DESAFIOS DO TURISMO Num mundo em mudança
Leia a opinião por Vítor Neto, Empresário e Gestor, presidente do NERA, Associação Empresarial da Região do Algarve
Publituris
Comitiva portuguesa visita MITE a convite da APAVT
Royal Caribbean International abre primeiro Royal Beach Club em Nassau em 2025
Viagens mantêm-se entre principais gastos de portugueses e europeus, diz estudo da Mastercard
Álvaro Aragão assume direção-geral do NAU Salgados Dunas Suites
Lusanova e Air Baltic lançam “Escapada ao Báltico” com voos diretos
Conheça a lista de finalistas dos Prémios AHRESP 2024
Transavia abre vendas para o inverno e aumenta capacidade entre Portugal e França em 5%
FlixBus passa a integrar aeroporto de Lisboa na rede doméstica e internacional
Aeroporto de Congonhas lança programa de incentivo a voos sustentáveis
Icárion lança programação de cruzeiros fluviais para o verão e feriados de dezembro
O Turismo português acaba de viver um momento de grande apoteose, com dezenas de prémios europeus com que foi distinguido pela World Travel Awards. Além de «Melhor Destino Turístico» como país, foram distinguidas Regiões como a Madeira, o Algarve, Lisboa, os Passadiços do Paiva, o Turismo de Portugal, a TAP, o Turismo sustentável no Alentejo e 25 unidades hoteleiras de norte a sul do país. Não tenho qualquer dúvida em afirmar que os prémios são justos e vêm reconhecer o trabalho desenvolvido ao longo de anos pelas regiões e municípios, a qualidade e diversificação dos produtos, as diferentes empresas e setores de oferta, os profissionais e os organismos institucionais. Vêm consolidar as opções estratégicas seguidas, a atividade diferenciada e articulada de promoção, a afirmação de uma imagem, a aposta corajosa na dinâmica das novas tecnologias, que geraram novos comportamentos e revolucionaram as formas de intervenção da procura turística.
Ilações a retirar
A primeira é que, além da satisfação pelas distinções, que reforçam a imagem internacional de Portugal, não devemos repousar em cima delas e pensar que o sucesso está garantido. Não está. Temos muitas batalhas à nossa frente.
Estas distinções responsabilizam-nos em relação ao futuro. Não só porque estaremos sobre maior observação, mas também porque os potenciais turistas serão mais exigentes em relação a nós. Outra consideração é que temos de ter presente que vivemos num mundo em mudança. Estamos a viver um novo quadro político internacional – que é o palco onde se desenrola o turismo – que apresenta fortes sinais de instabilidade e incerteza. Não podemos pensar que não é connosco. Em Portugal, apesar de termos vindo a fazer um esforço de diversificação de mercados, devemos ter presente que mais de 80% dos turistas estrangeiros que recebemos provêm da Europa. Tenho-o referido muitas vezes, sublinho-o mais uma vez porque me parece que se continua a subestimar este quadro de partida. Os dados conhecidos do turismo deste ano (até finais de abril) são positivos, revelam crescimentos, mas também alguma desaceleração e comportamentos diferentes positivos e negativos de alguns mercados e nalgumas regiões. Sugerem acompanhamento atento. Tudo isto acontece num novo cenário que já estamos a viver em consequência da alteração já visível do quadro internacional. E não apenas devido ao Brexit, que está a caminhar para um cenário imprevisível – o que deveria também fazer refletir sobre algumas ilusões que têm circulado em Portugal. Temos de perceber que o quadro político saído da 2ª guerra mundial, que gerou uma aliança político-militar liderada pelos EUA e que garantiu a unidade das potências do Ocidente, entrou em crise e que isso vai ter consequências na Europa. Não só na economia, mas também nos comportamentos dos cidadãos e nas suas movimentações. Os sinais são claros: a viragem da política dos EUA em relação à Europa e aos seus aliados da NATO; a crise acelerada da UE, com o desentendimento entre os principais membros e o surgimento de atitudes eurocéticas, nacionalistas e xenófobas; as inevitáveis e imprevisíveis consequências económicas e políticas do Brexit; a pressão da atitude imperial da Rússia de Putin; a política global e de expansão da China e a deslocação do eixo geoestratégico mundial para a Ásia/Pacífico.
Tudo isto pode vir a ter impacto no Turismo
As consequências da evolução deste quadro, além de políticas, podem vir a afetar a atividade económica com consequências nas decisões dos consumidores e, inevitavelmente, na dinâmica do Turismo – que movimenta milhões de pessoas e onde o clima de estabilidade, serenidade e de confiança é decisivo. Repito o que já aqui referi há poucos meses e que é bom não esquecer: o Reino Unido é o 2º maior mercado emissor de turistas da Europa e também o 1º mercado turístico de Portugal, onde gastou 2,8 mil milhões de euros em 2018, isto é, cerca de 18% do total das receitas externas geradas pelo turismo. Portugal tem de se preparar para eventuais cenários com fatores negativos. Tem todas as condições para o fazer, produto, oferta, imagem e capacidade competitiva, mas precisa de consolidar a sua estratégia e melhorar ainda mais a sua presença. Persistem muitos fatores menos bons, tal como a mobilidade e as infraestruturas nalgumas regiões, como o Algarve, alguma pressão nalguns destinos urbanos como Lisboa, algumas contradições geradas por falta de clarificação sobre a legislação do «alojamento local», que tem situações diferentes de região para região, preocupações com a evolução da capacidade de resposta atempada à situação aeroportuária de Lisboa. Importa também ter presente que se impõe intervir também na batalha das ideias, pois começam a ganhar força muitas posições tendenciosas contra o Turismo, tendo por base o aproveitamento de alguns fatores negativos, que os há e não são poucos. Não basta fingir que nada se passa. Deve-se ter a coragem de os analisar e discutir com frontalidade, e apresentar propostas válidas para eliminar as causas. Continuo a pensar que persiste uma certa subestimação ideológica e uma atitude de superficialidade política em relação à importância da economia do Turismo (VAB, PIB, exportações, emprego, desenvolvimento regional). Considero que, neste momento, o peso do Turismo no quadro atual do equilíbrio da nossa economia é insubstituível. Sendo vital reforçar todos os outros setores. Importa afirmá-lo e demonstrá-lo. Uma coisa é certa: o Turismo não pode crescer ao infinito e ao acaso. As regiões são todas diferentes como território e recursos, a origem dos turistas é variada e Portugal, com a dimensão que tem, deve ter como objetivo conseguir afirmar uma estratégia nacional e articulada regionalmente, em associação coerente de produtos e ofertas. Com uma direção política forte. Se não o fizer, terá dificuldades em consolidar o que já é e não conseguirá preparar-se para as duras batalhas que vão surgir.
Por Vítor Neto
Empresário e Gestor, presidente do NERA, Associação Empresarial da Região do Algarve
*Artigo publicado na edição de 21 de junho.