Vítor Neto “Turismo – Certezas & Incertezas”
Leia a opinião por Vítor Neto – Empresário e Gestor, presidente do NERA, Associação Empresarial da Região do Algarve.
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São muitas as certezas no Turismo. Felizmente.
Portugal é um país bem posicionado para o sucesso sustentado numa atividade tão rica, como complexa e altamente competitiva.
Mas não pode viver de ilusões, nem de oportunismos nos palcos da demagogia política do reality show caseiro.
Portugal tem de ter consciência das suas potencialidades – território, recursos, ofertas – mas também dos riscos e desafios permanentes.
O Turismo é uma atividade económica extraordinária à escala mundial. São mais de 1200 milhões os turistas internacionais que anualmente se movimentam por esse mundo. E o turismo interno mobiliza ainda mais de 6000 milhões. A OMT prevê a continuidade dos crescimentos.
O Turismo é o terceiro maior setor exportador no Mundo (depois de químicos e combustíveis). Gera anualmente mais de 1100 milhares de milhões de euros de receitas (externas).
Entre os principais destinos turísticos encontram-se os países mais ricos ou com economias poderosas: Estados Unidos, França, Espanha, China, Reino Unido, Alemanha, Itália, Tailândia, México, Austrália, Japão, etc. Estão também entre eles os maiores consumidores turísticos do mundo.
A Europa é o Continente que recebe mais turistas internacionais: cerca de 50% do Turismo mundial. Vai continuar a ser assim.
Portugal, neste quadro, tendo em conta a sua dimensão e nível de desenvolvimento, ocupa uma posição interessante nos vários rankings mundiais.
Entre eles, há um dado pouco referido em Portugal: para além de ter também o Turismo como 1º setor exportador de Bens e Serviços (em companhia com os EUA), Portugal ocupa a relevante 10ª melhor posição mundial no saldo positivo (9800 milhões dólares/2016) da Balança Comercial de Viagens e Turismo (Barómetro OMT, Anexo 15 – junho 2017).
A importância do Turismo na Economia do país é uma certeza insofismável.
E as incertezas?
Algumas dependem de nós.
São muitas e algumas perigosas. Só a irresponsabilidade política as pode ignorar. O cavalgar político desenfreado dos «números», além de demagógico, é irresponsável, pois convida ao facilitismo infantil (galinha, petróleo, bananeira, etc.), à ideia de que estamos destinados a ser sempre «os maiores».
A principal incerteza é de ordem política. É nossa responsabilidade direta. O que atinge e desgasta o Turismo é a superficialidade na abordagem à realidade do setor, que leva a atitudes imediatistas e a um permanente navegar à vista, cavalgando euforicamente os momentos «bons» e esquecendo-o envergonhadamente quando os «números» são maus.
Ou quando, por exemplo, se ignoram novas realidades que vão surgindo. Veja-se o perigo da incapacidade (fuga) das várias entidades em enfrentar as contradições geradas (contraste de interesses) pelo mosaico da nova realidade de Lisboa: a) «recuperação» de prédios urbanos/investimento imobiliário; b) arrendamento tradicional; c) alojamento local verdadeiro; falso alojamento local .
Espetadores confusos: os cidadãos perplexos por falta de rumo claro. Eleições, claro. Mas quanto mais tarde refletirem, decidirem, atuarem, pior!
O réu está já garantido: o turismo!
Temos no Turismo um fator político negativo permanente no país: inexistência de uma estratégia coerente com direção política forte e eficaz. Estratégia nacional. Estratégias regionais e municipais. Estratégias setoriais. Objetivos.
As «prioridades»: sempre condicionadas por eleições. Governo e oposições. Vivemos oscilando entre sermos «os melhores do mundo», os que «mais crescem» e, em caso de crise, afirmarmos que afinal o sucesso só foi fruto da conjuntura, para concluirmos que «o turismo pouco vale». Como se dizia ainda há poucos meses e se poderá dizer amanhã, se os resultados voltarem a ser menos favoráveis.
É a realidade: é útil não esquecer que tivemos uma década (2002/2012) sem crescer. Não houve governos? Não há responsáveis?
Estes são elementos de fundo do Turismo.
Se não os enfrentarmos não poderemos olhar o futuro com confiança.
Foi o que aconteceu várias vezes, com governos de diferente orientação. Sem estratégia, sem dirigentes conhecedores, sem capacidade política de execução. Saltitando entre oportunismo dos «números», demagogia ou silêncios. Evidentemente que qualquer estratégia correta deve ser sempre acompanhada pela ação insubstituível dos empresários e investidores, e dos profissionais do Turismo. Sem eles não há Empresas e Emprego, nem Desenvolvimento.
As incertezas que não dependem de nós
São muitas, algumas imprevisíveis, de difícil resposta e até dramáticas. Mas não podem ser ignoradas, confiando na sorte, no sermos «os melhores» e ganharmos todos os «prémios».
Devemos estar sempre preparados para as enfrentar, conter e superar.
O Turismo depende, em primeiro lugar, da evolução da economia a nível global, que condiciona a disponibilidade dos potenciais mercados e clientes para o consumo turístico. É fácil de demonstrar: basta analisar um gráfico (OMT) da evolução mundial das viagens turísticas e verificar a quebra nos anos de crise: 2004, 2009 (Barómetro OMT, jan 2017, Pag. 3).
Além disso, no caso concreto de Portugal, uma crise na economia internacional e (ou) de poder de compra nos nossos principais mercados (Reino Unido, Espanha, Alemanha, França, etc.), tem como consequência imediata uma quebra nas chegadas de turistas e nos seus gastos.
Temos de evitar os «fatalismos» e os «choradinhos» (passa-se facilmente da glória à tragédia) e estar preparados para responder com medidas de emergência. A recente problemática do «brexit» – de consequências ainda imprevisíveis – devia conduzir-nos a essa atitude.
Finalmente, o outro grande fator condicionante de qualquer estratégia de Turismo, que é completamente imprevisível, hoje mais do que nunca: a Segurança e a Paz no mundo e a tranquilidade social nos mercados que geram os nossos turistas e no nosso país. Fatores que condicionam não só a deslocação mas também a disponibilidade e a tranquilidade que estão na base das motivações e opções dos potenciais turistas para as viagens de férias e lazer. Os «bons» números alcançados, nunca estão garantidos.
Sim, pode-se continuar a crescer
Basta perceber em que mundo estamos, ter consciência do valor da nossa oferta rica e diversificada, conhecer a especificidade do setor, os diferentes mercados e os potenciais clientes.
Definir uma estratégia inteligente adequada.
Consagrar prioridades e objetivos. E atuar!
Só assim se podem ultrapassar as incertezas e confirmar as certezas.
*Por Vítor Neto – Empresário e Gestor, presidente do NERA, Associação Empresarial da Região do Algarve