Operações turísticas em Beja são “mais caras” e não “agradam” aos consumidores
Depois da sugestão do ministro do Planeamento e das Infra-estruturas, a APAVT considera que a experiência das operações este ano no aeroporto alentejano comprovam o fraco sucesso desta solução. Fecho da pista 17/35 do Aeroporto de Lisboa é uma das opções propostas.
Raquel Relvas Neto
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O congestionamento do Aeroporto Humberto Delgado levou a que um operador turístico tivesse de realizar algumas partidas à saída do Aeroporto de Beja no passado mês de Junho e ainda este mês de Julho (“Operadores turísticos deslocam operações charter para Aeroporto de Beja”).
Promover a utilização do Aeroporto de Beja para as operações turísticas charter nos próximos Verões é uma das sugestões que o ministro do Planeamento e das Infra-estruturas, Pedro Marques, apresentou, esta quarta-feira, em audição parlamentar (“Governo quer operadores turísticos a usarem Aeroporto de Beja”)
Para o presidente da Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo, Pedro Costa Ferreira, a sugestão apresentada tem dois problemas: o aeroporto de Beja “não é uma infra-estrutura mais barata para a operação turística” e “é uma infra-estrutura de difícil relacionamento com os consumidores [portugueses]”.
O responsável, que falava à margem da apresentação do 44º Congresso Nacional da APAVT, esclarece que “ a principal dificuldade é a localização geográfica, que afasta por completo o mercado consumidor nortenho, um dos mais importantes, senão o mais importante, para alguns destinos das operações turísticas portuguesas”. Costa Ferreira explica que para estes passageiros torna-se mais prático apanhar um avião em Vigo ou em Madrid do que demorar mais do que o tempo do próprio voo em deslocações para Lisboa e, posteriormente, Beja de autocarro.
Tendo como exemplo as operações realizadas no passado mês de Junho à saída de Beja, o responsável indica que estas, inicialmente completas, saíram apenas com metade da lotação, tendo a outra metade dos passageiros desistido e sido ressarcida na totalidade, custo absorvido pelo próprio operador turístico. Com esta experiência, a solução de Beja revelou-se capaz de suscitar “pouca adesão” e agrado por parte dos consumidores.
O presidente da APAVT reconhece que é “um enorme mérito [o ministro] estar preocupado com a situação”, mas acrescenta que existem soluções mais eficazes a curto e médio prazo. “A APAVT sabe que existem algumas soluções estruturantes, algumas de curto prazo que se impõem e que beneficiem a operação do aeroporto de Lisboa. Uma delas é o fecho da pista 17/35, que permitia maior capacidade de parqueamento das aeronaves, e com isso maiores níveis de performance e de pontualidade e, mais do que isso, permitiria a construção da nova torre [de controlo aéreo] que é absolutamente necessária para um novo sistema de controlo de navegação aérea sem a qual esses níveis de performance também não melhoram. A curto prazo diria que a solução está ao nosso lado”. Segundo o responsável, a utilização da pista 17/35 é de menos de 1%, mas “aparentemente toda a gente está de acordo, (…) excepto a Associação Portuguesa de Pilotos de Linha Aérea que não tem sido favorável. Não conheço outra entidade que não queira fazer isso”. O presidente da APAVT sustenta que, se a pista fosse encerrada para permitir o parqueamento de aeronaves, que tem interferido com o decorrer do normal funcionamento dos slots no aeroporto, “uma progressão muito grande na nossa operação aeroportuária em Lisboa” iria acontecer.
Quanto ao médio prazo, encontra-se o aeroporto complementar do Montijo: “A grande verdade é que, enquanto não tivermos uma decisão de avançarmos para o Montijo, não temos a solução a médio prazo. Quanto antes melhor, mesmo que demore quatro anos. Todos esperam que a solução do Montijo permita um aumento dos movimentos por hora de 38 para mais de 70, está tudo dito relativamente ao poder dessa solução.”
Pedro Costa Ferreira reforça que as opções propostas, “quer de curto, quer de médio prazo, além de melhorarem a capacidade de fazer operações turísticas de ‘outgoing’, têm muito maior importância para o País, por permitirem um aumento brutal das operações de ‘incoming’, que é de onde vem a receita turística”.