Opinião | Turismo 2019: Questões de fundo, Nova conjuntura
Leia a opinião de Vítor Neto, empresário e gestor, presidente do NERA, Associação Empresarial da Região do Algarve.
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A problemática do Turismo continua em movimento. Sucedem-se situações novas a exigir respostas rápidas.
Penso que é oportuno tentar estabelecer uma plataforma sólida, separando as diferentes linhas de reflexão e atuação, de forma a não confundir planos. A base de partida é clara: a consciência de que o Turismo é uma das atividades mais importantes da economia mundial. E continua a crescer.
Os dados de 2018 estão aí: 1400 milhões de chegadas de turistas internacionais, com a Europa a representar metade. Um crescimento de 6% em relação a 2017, que já tinha crescido 7%. A OMT prevê um crescimento a nível mundial e europeu entre 3 e 4% para 2019.
Estes valores constituem o segundo maior crescimento da última década e antecipam em 2 anos as projeções mundiais de 2010 da OMT. As chegadas de turistas internacionais duplicaram em 15 anos. Portugal está neste quadro. Como destino turístico ocupa o 17º lugar a nível mundial em chegadas de turistas e o 21º em receitas (externas). É relevante. Portugal consolidou os resultados de 2017, voltou a crescer em 2018, ainda que a um ritmo menor, e tem perspetivas de resultados positivos, ainda que diferenciados por região, para 2019. Em 2018 as receitas (externas) do turismo português terão ultrapassado os 16, 5 M milhões de euros, consolidando a posição de 1º setor exportador do país.
Ao termos agora de enfrentar novos desafios – a começar pela perspetiva de abrandamento da conjuntura económica internacional – temos de ter esta base sólida de partida sempre presente. Separando os fatores estruturantes do Turismo – que se mantêm – das questões conjunturais ou setoriais, como Reino Unido/Brexit, ou situações negativas de determinados setores, como a crise de companhias aéreas.
Conjuntura internacional.
Não está prevista pelos organismos internacionais uma crise como a de 2009, mas apenas uma desaceleração do crescimento, que eventualmente poderá dificultar o ritmo de aumento das viagens de Turismo. Devemos, pois, ter presente que se vai agudizar a concorrência, sendo necessário adaptar a política comercial, a promoção, as parcerias e a seleção de prioridades, a essa situação.
Reino Unido/Brexit.
Há quem não tenha ainda entendido que o risco que corre o nosso maior mercado internacional (2,6 mil milhões de receitas externas), é real – com Brexit consensual, ou não. Não é só Algarve e Madeira, é a Balança Comercial do país que está em jogo. Parece que há quem esteja à espera que «isto» passe e volte tudo a ser o que era. É uma atitude errada e perigosa.
Companhias low cost. Ryanair.
Já tivemos as falências (2017/18) da Monarch, da Air Berlin, da Niki. Sabemos o que isso nos custou nos mercados britânico, holandês, alemão. Agora temos a falência da Germania Airlines. Trata-se de golpes sérios, que testemunham a instabilidade do setor do transporte aéreo low cost na Europa, de onde provêm 85% dos nossos turistas.
Agora temos a crise na Ryanair. É uma má notícia. O abalo na irlandesa Ryanair (a maior low cost da Europa, com 140 mil lugares de oferta, sendo a EasyJet a 2ª. com 100 mil) com o recente afastamento do sr. Michael O´Leary da direção estratégica da companhia, em consequência dos prejuízos em 2018, é preocupante. As consequências não podem ser boas. A Ryanair irá tomar medidas para cobrir prejuízos: eventual revisão da estratégia, o que pode querer dizer racionalização das rotas (quais?), redução de custos (onde?), política de preços (subidas?). Tendo presente que os destinos não representam para eles o mesmo interesse. Em Portugal as low cost representam 40% do mercado, e o Algarve é o principal destino da Ryanair. Consequências?
É um novo ciclo que se abre para o transporte aéreo associado ao Turismo na Europa. Conhecemos bem nos últimos 15-20 anos o colapso de companhias de bandeira, a redução drástica dos charters, e o desaparecimento de inúmeras companhias low cost que tentaram fazer frente à implacável política concorrencial da Ryanair.
A própria OMT (janeiro 2019) confirma estas preocupações ao incluir alguns destes setores como fatores de risco para o Turismo mundial.
Estamos perante uma nova realidade.
Não se pode fingir que nada está a acontecer. Importa refletir.
Empresários, instituições, regiões, setores.
Não basta otimismo genérico. É preciso trabalhar a sério.
Por Vítor Neto, empresário e gestor, presidente do NERA, Associação Empresarial da Região do Algarve