Opinião | Um maestro e uma orquestra afinada
Leia a opinião por Por Ana Jacinto, secretária-geral da Associação da Hotelaria, restauração e Similares de Portugal.
Publituris
Savills aponta para aumento do volume de investimento em hotéis europeus face a 2023
Volume de negócios no setor das viagens e turismo caiu 14,9%
Macau facilita entrada de portugueses com passagem automática na fronteira
easyJet corta voos para Israel até outubro
W Algarve tem novo diretor-geral
Nações Unidas discutem papel do turismo para o desenvolvimento sustentável
Quinta de S. Sebastião abre portas ao Enoturismo
Solférias esclarece desaconselhamento de viagens para o Egito
Tiger Team reclama infraestruturas de raiz para servir o MICE
ALEP passa a integrar o novo Conselho Diretivo da CTP
Apesar da quantidade e da expressão dos festivais a que hoje assistimos ter aumentado exponencialmente ao longo das últimas décadas, a verdade é que eles existem desde datas das quais não temos memória.
Em tempos idos os festivais aconteciam para promover eventos necessários à vivência quotidiana das comunidades, como era o caso das feiras onde se realizavam as trocas comerciais ou das festas e celebrações de natureza religiosa, portanto eventos integrados na orgânica do dia-a-dia dos cidadãos.
Hoje, os festivais são criados por razões essencialmente económicas, mas também por razões sociais e culturais, tendo como expoente máximo a promoção dos denominados “festivais de verão”, de índole musical e que são anunciados assim que termina a edição anterior.
Desde cedo são lançadas as datas dos festivais, bandas de renome, a par de novas bandas e novas promessas, todos reclamando ser “o melhor festival deste verão”. Assim que anunciado o primeiro “cabeça-de-cartaz”, surge a habitual correria às bilheteiras, fazendo com que esgotem mais de meio ano antes da sua realização, como aconteceu no caso do NOS Alive, com Pearl Jam como cabeça-de-cartaz, cujos bilhetes esgotaram a 5 de dezembro de 2017, para um concerto que viria a acontecer a 14 de julho de 2018.
Atualmente, Portugal tem o enorme privilégio de estar na rota das grandes tours e dos grandes concertos, que acontecem um pouco por todo o país, de norte a sul, alguns deles até em localizações pouco prováveis. Portugal é hoje palco de alguns dos festivais de verão mais procurados da Europa, surgindo nos headlines da imprensa estrangeira como ‘the ones you can’t miss’. E isso diz muito da sua qualidade.
Os festivaleiros internacionais chegam em força seja para o Vodafone Paredes de Coura, no coração do Minho, o Milhões de Festa em Barcelos, o Neo Pop em Viana do Castelo, o reconhecido NOS Primavera Sound no Porto, o Meo Marés Vivas em Vila Nova de Gaia, o RFM Somnii na Figueira da Foz, o MEO Sudoeste na Zambujeira do Mar ou o Boom Festival em Idanha-a-Nova, onde, de dois em dois anos, encontramos milhares de visitantes.
Se nos dirigirmos para a região de Lisboa, então aí a oferta é muita e variada e chega a públicos muito diferenciados. NOS ALIVE, Rock in Rio, Vodafone Mexefest, Super Bock Super Rock, EDP Cool Jazz, Sumol Summer Fest e Sol da Caparica, são apenas alguns exemplos dos eventos que, todos os anos, nos trazem muitos milhares de turistas.
Perante esta verdadeira atração por Portugal, há que saber retirar daí dividendos, pelo que é essencial uma estratégia devidamente pensada e concertada que permita retirar o máximo partido de todas estas pessoas que chegam até nós, na certeza de que, muitas delas nunca visitaram o nosso país e estão completamente disponíveis para serem ‘conquistadas’ por tudo o que de bom lhes pudemos oferecer. É absolutamente necessário que estes grandes eventos de música sejam vistos como atrações turísticas de valor único para as localidades e comunidades onde se inserem.
E para isso é crucial que, quando um turista chega, por exemplo, a Viana do Castelo, lhe sejam garantidas as melhores alternativas e a mobilidade suficiente para conhecer a região – desde os museus, às praias, às igrejas, aos restaurantes, entre muitas outras atrações para descobrir. Quem diz Viana do Castelo, diz todas as regiões do nosso território.
Sabemos que mais de 50% dos festivais ocorrem entre 1 de julho e 15 de setembro, em pleno pico do verão, altura do ano em que Portugal é já muito procurado como destino de praia, natureza e aventura. Devemos agora saber transportar esta mais-valia que nos é dada por estes eventos musicais para os restantes meses do ano – e temos tudo para que isso aconteça.
Os nossos festivais podem e devem ter um papel essencial na promoção turística do nosso país, através de parcerias com entidades públicas e privadas, de forma a transformar este público – que chegou a Portugal muitas das vezes com o propósito único de assistir a um festival – em turistas elegíveis com vontade de visitar as nossas atrações, comer nos nossos restaurantes, ficar nos nossos hotéis, o maior número de dias possível e, mais importante, partir com o desejo de regressar.
Segundo dados do Turismo de Portugal, foram quase 70 mil os estrangeiros que compraram bilhetes para os oito maiores festivais de música realizados em Portugal no ano de 2016. Já em 2017, estima-se que só o NOS ALIVE tenha recebido cerca de 22 mil estrangeiros. Estes são números que apesar de já muito significativos, têm ainda uma grande margem de crescimento, isto se tivermos em conta os 800 mil visitantes para eventos de música no Reino Unido.
Na verdade, a par de muitas outras áreas, como a hospitalidade, o clima ou a gastronomia, temos também dos melhores Festivais de Música da Europa, o know-how, as infraestruturas e públicos disponíveis para conhecer um país maravilhoso, que é o nosso. Haja um maestro e uma orquestra bem afinada e o turismo será (cada vez mais), a nossa melhor música.
*Por Ana Jacinto, secretária-geral da Associação da Hotelaria, restauração e Similares de Portugal (AHRESP)
Artigo publicado na edição de 3 de Agosto do Publituris.