Opinião | Fundamental pensar circular sem ser fundamentalista
Leia a opinião de Ana Jacinto, secretária-geral da Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP).
Publituris
Lufthansa faz mais concessões para aquisição da ITA
XLR8, D-EDGE e Guestcentric unem-se em evento no Porto
Antes da EuroPride em Lisboa, cidade do Porto recebe AGM da EPOA
Movimentação de passageiros nos aeroportos nacionais ultrapassa os 8,3 milhões nos dois primeiros meses
Proveitos no setor do alojamento continuam em alta em fevereiro
Albufeira marca presença na Nauticampo
Media Travel ganha torneio de bowling da Turkish Airlines e vai representar Portugal na Turquia
Alto Côa é a 11ª Estação Náutica certificada do Centro de Portugal
Grupo Air France-KLM mantém interesse na privatização da TAP
Nova edição Publituris Hotelaria: Entrevista a Elmar Derkitsch, diretor-geral do Lisbon Marriott Hotel
Todos concordamos que já não restam quaisquer dúvidas quanto à imperativa necessidade de cuidar melhor do nosso meio ambiente. Este é um conceito que cada vez mais está na ordem do dia, que assenta na sustentabilidade, e que consiste, muito resumidamente, em criar um ciclo de vida para os produtos que não terminem, invariavelmente, na sua qualificação de resíduos que não são aproveitados, como acontece na economia linear, que leva a problemas de escassez de matérias-primas e de prejuízos para o meio ambiente.
Desde logo temos de compreender que, o ponto a que chegámos hoje foi o reflexo de décadas e décadas em que se menosprezaram estas questões. Apesar da consideração que sempre tive pelo intelecto dos meus antepassados, duvido que os meus avós, que sempre estiveram muito à frente do seu tempo, alguma vez tenham ouvido falar em reciclagem, reutilização ou sustentabilidade ambiental, e não estamos a falar de há tantos anos assim.
É certo que esta mudança de paradigma vai obrigar também as nossas empresas a repensar a sua forma de atuação e as suas estratégias. Necessariamente têm de “pensar circular”, mas este é um paradigma que é transversal a todos, desde consumidores, a empresas, até às entidades públicas. E é por esta razão que não se pode colocar o ónus no fim da cadeia, ou seja, apenas nos agentes económicos.
Ora, é neste momento que quem está a ler este artigo, estará a questionar o caminho deste meu raciocínio e qual o porquê desta minha afirmação.
E a resposta é simples. “As asas” da nossa reconhecida e profícua prática legislativa, levaram o nosso legislador (leia-se parlamento/deputados), a quererem proibir, de um dia para o outro, os utensílios plásticos de refeição que sejam descartáveis, como copos, pratos, talheres, palhinhas e palhetas. Tudo acompanhado de um regime sancionatório à altura, havendo mesmo propostas que qualificam o seu uso como contraordenação ambiental muito grave (a mais gravosa deste regime), o que implica coimas de muitos milhares de euros. Ou seja, caso o “fiscal da palhinha” detete uma infração (uso da palhinha), o agente económico sujeita-se ao pagamento de uma coima mínima de € 24 000, que pode ir até aos € 144 000 em caso de negligência, mas se for em caso de dolo vai de € 240 000 até aos € 5 000 000 (cinco milhões de euros). Portanto, tudo muito proporcional e equilibrado, eu diria!!!
E tudo isto sem uma concreta avaliação quantitativa do problema que, se fosse devidamente estudado, facilmente chegaria à conclusão que os estabelecimentos de Alojamento Turístico e de Restauração e Bebidas utilizam a tradicional loiça de vidro e talheres metálicos, e não utensílios de plástico, cujo uso é meramente residual quando comparado com a totalidade do consumo. Basta olharmos para as grandes superfícies, frequentadas maioritariamente por consumidores domésticos, para verificarmos que estas dedicam corredores inteiros à venda destes utensílios.
Acresce ainda, que a maior parte da utilização que é feita nestes setores, advém de situações em que não é possível dispensar a utilização deste tipo de loiça descartável, nomeadamente nas prisões, creches, infantários e escolas (motivos de segurança), nos hospitais (motivos de saúde pública e de doenças infectocontagiosas), bem como outras exceções em que será difícil não utilizar plástico (serviços junto a locais que não permitem vidro por exemplo piscinas ou esplanadas nas praias). Assim, é importante que se pense previamente também em soluções alternativas e que sejam economicamente viáveis.
Tudo isto para dizer que, uma vez mais, se está a começar pelo fim, ao invés de se investir na formação, na sensibilização e na autorregulação, que se tem revelado muito mais eficaz e eficiente, quando comparado com a via legislativa-repressiva, não esquecendo nunca o papel fundamental da educação ao nível escolar, na certeza de que já não seremos nós mas sim as próximas gerações a fazer a verdadeira mudança, desde logo, de mentalidade.
Por último, um apelo para que, sob o pretexto ambiental, não se venha impor a aplicação de novos impostos e/ou taxas que criem mais custos de contexto e prejudiquem a atividade das nossas empresas, com a inevitável burocracia e perda de produtividade, de competitividade, e de postos de trabalho. Criem-se sim, incentivos para as boas práticas que, por certo, terão a adesão destes setores que já são hoje atividades socialmente responsáveis, e até inovadoras, no que toca a práticas amigas do ambiente e da sustentabilidade ambiental.
Falamos de sustentabilidade, pelo que seria um contrassenso que tal venha a tornar as empresas, elas próprias, insustentáveis.
Neste, como em todas as outras áreas, exige-se bom senso e ponderação. É fundamental pensar circular, mas não sejamos fundamentalistas.
*Por Ana Jacinto, secretária-geral da Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP)
Artigo publicado na edição 1367 do Publituris.