Seguir em frente
Leia a opinião de Vítor Neto, empresário e gestor, presidente do NERA, Associação Empresarial da Região do Algarve.
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Os primeiros sinais da forma de atuação da nova responsável pelo Turismo, a Secretária de Estado Dra. Ana Mendes Godinho, são animadores. Constituem um desafio.
Desde logo, parece haver uma vontade de olhar para a frente sem obsessão pelo passado, embora não ignorando a evolução recente do Turismo, o que é um ato de inteligência. Não deixando de manifestar ideias diferentes em aspetos relevantes, o que demonstra coragem e consciência dos desafios que tem pela frente.
Importa sublinhar também a vontade para ir ao terreno, para ver e ouvir, falando com entidades regionais, associações, setores, mostrando disponibilidade para o diálogo.
Turismo e Estado
Ao mesmo tempo importa registar um dado significativo na forma de abordar o Turismo: a Sra. SET defende, em entrevista (Expresso 9 jan.), um papel ativo do Estado no setor, até como regulador, em discordância implícita com uma atitude liberal do Estado perante a atividade turística, numa crítica ao anterior governo. De facto, contrariamente ao que afirmavam, não é verdade que «o mercado resolve tudo».
Manifestei sempre a minha discordância por razões conceptuais e de fundo, pois no Turismo estamos, antes de mais, perante um setor em que a maior parte da «matéria-prima», dos «recursos» de base em que se apoia, é constituída por bens públicos (território, ambiente, património), que, ou pertencem ao Estado, ou cujo uso é regulado por Lei. Numa atividade constituída por múltiplos setores e interesses diferentes, com recursos, culturas, dimensões e graus de desenvolvimento regional diferentes. Além de que estamos perante um quadro em que o Estado –em defesa do interesse público – tem necessariamente um papel de coordenação e de facilitador de uma visão, de uma estratégia e ação integradas.
Cabe aos governos saber dialogar com todos os atores e agir para uma ação comum. Controlar o uso e disponibilizar os recursos públicos de forma justa, garantindo o respeito pelas regras da concorrência. Com equilíbrio e bom senso, sem dirigismos nem paternalismos. E sem cedências a grupos de interesse.
Considero aliás que não é possível construir uma Estratégia Nacional de Turismo sustentável sem esta perspetiva.
Turismo interno
Outra questão que me parece pertinente é a referência que a Dra. Ana Mendes Godinho faz, na mesma entrevista, à importância do turismo interno. É de uma relevância social e económica extraordinária – é um vetor estruturante do Turismo, que tem sido sistematicamente subestimado.
Ignora-se que o turismo interno, dos residentes, que é sobretudo dos portugueses no seu país, representa mais de 30% do total das dormidas no alojamento classificado (cerca de 15 milhões em 50). Ele é importante nas regiões recetoras de turismo mais fortes, como o Algarve e Lisboa. Nalgumas regiões como o Alentejo e o Centro é até mais importante do que os turistas estrangeiros. Na região Porto/Norte de Portugal representa quase 50% das dormidas. E, curiosamente, três regiões – Lisboa, Norte e Centro – têm praticamente o mesmo valor de dormidas de residentes, cerca de 2,5 milhões, cada. São dados importantes.
O governo tem obrigação de lhe dedicar uma atenção permanente.
Estratégia e modas
O Turismo não avança na ilusão de que somos os «maiores», exaltando os milhões de turistas, os «melhores anos de sempre», em pura propaganda.
No Turismo não basta cavalgar conjunturas favoráveis. Nem iludir-se com «modas», quase sempre efémeras.
O Turismo tem de ser sustentável e para isso precisa de uma estratégia coerente e séria em que todo o país, todas as regiões e setores se reconheçam. O Turismo precisa de uma direção política institucional forte, que se afirme dentro do governo e na sociedade.
Além disso, precisa de trabalho no dia-a-dia. Por exemplo, neste momento precisaria de uma análise e avaliação séria das causas dos recentes crescimentos, para os tornar sustentáveis. Desde logo, porque não foram uniformes, as regiões não cresceram todas na mesma proporção.
Até porque o nível e grau de desenvolvimento turístico das várias regiões, são diferentes. Crescimentos em zonas de menor quota de desenvolvimento turístico, ou em regiões de maior desenvolvimento como Algarve e Madeira (destinos «maduros») têm significado diferente. Assim como os crescimentos elevados em Lisboa e Porto, que têm causas específicas relacionadas sobretudo com um «produto» que atingiu uma expressão especial: o Turismo Urbano.
Que exige reflexão: contrariamente ao que se sugere não são só estas duas cidades que estão na moda. É verdade, elas estão na moda, e temos muito orgulho nisso, mas importa ter presente que o Turismo urbano está na moda em toda a Europa e em todo o mundo. É bom saber-se.
Um estudo recente apresentado na ITB de Berlim refere precisamente o boom do Turismo Urbano no mundo, revelando um dado significativo: ele cresceu cerca de 60% entre 2010 e 2014 e já representa 20% de todas as viagens internacionais que se realizam. Trata-se de estadias curtas (short breaks, city trips), com preços ferozmente concorrenciais, um novo perfil de jovens turistas, novas formas de alojamento local e partilhado (mais barato) e um papel propulsor das companhias aéreas low cost.
Lisboa e Porto estão na moda? Portugal está na moda? Certamente! Diria mais: é todo o Turismo que está na moda, desde logo, com o Turismo urbano em destaque e em crescimento, mas num quadro concorrencial cada vez mais implacável.
As causas e consequências (já visíveis também em Portugal) desta realidade são variadas, estão a ser discutidas e estudadas em vários destinos nossos concorrentes. Mas em Portugal, pouco. Só que as modas não são eternas. É matéria a que o governo não fechar os olhos.
A importância do Turismo
O Turismo precisa de uma análise e avaliação séria. Precisa de uma estratégia coerente. O Turismo precisa de diálogo, participação de todos, transparência, confiança. Precisa de uma direção política forte.
O que coloca uma questão – que é política – imprescindível: afirmar a importância do Turismo na Economia, começando no próprio Ministério da Economia e no Governo. De forma sistemática e não só quando há «melhores anos de sempre».
Porque se corre um risco: hoje já se «fala» mais do Turismo, é um facto, mas não está consolidada a ideia da sua importância real na Economia, de quanto contribui para o PIB e o Emprego, nem de que é o MAIOR setor exportador de Bens e Serviços. Não devemos desistir de repeti-lo.
Sem os governos e o país assimilarem esta ideia, o Turismo nunca ganhará o estatuto a que tem direito e de que o país necessita.
É esta é a batalha para a qual temos de mobilizar as forças vivas do Turismo – governo, empresas, setores, regiões.
Por Vítor Neto, empresário e gestor, presidente do NERA, Associação Empresarial da Região do Algarve.