Agora resta baptizar aeroportos Gago Coutinho e Sacadura Cabral
Leia a opinião de Humberto Ferreira, colaborador do Jornal Publituris, na edição 1318, de 27 de Maio.
Humberto Ferreira
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Quando se chega a Lisboa, desde 15 de Maio, anunciam a aterragem no aeroporto Humberto Delgado, 58 anos depois da sua candidatura a Presidente da República, em oposição a Salazar e ao almirante Américo Thomás.
O general Delgado foi apoiante de Salazar e um dos mais novos oficiais a alcançar o generalato. Ocupou cargos de destaque: adido militar em Washington, chefe da missão militar nos EUA e na NATO, representante de Portugal na ICAO – Organização Internacional de Aviação Civil – director da Aeronáutica Civil e fundador dos Transportes Aéreos Portugueses (em 1945).
A primeira vez que votei foi em 1958 e foi nele. O que só voltei a fazer em 25 de Abril de 1975. Agora em 2016 teve uma homenagem póstuma justa, mas política, que espero desperte o Governo para homenagear Gago Coutinho, Sacadura Cabral, e outros pioneiros da aviação.
FARO E FUNCHAL – Esta dupla criou e testou um conjunto inovador: o sextante com horizonte artificial de bolha de ar (comercializado durante décadas pela empresa alemã Plath depois dos excelentes resultados obtidos no voo Lisboa-Funchal em 1921 e na primeira travessia aérea do Atlântico Sul em 1922), e o corretor de rumos com abatimento e compensação do desvio dos ventos, após pesquisas iniciadas em 1917, quando começaram a voar juntos. Apoios técnicos que garantiram maior segurança na navegação aérea mundial e até nos voos orbitais do astronauta John Glenn em 1962.
SAGRES E CAPE CANAVERAL – São gémeas desde 27 de Setembro de 2004. Mas na ausência dos expoentes da política da época o facto foi esquecido.
Louvei então a geminação das duas localidades atlânticas que projectaram para o mundo novas cartas com rotas oceânicas e espaciais, mas lamento que Portugal não tenha sabido investir mais nesta área. Apenas o Publituris continua a relembrar este episódio histórico.
O contributo de Gago Coutinho foi um valioso embrião para os sistemas de navegação aérea, espacial, e electrónica contemporâneos, incluindo o de posicionamento global (GPS), transpondo assim a coragem da 1ª travessia Lisboa-Rio de Janeiro, ao facilitar a futuros aviadores localizar a posição sem horizonte de mar. Acrescento que ele nasceu em São Brás de Alportel, em 1869, mas foi registado em Lisboa, daí a ligação ao Algarve.
Aceito que os políticos preferissem homenagear primeiro Humberto Delgado, pois ainda restam aeroportos no continente, Açores e Madeira, para perpetuar os feitos de Gago Coutinho, Sacadura Cabral, e outros portugueses que se destacaram a voar, ou na rigorosa manutenção de aeronaves, cuja perícia foi destacada em especial, na assistência aos hidroaviões na Horta, Funchal, Bom Sucesso, e Cabo Ruivo, entre 1918 e 1946, e em Alverca desde 1918, além da excelente base técnica na Portela. Uma herança que importa expandir.
Avanço os nomes do piloto Humberto Cruz e do mecânico António Lobato, que realizaram o primeiro périplo de correio aéreo entre Amadora-Goa-Macau-Timor e volta, em 1934, num De Havilland DH85, como mais um dos feitos da nossa aviação a projectar em outro aeroporto.
EUROPA–ÁSIA – O Turismo e a tecnologia alcançaram níveis inimagináveis desde a minha primeira viagem oceânica em 1947, que me levou a escrever desde 1953 sobre navios, aviões, hotéis, destinos, e pessoas de mérito, numa época em que a concorrência intercontinental era entre europeus e americanos.
Entretanto os europeus perderam para os EUA e Ásia, ao apostaram na burocracia e directivas comunitárias do estilo da Bolkestein, liberalizando serviços, profissões, e substituindo especialistas por biscateiros e estagiários inexperientes.
A América e Ásia dominam hoje a tecnologia, construção naval, cruzeiros, e comércio mundiais, enquanto a Europa mantém-se no Turismo, aviação, bem-estar e finanças. Até quando?
EIXO BRUXELAS–LISBOA – Caso desagradável tem sido o dos carros Uber e outros, operados por empreendedores locais, que pagam direitos a empresas em San Francisco, ou Espanha, com parte do que cobram em cada corrida, e que deveria ser a quota fiscal se fossem registados como táxis.
A Uber entrou em Portugal em 2014, mas a Autoridade da Mobilidade e Transportes demorou a entender que os transportes de aluguer de automóveis com motorista devem cumprir os requisitos exigidos aos taxistas. Entretanto, há operadores de táxis com aplicações semelhantes, mas falta-lhes eliminar a desvantagem dos elevados investimentos feitos em alvarás e regras burocráticas da AMT. E custa a entender a demora em aplicar leis semelhantes para as empresas em cada área.
Neste caso, as raras opiniões negativas ao nosso turismo chegam da conduta de taxistas e do mau aspecto dos carros. Não admira que os motoristas sem licença de táxi estejam folgados e na moda. Resta saber se o Simplex II, que vai eliminar 255 medidas burocráticas, não irá prejudicar os antigos e favorecer «startups»? O Simplex deve começar por articular normas do governo com as das autarquias, e aplicar obrigações semelhantes a todos operadores.
VELA INTERNACIONAL – Termino a elogiar uma medida positiva da CML: o recente impulso à base de treino e manutenção da Volvo Ocean Race, na doca de Pedrouços, e o regresso regular da vela internacional ao Tejo.