Dossier Meeting Industry: Palco privilegiado
Portugal ocupou o 12º lugar do ranking da ICCA referente ao ano de 2015. O destino tinha assim subido três posições face ao ano anterior, fruto dos 278 eventos validados pela International Congress and Convention Association. Quanto à posição referente a 2016, apenas no próximo mês de Abril vamos poder descobrir se o destino se… Continue reading Dossier Meeting Industry: Palco privilegiado
Raquel Relvas Neto
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Portugal ocupou o 12º lugar do ranking da ICCA referente ao ano de 2015. O destino tinha assim subido três posições face ao ano anterior, fruto dos 278 eventos validados pela International Congress and Convention Association. Quanto à posição referente a 2016, apenas no próximo mês de Abril vamos poder descobrir se o destino se superou. Para já, as expectativas são que o ano vai ser “excelente”.
Que 2016 foi um bom ano para o Turismo em geral, não há dúvidas. Foram vários os segmentos que reflectiram esse bom momento do sector, como, por exemplo, a Meeting Industry. Mas há ainda muito para alcançar no que à realização de congressos e eventos em Portugal diz respeito.
Fruto disso é a aposta que a Secretaria de Estado do Turismo definiu no início de 2016, ao anunciar o lançamento de uma equipa especializada para a captação de congressos e eventos corporativos, que está a trabalhar “de forma agressiva internacionalmente em adequação com os convention bureau”. A equipa de Captação de Congressos Internacionais e de Eventos Corporativos é liderada por Joaquim Pires e, segundo Ana Mendes Godinho, que falava no congresso da APAVT, em Dezembro, já tinha assegurado a realização de 41 novos congressos internacionais em 2017, apesar de não se saber se já estavam contratualizados antes da criação da equipa ou não.
Em Julho foi também anunciado pela SET o lançamento do programa M&I Portugal (Meeting & Incentives Portugal), que se destina a apoiar a captação e realização de congressos e eventos corporativos em Portugal e vai vigorar até 2018. O programa, que vai ser objecto de monitorização durante todo o período de vigência, vai contar com uma plataforma online. Nesta é suposto divulgar-se os congressos e eventos corporativos que se realizem em Portugal, a oferta de espaços para a sua realização e um calendário de eventos, incluindo os culturais, desportivos e gastronómicos. Contudo, a plataforma ainda não foi lançada. O Publituris contactou o Turismo de Portugal para fazer um ponto de situação relativamente a este assunto, mas até ao fecho da edição não obteve qualquer resposta.
Aposta regional
Contudo, a aposta neste segmento não passa apenas pelo Governo, mas também pelas Agências Regionais de Promoção Turística.
Comecemos pelo Algarve. Alexandra Ramos, gestora de produto de MI do Algarve Tourism Bureau, refere que a “despesa média diária e o efeito multiplicador desta receita são geralmente superiores aos valores gerados pelo segmento de lazer”. Além disto, “é determinante para a atenuação da sazonalidade da procura, justificando muitas vezes que unidades hoteleiras se mantenham abertas na época baixa”. É neste sentido que, para os próximos anos, o Algarve tem como objectivo aumentar o número de eventos captados, reforçando o posicionamento como destino “privilegiado para incentivos e lançamentos de produto e bem equipado para acolher reuniões e conferências”. Apesar destas metas, a responsável admite alguns desafios para o destino e para o País: “Além de conseguir manter os elevados índices de procura que se registaram em 2016, com base na informação que temos recebido de hoteleiros, DMCs e dos próprios clientes, acredito que o maior desafio nacional seja conseguir conjugar o melhor da procura de MI com a operação turística de lazer. Para o Algarve o maior desafio é, sem dúvida, conseguir mais rotas regulares a operar todo o ano”.
Também no Centro de Portugal, o Turismo de Negócios “é um dos segmentos mais promissores em termos de perspectiva de crescimento a médio e longo prazo e Portugal tem vindo a investir e a qualificar-se, tanto a nível de infraestruturas como de capital humano”. Para Pedro Machado, presidente da ARPT do Centro de Portugal, o MICE é um segmento que permite “contrariar questões clássicas que afectam o turismo nacional e internacional, e que passam, por exemplo, pela sazonalidade e pela litoralização do Turismo. (…) Este segmento, bem estruturado e articulado com outros produtos, permite aumentar a duração da estada média, que em Portugal, e na Região Centro, é ainda muito baixa”. O Centro de Portugal reúne já um conjunto de espaços para a realização de eventos profissionais, científicos ou culturais que, segundo o responsável, “poderão contribuir, substancialmente, para a sua competitividade a este nível”. Face à “multiplicidade de qualidade e de oferta” da região, indica o responsável, “parece incontornável e natural a criação de um ‘Convention Bureau’ na Região Centro de Portugal, para a promoção do Turismo de Negócios/MICE”. O responsável recorda que, actualmente, existem apenas ‘convention bureaus’ no Porto, Lisboa, Estoril e Algarve, sendo estes os promotores elegíveis no acesso à concessão de apoio no âmbito dos projectos de captação de grandes congressos e eventos corporativos internacionais ou, à falta deste, as Agências Regionais de Promoção Turística. “Este será, com certeza, um dos próximos passos na estratégia de promoção e internacionalização da Região Centro de Portugal”, frisa.
