Cruzeiros: está tudo bem em cima da água
Mais passageiros, um mercado mais maduro, mais ligações e mais rotas. Mais escalas. E mais formação. A palavra “mais” repete-se em seis ocasiões e o facto não é inocente: o Turismo de Cruzeiros segue no bom caminho e esta é a opinião de quem nele trabalha. O raio-x a este sector pode ser encontrado nas próximas linhas.

Ângelo Delgado
Mais passageiros, um mercado mais maduro, mais ligações e mais rotas. Mais escalas. E mais formação. A palavra “mais” repete-se em seis ocasiões e o facto não é inocente: o Turismo de Cruzeiros segue no bom caminho e esta é a opinião de quem nele trabalha. O raio-x a este sector pode ser encontrado nas próximas linhas.
Portugal, em 2015, recebeu nos seus portos 893 escalas de cruzeiros e registou um total de 1,3 milhões de passageiros, o que corresponde a um crescimento relativamente ao ano anterior de 11% e 15%, respectivamente. O Turismo, enquanto sector na sua globalidade, tem crescido e os Cruzeiros parecem querer acompanhar a tendência. O Publituris falou com vários players do mercado para melhor perceber e transmitir o que se está a passar neste sector. O resultado, com números, tendências, novidades e sugestões, segue em baixo.
“A MSC Cruzeiros terminou o ano de 2015 com um total de 17 894 passageiros transportados, um aumento de 12,3% face a 2014 e atingindo cerca de 41% do mercado português. Neste momento, continuamos em crescimento, mas encontramo-nos ainda a receber reservas que serão bastante importantes nos números finais da companhia, já que a nossa operação termina apenas em Novembro”. As palavras são de Eduardo Cabrita, director-geral da MSC Cruzeiros Portugal, que, ainda assim, arrisca um prognóstico. “Estamos a crescer cada vez mais também no Inverno, entre Outubro e Abril, e a estimativa é de uma evolução dentro do esperado em termos gerais e creio que conseguiremos um crescimento de dois dígitos no mercado nacional”.
Do mercado português para o estrangeiro, Eduardo Cabrita afirma que “em 2015, viajaram 1,7 milhões de passageiros nos navios da MSC Cruzeiros”.
Já sobre as novidades para as próximas temporadas, a lista é longa. “O grande destaque é a presença do MSC Opera em Cuba ao longo de todo o ano de 2017. Temos também os cruzeiros com saída e chegada a Lisboa para o Verão de 2017, entre Setembro e Outubro, a bordo do MSC Magnifica. De salientar ainda o regresso dos transatlânticos com passagem por portos portugueses de e para a América do Sul, bem como o Grand Voyage do MSC Divina com partida de Miami e destino a Lisboa, realizando paragens em Nova Iorque e ainda em Ponta Delgada, nos Açores”. Porém, as novidades não se ficam por aqui. A nova brochura da MSC Cruzeiros tem mais para apresentar.
Numa análise mais conjuntural e apesar dos bons números apresentados, Eduardo Cabrita aponta alguns caminhos que se devem seguir para que o sector tenha espaço para crescer. “Portugal não pode esperar que sejam as companhias de cruzeiros a pedir para escalar nos portos portugueses. O mundo é cada vez mais global, e por isso, mais pequeno”. Em tom de aviso, o responsável pela MSC Cruzeiros em Portugal afirma que “na Ásia só agora começam a atrair companhias de cruzeiros e, segundo dados da Cruise Lines International Association, entre 2013 e 2016 o número de navios colocados na região cresceu 12% e a capacidade de passageiros aumentou de 1,5 para 3,1 milhões”.
Ainda num tom critico, lembra que “seria importante avançar com o investimento previsto para o Porto de Portimão o mais brevemente possível, uma vez que a cada ano que passa, perde-se competitividade para outros portos/cidades europeias”. Mantendo a tónica, Cabrita sublinhou a urgência no desenvolvimento de uma “intensa campanha interna de promoção do sector de cruzeiros”.
Costa Cruzeiros: charter Lisboa-Veneza
É a grande novidade da Costa Cruzeiros (CC) para o Verão de 2017: um charter que fará a ligação entre a capital portuguesa e Veneza, para depois se dar início ao cruzeiro que passará pelas ilhas gregas e Croácia. Jorge Carreiras, director-geral da Line C – representante exclusivo da CC em Portugal – explica esta aposta devido a algumas limitações do mercado. “Reparamos que quando aumenta a procura deste tipo de cruzeiro surgem limitações por não haver lugares nos aviões para Veneza. Assim, garantimos esse espaço com uma operação charter que partirá de Lisboa e que terá início em Junho de 2017”.
