Conversàs à Mesa | Paula Oliveira
Paula Oliveira, directora executiva de Turismo de Lisboa, foi a convidada do Conversas à Mesa que decorreu no restaurante Bastardo, do Internacional Design Hotel.
Carina Monteiro
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Paula Oliveira, directora executiva de Turismo de Lisboa, foi a convidada do Conversas à Mesa que decorreu no restaurante Bastardo, do Internacional Design Hotel.
A escolha do restaurante Bastardo, no primeiro andar do Internacional Design Hotel, em Lisboa, foi uma feliz coincidência. Coincidiu com o gosto de Paula Oliveira por restaurantes no 1ª andar, e uma vista sobre o centro da cidade que tão bem conhece e promove há 20 anos. Os mesmos em que é directora executiva do Turismo de Lisboa.
Nascida e criada em Lisboa, foi uma criança um pouco rebelde, arrapazada até. “A minha mãe lá tentava fazer alguma coisa do meu cabelo”, recorda. Apesar de filha única, contou sempre com amigos e primos, numa infância que descreve de “maravilhosa”.
Completou a escola primária no Externato S. Pedro de Alcântara, ao pé de casa, na Estrada da Luz. Pouco depois, deu-se o 25 de Abril, período do qual guarda muitas memórias. “Tive a felicidade de ver todas essas circunstâncias, ia às manifestações com os meus pais. Já havia na altura uma consciência política na família.” A vivência desse momento, ainda que fosse criança, revelou-se fundamental para que não receasse as mudanças. “Ainda hoje não tenho medo das mudanças, a nossa vida muda, as nossas circunstâncias mudam”.
Andou no Colégio Moderno e terminou o Ensino Secundário numa escola na Cidade Universitária. Entrou depois na Universidade em Gestão, mas percebeu que aquilo não era a sua praia e mudou para Comunicação Social, porque não é pessoa de perder muito tempo, e muito menos tem medo das consequências das suas decisões.
Entrou em Comunicação Social, no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, conhecida com Universidade Técnica na altura, no ramo de Relações Públicas, Publicidade e Marketing. O curso tinha uma componente política que a interessou, teve aulas com professores como Adriano Moreira. “A verdade é que aquilo quase que parecia um curso de cultura geral, abarcava uma serie de disciplinas que me vieram a ser muito úteis pela vida fora”.
Não era uma aluna muito aplicada nos primeiros anos, confessa. “Depois apliquei-me mais, também porque tinha outra maturidade, e porque comecei a ver que a vida não eram bonecos”, conta.
Câmara Municipal de Lisboa
Saiu da Faculdade e trabalhar na Função Pública não era algo que estivesse planeado. Mas aconteceu e por intermédio de um colega com quem tinha trabalhado na revista Marketing&Publicidade. “Recebi um telefonema dessa colega que me disse que existia um trabalho na Câmara que era a minha cara”. Teve uma entrevista com o vereador da Cultura na altura, em 1988. O trabalho tinha a ver com a recém-criada Lei do Mecenato: fazer o levantamento de todas as empresas susceptíveis de poderem patrocinar eventos culturais. Foi o seu primeiro trabalho na Câmara. Seguiram-se outras funções, também na Cultura. Era Paula Oliveira quem fazia a Agenda Cultural.
Entretanto, em 1990, ano de eleições autárquicas, Jorge Sampaio ganhou a Câmara de Lisboa, e o vereador da Cultura na altura era João Soares, que tinha tido um acidente grave e não pôde estar presente nos primeiros meses. Jorge Sampaio tinha assessores, entre os quais Miguel Portas, que era da área da Cultura. Nessa altura, Paula Oliveira decidiu concorrer para a uma vaga no departamento de Marketing de uma companhia de seguros e foi aceite. Comunicou a decisão de sair da Câmara a Miguel Portas, mas este convenceu-a ficar, afinal tinham acabado de iniciar um novo mandato e existiam muitos projectos para desenvolver. “Ele disse-me: vamos fazer uma serie de festivais, vamos dar a volta à cultura”, conta. “E eu sou muito agarrada a Lisboa e gosto de fazer trabalhos práticos, que se vêem rapidamente, não sou de grandes conjecturas. Gosto de trabalhar e ver os resultados”. Por isso decidiu ficar. Começou por trabalhar nos festivais, o primeiro foi o Festival de Verão. “Foi aí que aprendi sobre produção de espectáculos”, conta. Recorda também o primeiro mega concerto no Estádio de Alvalade, os Rolling Stones, em Junho de 1990. Depois trabalhou nas Festas de Lisboa, que começaram por ser um projecto do departamento da Cultura e passaram para o Turismo. É aí que se inicia a ligação ao Turismo. Entretanto, como era formada em comunicação, ainda trabalhou como assessora de imprensa, depois passou para o gabinete do vereador do Turismo. “Tive oportunidade de ver várias temáticas e formas de trabalhar no seio da Câmara Municipal e, estou no Turismo de Lisboa há 20 anos, mas estou com destacamento, sou da Câmara Municipal de Lisboa, é o meu lugar base, do qual me orgulho muito”, afirma. Foi nomeada directora do Departamento de Turismo da CML em 1995. “Nessa altura, era tudo muito diferente, tínhamos uma parceria Costa de Lisboa com a Costa Azul, Sintra e Cascais. Tínhamos um orçamento pequeno, mas era o Departamento que geria os postos de Turismo da altura. Era uma circunstância muito diferente.” A Expo 98 aproximava-se e o destino “já estava a pedir mais”.
