Turismo: Férias & Eleições
Leia a opinião de Vítor Neto, presidente do NERA, Associação Empresarial da Região do Algarve.
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O período do ano que vivemos, que se segue a uma pesada crise económica, financeira e social, convidar-nos-ia naturalmente para merecidos momentos de descanso e lazer e não para a reflexão.
Mas seria um erro suspender a nossa mobilização e vigilância. Até porque a recente crise europeia nos vem lembrar de forma brutal quanto é importante continuarmos atentos. Esta crise indicia um processo de consequências imprevisíveis para uma pequena economia como a nossa.
A coroar este quadro recorde-se que estamos em plena – e dupla – campanha eleitoral, que se prevê dura e pouco esclarecedora.
Neste quadro, o Turismo, setor em evolução positiva e com peso crescente na Economia e no Emprego, não pode deixar de merecer a máxima atenção, que começa por um esforço de preservação da sua unidade de fundo, setorial e regional, evitando que se transforme em terreno de disputas estéreis.
Os resultados do Turismo têm vindo a ser globalmente positivos e é espectável que se confirmem também este ano, o que é bom para a economia e as contas externas do país, para as empresas e o emprego.
É evidente que o governo e os partidos que o compõem não deixarão de chamar a si os louros e de apresentar perspetivas ambiciosas para o futuro. Mas é aqui que deve começar o bom senso: é possível fazê-lo sem cair em exageros e sobretudo evitando avançar com perspetivas irrealistas que podem gerar confusão e ilusões.
Voltamos ao «Top Ten»?
Por exemplo qual a necessidade de responsáveis governamentais avançarem com a perspetiva de «17 milhões de turistas em 2015», quando esse número não tem nenhuma sustentação, podendo corresponder ao total de «hóspedes» e ainda por cima resultante da soma de nacionais e estrangeiros?
Ou afirmar que o turismo português tem como objetivo atingir o «10º lugar como destino turístico mais competitivo do mundo», até 2020, depois de este ano ter recuperado, o que é positivo, passando do 20º para o 15º lugar (Fórum Económico Mundial), sem esclarecer bem do que se está a falar? Acontece que este novo «Top Ten» foi de imediato interpretado por alguma imprensa como sendo o de «10º destino turístico do mundo», que é outra coisa, é outro «Top Ten», pois refere-se ao «número de turistas estrangeiros» entrados num país. Tenha-se em conta que em 2014 o «10º destino turístico mundial» (o México) recebeu quase 30 milhões de turistas estrangeiros. Veja-se só: em 2003 o famoso «Top Ten» do Dr. Durão Barroso, apontava para estarmos nesse 10º lugar em dez anos, mas estamos em 35º (OMT)!
Como também não é sensato fazerem-se apostas de crescimentos do Turismo português superiores aos principais concorrentes (Mediterrâneo) utilizando só os dados dos últimos anos, «esquecendo» duas coisas: uma é que estes países cresceram muito nos últimos 10 anos e que naturalmente o seu ritmo de crescimento atual é menor; a outra é que o Turismo em Portugal no período 2001- 2011/12 estagnou e até caiu e está agora a crescer em cima de valores baixos. O turismo «não começou em 2007, ou em 2013. Olhe-se pelo menos para a década.
Em suma, não adianta nada e é até perigoso exagerar nos números dando azo a ambiguidades que confundem a opinião pública, os investidores, as regiões e podem provocar reações também erradas dos opositores políticos. Diga-se a verdade de forma séria. Confrontem-se propostas.
O que vai continuar a mudar. O que não vai mudar
O Turismo português demonstrou capacidade de resistência, graças às suas profundas raízes, e voltou a crescer. Tem todas as condições para continuar a evoluir positivamente. Com sentido de responsabilidade é para esse objetivo que todos devemos trabalhar.
Os candidatos a governar o país devem confrontar propostas. Mas importa evitar erros de fundo sobretudo em termos estratégicos, tendo em conta o cenário de mudança permanente do Turismo.
Considero que a amplitude e a profundidade do impacto das novas TIC é imparável e imprevisível e que isso vai continuar a provocar alterações ainda mais fortes na relação entre a procura e a oferta, entre o turista e a entidade que gere o produto ou serviço, e em toda a intermediação comercial do turismo. Irá mesmo provocar mais alterações nos comportamentos, no perfil dos novos turistas.
Chamo no entanto a atenção para a necessidade de uma análise e debate que tenha em conta que, para além das transformações referidas, há vetores de fundo do turismo que, pela sua natureza estruturante, vão continuar a ser determinantes. Vejamos alguns desses elementos que por serem banalizados acabam por dar origem a alguns «lugares comuns» que ofuscam uma visão eficaz sobre o Turismo.
1. A Economia. O poder de compra do potencial turista vai continuar a ser o elemento fulcral da decisão de viajar: sem recursos o candidato a turista não viaja, não aloja, não consome. Fica em casa. Com as suas Tic.
2. O Tempo. Na decisão da viagem, o tempo de que o turista dispõe condiciona decisivamente a opção sobre o tipo e localização do destino tendo em conta acessibilidades, duração da viagem e tempo útil de lazer.
Não é por acaso que a distribuição de turistas por continentes não é homogénea – nem por países do mesmo continente – nem por regiões do mesmo país – nem pelos «concelhos» da mesma região.
3. O Destino. Os milhões de destinos turísticos (e de produtos) que existem no mundo, não estão todos acessíveis da mesma forma e preço aos mil milhões de potenciais turistas internacionais do planeta. Por isso, não é verdade que qualquer potencial turista do mundo pode escolher indiferentemente qualquer produto, bastando que saiba que existe e é muito bom. Nem é verdade que qualquer turista se possa deslocar a qualquer destino só porque saiu uma notícia no N.Y.Times ou na Monocle, ou porque está na «moda».
4. A Oferta. Não é verdade que para um destino concreto – por exemplo Portugal – basta saber o que é que a «procura» quer e dizer que nós «temos tudo» e é tudo muito bom. Por duas razões: o turista pode querer apenas fazer uma visita curta (duas noites), rápida e intensa; ou pode querer gozar uns dias (5-6 noites) de descanso e lazer. Podem ser regiões diferentes. Mas é preciso que ele saiba.
Não se diga que temos de pensar sobretudo na procura, pois temos simultaneamente de pensar, e muito, na oferta. E em termos ofertas diferenciadas. Nas zonas urbanas, nas zonas de férias e lazer e nas zonas do interior. E pensar nas formas de as promover.
E não se pense que as regiões competem entre si em todos os tipos de procuras, pois são diferentes e têm diferentes ofertas.
São apenas alguns «lugares comuns» todos os dias repetidos por vozes convencidas, mas com pouca aderência com a realidade.
Temos de ter cuidado na criação de espectativas ilusórias, que podem levar empresas e regiões (e governos) ao fracasso.
É um tema para reflexão em «férias».
A procura é diversificada mas não deixa de se mover por fatores objetivos. Não é por acaso que a nível mundial 80% dos turistas estrangeiros de um continente/região provêm desse mesmo continente. Na Europa são 88%. E, nas previsões da Organização Mundial do Turismo para 2030, vai continuar a ser assim.
Férias & Eleições. Sim, mas com mente viva e inteligência ativa.
* O autor escreve segundo as regras do novo Acordo Ortográfico
* Autor: Vítor Neto, presidente do NERA, Associação Empresarial da Região do Algarve (publicado edição de 24 de Julho de 2015 do Publituris)