Sobre a importância do mercado nacional para a CC, Jorge Carreiras avisa que é importante colocar tudo “à sua escala”. “Enquanto mercado emissor, Portugal representa ainda uma percentagem pequena, pois tem 37 mil passageiros/ano e a companhia transporta, no total, 1,5 milhões. Por outro lado, convém sublinhar que, desde 2015, os números têm galopado a um ritmo quase imparável, muito acima das expectativas”. Quanto a previsões, o director-geral da Line C espera um 2017 “muito provavelmente superior a 2016”.
Royal Caribbean: “Prevemos um excelente 2017”
“Se considerarmos o volume de vendas já confirmado para 2017 e a programação Voo + Cruzeiro, prevemos um excelente ano”. Arranca assim a intervenção de Francisco Teixeira, CEO da Melair Cruzeiros, representante da Royal Caribbean (RC) no mercado português, que logo se centra no ano que ainda está por acabar. “A operação em 2016 correu bem, com o mais recente navio da Royal Caribbean, o Harmony of the Seas, a ter uma excelente receptividade por parte do nosso mercado. Tivemos consistência nas vendas de individuais, considerando que os itinerários de proximidade tiveram a mesma oferta que em 2015.
No que toca aos de longa distância, registámos igualmente um grande crescimento ao nível da procura”. Questionado sobre as novidades da RC, Francisco Teixeira adianta “os itinerários desde Abu Dhabi com escalas em portos na Índia em navios da Celebrity Cruises”. Relativamente à RC, o responsável destaca o Harmony of the Seas, que “irá operar, durante todo o ano, cruzeiros de sete noites pelas Caraíbas desde Fort Lauderdale e o Oasis of the Seas que será posicionado, também todo o ano, no Porto Caneveral”.
Mas há mais, segundo Francisco Teixeira. “No Mediterrâneo, o Jewel of the Seas irá realizar um novo itinerário pela Córsega e Sardenha, com partida de Civitavecchia (Roma). À partida de Barcelona, iremos ter o Freedom of the Seas, uma classe de navios já conhecida e muito bem aceite pelo mercado português. No Báltico, o Vision of the Seas irá fazer cruzeiros de 12 noites desde Amesterdão e Copenhaga. Por último, na Ásia, o Voyager of the Seas fará uma temporada de cruzeiros entre três e sete noites com partida e chegada a Singapura, na Ásia”.
Instado a comentar o actual momento deste sector em Portugal, o responsável máximo da Melair Cruzeiros refere que “o mercado encontra-se numa fase muito interessante”.
“Notamos existirem mais e melhores dinâmicas nas agências de viagens, como também, maior interesse por parte do consumidor neste estilo de viagem para férias”. Ainda assim, afirma, “como em qualquer outro produto, há sempre a necessidade de melhorar”. “Diria que nesta fase o mais o importante será conseguirmos trabalhar melhor o canal de distribuição das agências de viagens. Temos a decorrer um alargado plano de formação presencial em várias cidades que se repetirá em Janeiro para que possamos contribuir para um bom conhecimento do nosso produto”.
Pullmantur: 4000 portugueses em 2016
Eugenio Gijón, director da Pullmantur para o mercado português, mostrou-se satisfeito com os resultados de 2016. Segundo o responsável, tratou-se de uma evolução que já se tinha verificado o ano passado. “Foi um ano excelente para a Pullmantur Cruzeiros. Crescemos face a 2015: foram cerca de 4000 os passageiros portugueses que embarcaram num cruzeiro nosso”. Para 2017, as expectativas mantêm-se. “Prevemos um grande ano já que aumentámos a nossa ocupação ao alocar os navios Horizon, Sovereign e Monarch ao mercado português e espanhol”.
No que toca às novidades da empresa, Gijón aponta, já para finais de Novembro – terminando em Março – para os itinerários que farão paragem em Agadir, Marrocos e nas Canárias. As Caraíbas – de Dezembro a Abril do próximo ano – também serão uma novidade, bem como a inclusão da rota que passa pelas ilhas gregas e Veneza. A oferta do Norte da Europa, Fiordes e Báltico também irão manter-se na gama de ofertas da Pullmantur Cruzeiros.
Sobre o crescente interesse do mercado português relativamente ao Turismo de Cruzeiros, Eugenio Gijón lembra que “os portugueses parecem estar disponíveis para outras opções de férias e, por isso, é crível que a proposta da Pullmantur interesse a uma grande franja desse mercado”.
“2016 único e diferente”
“O ano de 2016 está a ser único e diferente relativamente ao timing de reservas, isto porque não houve um período único de muito movimento como geralmente acontece no Verão”. A declaração é de Ana Bento, Operations Manager da Un Mundo de Cruceros, mas poder-se-ia estender a outras empresas: 2016 foi, de facto, um período com bons resultados nesta indústria.
