Escalatur, que o pai entretanto tinha comprado. “O meu irmão ficou a tomar conta dessa agência de viagens, mas passado um tempo adoeceu e o meu pai pediu-me para assumir a gestão”, conta. Tinha chegado a hora de cumprir a promessa que tinha feito ao pai. “Uma agência de viagens exige muitíssimo de nós e tínhamos comprado a agência completamente falida. Era altura de recompensar o meu pai pelo investimento que ele tinha feito em mim. Acabei com a outra empresa e fiquei na Escalatur”.
Especializada no segmento corporate, o negócio da Escalatur correu “sempre bem”, de tal forma que havia quem tivesse interesse em comprar o negócio mas Mafalda estava renitente. “Gosto de partilhar esta história, porque acredito no processo da vida. Uma noite acordei de repente e tive um pensamento: vender a empresa. Assim do nada. Tive um feeling. Contei ao meu pai e ele disse-me para fazer o que entendesse, mas alertou-me que as empresas vendem-se em alta. Comecei a espalhar a mensagem que estávamos à venda e vários grupos nacionais e estrangeiros estavam interessados”, conta. Mafalda estava inclinada para fechar o negócio com os espanhóis da Barceló. Apesar das negociações terem sido difíceis, concretizou o negócio, mas a história tem um certo misticismo. “Fizemos a escritura a uma quarta-feira e o advogado no sábado teve um enfarte e morreu, e o meu pai passados quinze dias teve também um enfarte e morreu. Tive a oportunidade de mostrar ao meu pai que aquilo que ele tinha investido em mim, tinha sido compensado. Lá de cima deram-me uma mensagem e isto foi feito a tempo e horas”. O negócio foi fechado em maio de 2001 e em setembro aconteceu o atentado às Torres Gémeas, que foi fatídico para a indústria das viagens. “As pessoas tinham medo de viajar”, relata. O contrato obrigava-a a ficar na empresa durante os cinco anos seguintes. Acabou por ficar até hoje. Durante este período recorda alguns momentos marcantes como aquele em que foi chamada ao palco para receber os parabéns pelo trabalho numa convenção do grupo, ou, mais recentemente, quando estava doente e recebeu a visita do CEO.
Há dois anos, Mafalda Bravo foi diagnosticada com um cancro da mama. “A doença faz mudar muita coisa, mudamos as nossas prioridades. Não podia continuar com o ritmo da Escalatur. Precisava de me libertar um pouco e, nessa altura, convidaram-me para country manager do grupo Ávoris em Portugal”. Nesta nova função, Mafalda será responsável por criar sinergias dentro grupo e encontrar formas de crescimento em Portugal.
Vida pessoal
Do segundo casamento nasceu Rodrigo, o terceiro filho. Mafalda Bravo recorda a história do nascimento. “Com 29 anos engravidei e descobri que tinha um tumor no útero. Decidi continuar a gravidez, apesar de ter de ser operada. Não perdi a criança. Este terceiro filho foi um milagre. Gosto de falar das coisas, principalmente porque gosto de dar esperança às pessoas. Temos de ter muita garra, esperança na vida, acreditar no nosso caminho e nunca desistir.” Nesta altura da conversa Mafalda Bravo confirma a minha suspeita inicial: “A minha vida dava para escrever um livro”, diz. Nos tempos livres, gosta de ir ao cinema com o marido, dançar e estar com a família, à qual dedica grande parte do seu tempo. Tem quatro netos, de quem fala com adoração e orgulho. “Cada um com a sua maluqueira, alguns vêm com os genes dos Bravo”, brinca. Uma vez por ano faz uma viagem com a família toda, no ano passado foram ao Brasil. Nas férias de verão vão para o Algarve.
Um dos seus destinos preferidos é a Birmânia. “Adoro o Oriente e a filosofia oriental”. Todos os anos vai com uma amiga durante uma semana para um ‘holistic spa’. Tailândia, Filipinas e Bali são alguns dos destinos para onde já foi. Vive com intensidade o dia-a-dia, lição que aprendeu com a mãe. “As minhas amigas dizem que antigamente era patins em linha agora tenho rodas a triplicar. Na realidade não sabemos o que se vai passar a seguir”, afirma. “As doenças não vêm por acaso. Mudei a minha atitude. Não dou importância a coisas que dava. Quando estava em casa olhava muito para um quadro que dizia ‘Don’t lose time with trivial stuff’. Não podemos perder tempo com coisas pequeninas”. Mafalda Bravo fala com a serenidade de quem tem uma vida cheia. “Com a idade aprendemos a ter uma visão mais segura e mais pragmática. Não diz coisas que os outros querem ouvir, mas aquilo em que acredita. “Achei que isso era um ponto negativo, porque às vezes sou um bocado desbocada, não tenho as tais fronteiras que devia ter. Hoje em dia não tenho medo nenhum. Isso é o que a idade traz de bom, a segurança de sabermos ao certo quem somos, o que queremos e o que não queremos”, conclui.
Mafalda Bravo nasceu em Lisboa em 1960. É a sexta filha da família Bravo, com origens em Espanha. Licenciou-se em Gestão de Empresas em Lausanne, na Suíça. Em 1985 assumiu a gestão do negócio de família, a agência de viagens Escalatur. Em 2001, após a venda da agência aos espanhóis da Barceló permaneceu como diretora geral até hoje. Em junho deste ano foi nomeada country manager do grupo Ávoris em Portugal, cargo que vai assumir a partir do próximo dia 1 de setembro.
Curiosidades
Em criança sonhava ser bailarina. Adorava dançar e frequentava um grupo de dança jazz. Apesar da vida traçar-lhe outro caminho, nunca deixou o gosto pela dança. Hoje em dia frequenta aulas de flamenco e sevilhanas. Todas as semanas tem aulas e não falha. “É sagrado”. Como não é pessoa de virar costas a desafios, participou na festa de final de aulas, onde dançou para uma plateia cheia. A participação empenhada valeu-lhe os parabéns da professora e a ovação entusiasmada da família.
Restaurante Olivier Avenida
O conhecido restaurante do chefpreneur Olivier da Costa tem a sua esplanada renovada, mesmo a tempo de receber o verão. Foi neste espaço, descontraído mas ao mesmo tempo elegante, que decorreu o Conversas à Mesa.
Para assinalar esta novidade, o restaurante lançou recentemente um menu de degustação, disponível apenas às sextas e sábados, ao jantar. Tendo como base as tradições gastronómicas do Mediterrâneo, o novo menu é composto por pratos sofisticados, mas com o “toque caseiro” que o chefpreneur Olivier da Costa já nos habituou.