Quanto aos Açores, apesar de terem a dificuldade acrescida das rotas aéreas para o destino, também se posicionam neste segmento e apostam na captação de congressos e incentivos. Mas, explica Francisco Coelho, presidente da Turismo dos Açores, a aposta recai na captação de eventos e congressos que estejam, de alguma forma, “relacionados com temáticas que se identificam com os Açores como por exemplo as ciências naturais, a biologia, energias renováveis, vertente cultural”. “Pretendemos com isso potenciar a notoriedade dos Açores e fortalecer o nosso posicionamento enquanto destino de Natureza”, sublinha Francisco Coelho, que enaltece a importância que o MI tem para “compensar a habitual diminuição de fluxos turísticos no período do Inverno”. Para ajudar à captação de eventos, o destino criou duas ferramentas: o microsite mi.visitazores.com; e uma brochura digital com a oferta dos Açores para este segmento. O presidente da Turismo dos Açores identifica alguns desafios que o destino tem pela frente neste segmento, concretamente relacionados com as infra-estruturas. “Especialmente no que diz respeito a venues trata-se sempre de um desafio constante, quer pela manutenção dos equipamentos existentes, quer pela aquisição de novos equipamentos, o que implica sempre um investimento que diz respeito a venues trata-se sempre de um desafio constante, quer pela manutenção dos equipamentos existentes, quer pela aquisição de novos equipamentos, o que implica sempre um investimento considerável”. Também a qualificação dos recursos humanos é apontada como um desafio para os Açores.
E, claro, há Lisboa e o Porto. Com 97 eventos confirmados para este ano no Porto e a Área Metropolitana do Porto, dos quais 66 são internacionais, o destino mantém o seu “contínuo investimento” neste produto turístico. Sandra Lorenz, directora Interina da Promoção Externa do Porto Convention & Visitors Bureau, explica que este investimento resulta numa aposta “no aumento e na diversificação das acções promocionais no destino e internacionalmente, no sentido de motivar potenciais organizadores internacionais a realizarem os seus eventos no Porto e Norte de Portugal”. O resultado deste investimento tem sido o posicionamento do Porto no ranking da ICCA. “O Porto tem vindo a registar um crescimento ano após ano desde 2010, validados de acordo com os seus critérios rigorosos. Desde então o Porto subiu 14 posições e surge assim na 42ª posição. Está neste momento, à frente de cidades de referência como Dubai, Nova Iorque, Genebra”, indica a responsável, mostrando confiança de que o destino vai voltar a subir no ranking que será divulgado em Abril. Na verdade, o Porto está a preparar-se para receber mais congressos de grande dimensão, mais não seja pela remodelação do Pavilhão Rosa Mota que abrirá em 2018 como Centro de Congressos do Porto.
A importância do MI para a capital portuguesa é relevante já há vários anos. Porém, recentemente, a Associação de Turismo de Lisboa lançou um programa próprio de apoio à captação e realização de congressos e eventos corporativos e associativos. Paula Oliveira, diretora-executiva da ATL, afirma que “este programa é uma ferramenta essencial para dinamizar Lisboa enquanto destino turístico com uma forte oferta de activos para a realização de congressos. O Turismo de Negócios permite elevar Lisboa para um novo patamar de excelência na promoção internacional e acreditamos que este programa contribuirá para consolidação da boa performance turística da cidade.” Os apoios à captação e realização de congressos e eventos corporativos e associativos na cidade de Lisboa são concedidos por escalões definidos pela ocupação individual de quarto (bednights), em função do número esperado de participantes e da época em que acontece o congresso ou evento. No entanto, para 2017, estão já agendados cerca de 170 eventos em Lisboa.