Na Lusanova, as notícias também são positivas. “Em comparação com 2015, este ano foi excelente. O crescimento foi de, aproximadamente, 40%, até ao momento”, divulga Daniel Marchante, director-executivo, que avança rapidamente para o futuro. “Já temos várias reservas para 2017, o que indica que irá ser um grande ano no que diz respeito às vendas. Vamos apostar em novos pacotes que, acreditamos, irão ter um grande impacto no mercado e uma grande oportunidade para as agências de viagens poderem aumentar as suas vendas e benefícios”.
Rodrigo Almeida, cruise product & marketing da Logitravel em Portugal, não é tão expansivo como os seus colegas, mas mostra-se confiante com o actual cenário. “De um modo geral e tendo em conta os dados que dispomos, todas as companhias com quem trabalhamos tiveram um incremento no número de passageiros relativamente a 2015. Esperamos, obviamente, uma evolução positiva para o próximo ano”, avançou.
Sobre as rotas preferidas dos portugueses, o responsável enumera, por ordem de importância, as regiões mais escolhidas. “Mediterrâneo Ocidental, Oriental, Norte da Europa e Caraíbas”, acrescentando que, “apesar de limitadas, as poucas partidas do Porto de Lisboa têm também muita procura”.
Mesmo com bons resultados, há espaço para melhorar as operações no sector, segundo Rodrigo Almeida. O aumento das partidas em solo nacional seriam, diz, “uma grande ajuda”. “Um incremento de partidas nos portos portugueses seria, sem dúvida, uma medida que significaria um volume superior de passageiros e maiores oportunidades de venda”. Ainda assim, o responsável da Logitravel espera uma evolução positiva no sector. “As perspectivas de futuro são optimistas para os cruzeiros se se mantiverem as mesmas dinâmicas de vendas”.
Ana Bento, da Un Mundo de Cruceros, também aponta alguns pontos que devem ser melhorados nesta indústria. “Uma boa divulgação é muito importante, mas um atendimento de excelência e especializado aos clientes é essencial e faz toda a diferença. Neste momento, o cliente de cruzeiros está cansado dos tradicionais itinerários de sete noites que fazem Barcelona/Barcelona ou Veneza/Veneza e, para manter esse cliente, é vital que se ofereçam outras alternativas com rotas diferenciadas”.
Já sobre o sector na sua globalidade, a operations manager explica que se trata de “uma área em constante crescimento desde há uns anos e que irá manter essa tendência”. Porém, revela, deve estar-se atento às mudanças. “Este sector está a mudar bastante. O cliente habitual de cruzeiros está à procura de algo diferente em termos de destino: estamos a voltar a opções como o Alasca ou aos cruzeiros fluviais”, avisa.
Na opinião de Daniel Marchante, da Lusanova, “o sector em Portugal está a crescer, mas com bastante espaço para alargar a sua influência”. “Todos os anos saem navios novos das diferentes companhias de cruzeiros e, portanto, a procura e a oferta são cada vez maiores”.
Tal como Ana Bento da Un Mundo de Cruceros, o director executivo da Lusanova aponta a formação como aspecto a evoluir. “Continua a existir alguma falta de formação por parte de alguns agentes de viagens para sugerirem e oferecerem aos clientes o produto cruzeiros. Alguns agentes apenas vendem quando o cliente diz que pretende uma viagem de cruzeiro e não deveria funcionar assim. Quando os agentes perceberem melhor o produto e se sentirem mais à vontade para vender cruzeiros, o mercado irá crescer muito mais”, perspectiva.
Douro Azul: 45 mil passageiros, 315 mil dormidas
Mário Ferreira, CEO da Douro Azul, aceitou abordar as operações da sua empresa com o Publituris. Num ano em que tanto se fala de Turismo e dos seus bons números, o responsável não quis fugir à regra. A tónica manteve-se, portanto. “Em 2015, consolidámos o crescimento da Douro Azul, apesar desta tendência se verificar há alguns anos. Este ano, temos previsto transportar cerca de 45 mil passageiros, representando 315 mil dormidas. Para estes números, muito contribuíram a entrada de mais um navio-hotel a fazer cruzeiros regulares no Douro e da cada vez maior procura por parte do mercado internacional deste tipo de produto”.
Questionado sobre o ano que se aproxima, Mário Ferreira abre, igualmente, boas perspectivas. “A tendência irá continuar a ser de crescimento, pois teremos dois novos navio-hotel a operarem”, revela. A finalizar, o responsável recorda que “os programas de cruzeiros de oito dias no Douro são o principal produto e aquele que tem maior procura, ainda que se note um crescimento significativo dos programas ibéricos de 12 dias que contemplam ainda um pre-cruise de três dias em Lisboa”.