Turismo de Lisboa
A CML, na figura do seu vereador do Turismo, e com “o apoio incondicional do presidente da Câmara, João Soares”, criou a Associação Turismo de Lisboa e Paula Oliveira tornou-se directora executiva desta nova entidade, que congregou o sector público e privado da cidade de Lisboa. “Os primeiros anos foram difíceis”, reconhece. “As mentalidades não se mudam em dois dias, contou-se com o apoio incondicional de várias pessoas e várias instituições, mas a verdade é que algumas pessoas estranhavam. Teve que haver uma grande sensibilidade de gerir o que é público e o que é privado. Fomos pioneiros nesta matéria”, afirma.
Como é que se ultrapassou isso? “Há sempre anti-corpos nas mudanças e temos de saber contar com isso e aceitar, o nosso papel não é minimizar essas opiniões, é integrar essas opiniões ou eventuais desconfianças. Penso que se conseguiu. Hoje em dia, é irrefutável o sucesso que essa parceria público-privada veio trazer ao Turismo e à cidade. Mais importante que tudo isso é ter havido capacidade de juntar e gerir vontades.”
Vinte anos depois, e com o orgulho de quem contribuiu para a afirmação da ATL, reconhece que teve de fazer alguns sacrifícios pessoais, mas não se arrepende. “Muito pouca gente teve a oportunidade que tive, tenho a agradecer 100% e tento corresponder da melhor maneira possível com o trabalho que faço, é a única maneira de retribuir a oportunidade que tive. Sinto como se tivessem dado uma caixinha de um lego”. Destacar os melhores momentos destes 20 anos do Turismo de Lisboa é uma tarefa difícil. “É difícil, não quero deixar nenhum para trás, isto faz parte de um conjunto. Para estarmos no top 10 da ICCA, todos os congressos contam, não apenas os maiores”, defende. “Penso que a reabilitação do Terreiro do Paço é um marco muito importante. Quem deu o pontapé de saída disso, é bom não esquecer, foi a CML quando tirou dali os carros, em 1997. Hoje é o que é, e já ninguém se lembra como era antigamente. E muito outros projectos. A quantidade de pessoas que já conseguimos influenciar, milhares e milhares de pessoas, os prémios, a imprensa internacional”, exemplifica.
Lisboa está neste momento no ponto onde sempre ambicionou que ela estivesse? Pergunto. “Vou ser honesta. Sempre tive esta ambição de fazer de Lisboa um local onde toda a gente põe um pin. Acho que estamos lá mas continuo a achar que há muito para fazer. Vai haver sempre que fazer”.
A cidade está na rota do Turismo mundial e Paula Oliveira partilha esse orgulho com toda a equipa e com a própria população de Lisboa. Não é de guardar louros para si. “Sou um bocadinho low profile, é de feitio e não é o meu papel”.
Daqui para a frente, tem o objectivo de reformar-se, diz em tom de brincadeira. “Mas ainda falta muito, o que é uma pena”, ri. “Todos os dias penso em não deixar de ter o discernimento de sair quando devo sair. Não quero sair por uma porta pequena”, revela.
Não está cansada, muito pelo contrário. “Gosto muito do que estou a fazer. Todos os dias vou com prazer para o trabalho, há vinte anos”. Mas não é por isso que não se chateia. “Há coisas que me tiram do sério. Aborreço-me imenso, mas tudo passageiro, o que interessa é o objectivo final”.
Elege três coisas que a tiram do sério: “Não me dou bem com a desorganização. Complica-me com o sistema nervoso. Não sou arrumadinha, mas tem de haver uma linha, uma regra. Outra coisa que me aborrece profundamente é a má gestão dos recursos. Tenho sempre a consciência que estou a trabalhar com dinheiro que não é meu. Tenho um respeito imenso por cada tostão que está ali. Também embirro com reuniões inúteis, que são aquelas que podiam ser resolvidas por telefone. Ainda há muita essa mentalidade de solicitar reuniões. Não quero com isto dizer que as reuniões são dispensáveis. Não exageremos”.
Vive em Lisboa e tem uma filha com 18 anos, a Inês, que estuda na Faculdade de Letras. É casada há 20 anos, com Vítor Costa, que conheceu na Câmara Municipal de Lisboa.
Há 15 anos consecutivos passa as férias grandes em Porto Santo, onde tem uma casa. Foi de férias, apaixonou-se pela ilha e dali a comprar casa foi um passo. Mas, em miúda as férias foram sempre passadas na zona Oeste, em Santa Cruz. Tem um lema de vida: “Não peças a quem pediu, nem sirvas a quem serviu”.
RESTAURANTE BASTARDO
Se há três anos a ideia de abrir um restaurante no primeiro andar de um hotel do Rossio parecia de loucos, hoje já ninguém tem dúvidas de que afinal era uma opção mais do que acertada. Ousado, divertido e cosmopolita, o Bastardo nasceu em 2014 e conquistou o seu lugar no coração (e no estômago) dos que vivem e dos que visitam Lisboa. Integrado no histórico Internacional Design Hotel, da SLH (Small Luxury Hotels of the World), dirigido por Liliana Conde, este filho ilegítimo da cozinha portuguesa é irrequieto, tem uma criatividade inesgotável e gosta de estar em constante mutação. Por isso mesmo, em janeiro de 2017 muda de rumo, dá as boas-vindas ao novo chef David Jesus e apresenta uma nova carta. Nesta cozinha de todos os amores proibidos, uma coisa é certa: as regras continuam a existir para serem quebradas, cada vez com mais técnica, sofisticação e modernidade. A gastronomia base do Bastardo vai permanecer portuguesa, mas a mistura de culturas nos sabores que chegam à mesa – onde, por magia, as calorias continuam a não contar – vão ganhar vida nova. Com aroma a Oriente.