IVA é ”fulcral”
São vários os desafios que se colocam ao sector de MI em Portugal, mas o mais relevante é mesmo o IVA de 23% aplicado aos eventos realizados no País, indicam alguns ‘players’ do sector ao Publituris. Eduarda Neves, responsável do Capítulo de DMC’s da Associação Portuguesa de Agências de Viagens e Turismo, considera que este é “O” desafio do sector. “Temos vindo a trabalhar com o Governo no sentido de se encontrarem soluções que, contudo, estamos conscientes não serem nem fáceis, nem simples”, enuncia a responsável, que lembra “que a solução para esta questão não depende directamente da nossa tutela – Secretaria de Estado do Turismo – que nos tem transmitido, desde que expusemos o caso, partilhar desta preocupação e nos tem vindo a apoiar em todo o processo”. Também Madalena Miranda, country manager da AIM International, considera que esta é “uma questão fulcral para a captação de grandes eventos”. Segundo a responsável da DMC internacional a operar em Portugal, existem exemplos de “como esta questão tem sido contornada em Espanha, mas também temos consciência de que alterações a este nível têm de ser muito bem estudadas, de forma a evitar impactos negativos noutros sectores”. Já João Paulo Oliveira, CEO da Leading, não considera que este seja um entrave à actividade do sector, mas “é de facto um dos factores onde somos muito menos competitivos do que alguns dos nossos concorrentes, principalmente Espanha”. Porém o responsável não deixa de apontar que existem dois desafios relevantes ao sector: “O desafio de um regime fiscal mais competitivo e a necessidade de criação de uma oferta mais diferenciada”. Questionados acerca de outros desafios que se colocam ao segmento, há outro que é comum: a inexistência de espaços para acolher congressos de grandes dimensões. A responsável da APAVT refere que este “é, sem dúvida, um outro desafio à nossa actividade, assim como alguma falta de visão estratégica por parte de parceiros de negócio, que seduzidos pela perspectiva de resultados imediatos – eventualmente de alcance mais táctico – comprometem a realização de eventos que, pela sua natureza, carecem de mais planeamento.” Madalena Miranda aponta ainda a concorrência directa de outros destinos e países vizinhos que têm rotas aéreas directas de destinos importantes. O que “leva-nos a ter de ser mais criativos e encontrar soluções inovadoras para promovermos o nosso produto”. A country manager da AIM insiste ainda na questão da formação, que “é um aspecto fundamental e muitas vezes factor de exclusão para eventos mais complexos”. No entanto, ser “mais criativo e eficiente” é para Madalena Miranda o maior desafio que se coloca aos ‘players’ do segmento. Recentemente, o Governo relançou o Fundo de Captação de Congressos Internacionais, com novos critérios de eleição. Contudo, este já foi alvo de várias observações por aqueles que trazem eventos para o País. Madalena Miranda reconhece os esforços feitos, mas refere que “existe ainda um longo caminho a percorrer e podemos sempre melhorar”. Para o responsável é necessária uma “maior comunicação e mais clara entre os vários ‘players’ da indústria e a parte governativa”. João Paulo Oliveira vai mais longe. Admite que o Fundo de Captação do Governo é já “uma velha ambição”. “É um instrumento interessante se bem gerido, o que não me parece que esteja a acontecer”. O CEO da Leading recorda que o objectivo deste é “apoiar a captação de novos negócios e não financiar alguns que existem e são auto-sustentáveis”. Quanto a outros incentivos ao sector, o responsável refere que estes não passam por incentivos financeiros, mas sim “questões de outra natureza”. E enumera: “É fundamental cultivar em determinados meios – associativo, científico, universitário, etc – uma cultura de reconhecimento a todos os que trabalham para trazer estes grandes eventos internacionais para Portugal. É imprescindível que se comunique melhor com aqueles que são os iniciadores das candidaturas. É importante que se melhorem os suportes de venda neste segmento. Não vejo nenhuma entidade do sector a trabalhar neste sentido”.
2017
“Apesar de todos os constrangimentos”, Eduarda Neves considera que 2016 foi “um bom ano”. Já 2017, Madalena Miranda considera que traz “grandes expectativas de negócio”. “Portugal é um destino procurado por empresas de todos os sectores de actividade; existe muito interesse dos mercados estrangeiros e também uma aposta das empresas portuguesas no produto nacional”. “Tendo em conta que estamos a conseguir dar respostas mais eficazes do que há alguns anos atrás, teremos certamente um excelente ano”, perspectiva. Por fim, João Paulo Oiveira admite que 2017 vai ser um bom ano para o sector, mas “2018 vai ser ainda melhor”.