A escolha entre robots e hábitos de cultura local nas cidades
Leia o Turiscópio por Humberto Ferreira.
Humberto Ferreira
TICV recebe avião para repor ligações interilhas em Cabo Verde
Etihad Airways retoma voos para Bali a 25 de junho
Aeroporto Internacional de Hamad é o “Melhor do Mundo”
Grupo SATA com sistema braille a bordo
Receitas turísticas voltam a crescer em fevereiro e somam mais 181M€
Vila Galé abre as portas dos seus hotéis na Figueira da Foz e em Isla Canela
ADHP considera aumento da taxa turística em Lisboa “despropositado”
MotoGP em Portimão traz cerca de 87M€ para o Algarve
MSC Cruzeiros apresenta os sete distritos do MSC World America
10.ª edição do “Vê Portugal” aposta nos desafios futuros das ERT e na paz para o turismo
Fiquei pasmado com um robot num balcão de check-in num aeroporto, pois para mim o Turismo exige boa qualidade e correcto atendimento pessoal. Mas dia a dia conta-se o lucro previsível com robots a atender turistas. Rendi-me às ATM da banca, mas resisto ao boneco electrónico.
SATURAÇÃO – Entretanto li o curioso artigo de Hugo Tavares da Silva no Observador Muito Turismo em Lisboa e o que podemos aprender com experiências lá fora, além de outros textos sobre a evolução do Turismo internacional, como as propostas da recente cimeira do WTTC, o relatório «Turismo: um elo condutor da paz», do Institute of Economics for Peace, as quais focarei num próximo Turiscópio. Tenho constatado que somos mais sensíveis ao orgulho nas tradições das nossas terras, origens e negócios do que às teorias e debates sobre avanços na oferta e procura turística, ou a tendência para ambientes de trabalho despersonalizados.
ALOJAMENTOS – O grande gerador de reservas em alojamentos locais é o Airbnb, que terá gerado um milhão de dormidas em Portugal em 2015 sem se divulgar, porém, qual o montante das comissões pagas ao Airbnb pelos poprietários dos ditos alojamentos. Diz-se, entretanto, que Lisboa acolhe mais de 35 mil turistas por dia, muitos por via de plataformas e aplicações electrónicas. Ora tal volume exige planos regionais e a mudança na promoção, dividindo a nossa variada oferta em sete sectores adaptados à procura externa: (1) Porto-Douro-Norte, (2) Beiras e Centro, (3) Grande Lisboa e Costa Oeste, (4) Ribatejo-Alentejo, (5) Algarve, (6) Madeira e (7) Açores.
OPÇÕES – E no Turismo interno será preferível negociar com plataformas? Como a Uber americana e a Cabify espanhola, para alugar táxis, ou com o meu vizinho que opera um táxi na praça da esquina? Assim como entre a Airbnb, ou aos nossos hoteleiros que fazem excelentes promoções? A CML tomou uma boa medida separando negócios: arrendar alojamentos locais para estadias curtas é Turismo, mas arrendar apartamentos para estadas prolongadas a estrangeiros é negócio de arrendamento de casas. Inaceitável é prédios onde residem famílias e onde alguns condóminos optaram pela gestão de alojamentos locais, com estrangeiros a entrar e sair toda a noite. O caso é complicado: Lisboa tem mais de 13 mil habitações afectas à plataforma Airbnb, e o Porto tem 3700, com preços médios por noite de 75 euros em Lisboa e 62 euros no Porto? Com plataformas estrangeiras a crescer os hoteleiros vão queixar-se de concorrência desleal, e os destinos vão comprovar a importância de se preservar e projectar a respectiva cultura local com hospitalidade e hábitos agradáveis de convívio com as populações residentes: um dos trunfos do turismo português.
GENTIFRICAÇÃO – Este fenómeno cresceu com estudantes e técnicos superiores estrangeiros que ficam encantados com antigas zonas das cidades europeias escolhidas por muitos estrangeiros em Londres, Berlim, Paris, Amesterdão, Barcelona, Lisboa, etc. As zonas industriais e portuárias abandonadas não foram reabilitadas, pois as baixas rendas cobradas não permitiram, pelo que esta recente procura externa veio afastar residentes idosos, substituindo-os por gente cosmopolita que paga rendas caras, mas descaracteriza a antiga cultura urbana e o comércio tradicional. Lisboa e Porto foram os últimos destinos europeus a ser alvo desta tendência, mas creio que estudado o caso vamos garantir uma solução equilibrada, analisando as experiências de outras cidades. E em paralelo vamos encontrar uma operação justa para as plataformas nacionais e internacionais entre arrendamento turístico e residencial, assim como para a Uber. As empresas estrangeiras terão de cumprir as formalidades e pagar os impostos vigentes. Governantes e autarcas não podem é atrasar a solução.
CRESCIMENTO – Há poucos negócios a crescer, até combustíveis e navios de carga estão em crise, com reflexo negativo na gestão de algumas cidades. Mas cruzeiros, hotéis, empresas aéreas e concertos somam lucros. Barcelona tem dois milhões de habitantes e espera receber em 2016 oito milhões de turistas, pelo que vedou durante um ano a abertura de alojamentos e negócios turísticos nas zonas centrais, já com pesada carga turística. E aprovou uma lista de 32 lojas intocáveis, para proteger o comércio tradicional. Os senhorios não poderão vender os espaços para não se perder este padrão. A cidade tem 426 hotéis com 75535 camas, e a autarquia prevê acolher 10 milhões de turistas em 2020. Em Berlim, o município condicionou o arrendamento temporário de apartamentos para fins turísticos. As autarquias de Paris, Londres e Amsterdão também equilibraram as zonas reabilitadas com residentes locais e estrangeiros.
SUGESTÕES – Dia da Marinha – 14 a 22 de Maio na Marina de Oeiras. E quantos turistas vão aos concertos? ROCK IN RIO LISBOA – Parque da Boavista: 19/29 Maio; NOS PRIMAVERA SOUND – Porto Parque da Cidade: 9/11 Junho; NOS ALIVE 2016 – Lisboa, Passeio Marítimo Algés: 7/9 Julho; SUPERBOCK SUPERROCK – Lisboa, Parque das Nações: 14/16 Julho; MEO MARÉS VIVAS – Gaia, Praia do Cabedelo: 14/16 Julho; MEO SUDOESTE – Costa Vicentina, Zambujeira: 3/7 Agosto. Boa animação.
Turiscópio por Humberto Ferreira, publicado na edição n.º 1317 do Publituris, de 13 de Maio.