Estrangeiros gerem TAP há 15 anos, combinando agora azul com verde-alface
Esta é a versão actualizada em 6 de Julho do texto A nossa Sina: aviação com gestão estrangeira, depois de um pedido de moderação recebido hoje de Pedro Castro.
Humberto Ferreira
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Esta é a versão actualizada em 6 de Julho do texto A nossa Sina: aviação com gestão estrangeira, depois de um pedido de moderação recebido hoje de Pedro Castro.
NEGÓCIOS AÉREOS – A do contrato de venda da TAP correu bem no Terreiro do Paço. Seguiu-se o encontro de David Neeleman e Humberto Pedrosa com gestores da Vinci e Ana sobre o futuro do aeroporto de Lisboa. Depois David Neeleman voou para ultimar outro acordo importante: a parceria da Azul com a United Airlines (líder de um dos três grupos americanos de aviação, e parceira da Lufthansa e da aliança Star, a mesma que integra a TAP).
Este segundo acordo Azul abrangeu a venda de 5% das acções da Azul à United, incluindo um lugar na administração da Azul, e códigos comuns nos voos EUA-Brasil-América do Sul. Não abrange um acordo comum de lealdade entre passageiros de duas companhias tão diversas. A Azul mantém o seu plano de lealdade Tudo Azul, com certas facilidades extensíveis aos passageiros da United.
ALIANÇA TRIPARTIDA – A novidade passou despercebida em Portugal, onde pouco se sabe da Azul. Ora a Azul opera mais de 900 voos diários para 100 destinos, com uma frota de 145 aviões. Emprega mais de 10.000 tripulantes e é o maior cliente da TAP Engenharia e Manutenção nos hangares de Porto Alegre e Galeão: a «odiada» filial da TAP no Brasil (negócio acima de 700 milhões de euros, entretanto em vias de liquidação), que com gestores lusos serve as frotas da Azul, da canadiana Transat, e TAP, prestigiando a tecnologia lusa no Brasil. Guardado estava o bocado para quem o vai aproveitar melhor.
Em 2015 a Azul conquistou o 5º prémio Skytrax de melhor companhia aérea da América do Sul. E em 2014 os prémios da melhor low-cost mundial pela CAPA, e da companhia brasileira mais pontual pela Infraero.
Fui ver qual era a base principal da Azul e encontrei no Google Guarulhos, com as rotas mais populares para a Amazónia, Rio de Janeiro, Paraná, Florida, etc. Talvez esta omissão se fique a dever à fusão da Azul com a TRIP, negociada em Maio 2012. A Trip era a transportadora regional do interior paulista e a primeira a voar com o Embraer 175. A fusão foi aprovada em Março de 2013. Eliminada a marca Trip, a AZUL passou a ser a maior companhia regional brasileira com base em Viracopos-Campinas no interior de São Paulo, e mantendo voos internacionais de Guarulhos. Viracopos é o maior aeroporto brasileiro em termos de voos de carga aérea, e foi palco de um acidente com um cargueiro, ficando encerrado ao tráfego dois dias. Ora os textos do Google não são revistos nem mudados à medida que acontecem casos que modificam informações, apesar dos pedidos constantes da Wikipedia.
O Barclays Bank foi o parceiro financeiro do acordo Azul-United. E a United voa para o Brasil desde 1992 de Chicago, Houston, Nova Iorque, e Washington.
PROJECÇÃO MUNDIAL DA EUROAVIAÇÃO – As marcas que dominam o mercado europeu são dos grupos Lufthansa, British Airways-Iberia, AirFrance-KLM, e eventualmente a parceria Alitalia-Ethiad. Depois de concretizadas as recentes ofertas pela TAP e AerLingus, na Europa deixam de operar empresas maioritariamente de capital público. Uma vitória para os líderes da agenda liberal euro-norte-americana.
Mas terá Portugal mercado para oito companhias? Quatro regulares: TAP, PGA, as empresas Sata Regional e Sata Internacional; e as de fretamentos: Euro Atlantic, Omni-White, AeroVip, Hi Fly, etc.
DIREITOS E OBRIGAÇÕES ESPECIAIS DA ADMINISTRAÇÃO – Sobre a venda da TAP falta divulgar valores e prazos concretos para a recapitalização (incluindo as partes respeitantes aos 34% que permanecem em nome do Estado, e de 5% em nome dos trabalhadores), tal como relativamente ao indispensável aumento do capital, e da gradual liquidação da dívida a prazo (no montante de 1062 milhões de euros), da responsabilidade dos novos donos, mas dependendo da evolução das receitas da própria TAP e da evolução do clima sociolaboral.
Muitos acreditam que a marca internacional TAP, a experiência, as rotas e slots, os mercados, e o prestígio de 70 anos da TAP valem acima de 350 milhões, mas pelos vistos não se debateu ainda o calendário e montantes destes investimentos.
Entretanto, foi divulgada distribuição e classificação das acções, a apresentar em Bruxelas na quarta-feira 8 de Julho. Segundo os estatutos da nova sociedade, David Neeleman fica com 49,9% do capital em acções de categoria A, mas sujeito a uma injecção de capital no montante de 214,5 milhões de euros, conferindo ao respectivo titular 74,47% da distribuição de lucros, enquanto Humberto Pedrosa tem 50,1% do capital mas em acções ordinárias. Nesta fase transitória (antes da aprovação da operação de compra e venda, pelas autoridades da concorrência, em Lisboa e Bruxelas, e das deliberações sobre as queixas judiciais apresentadas por Pedro Pais do Amaral e German Efromovich, os candidatos rejeitados pelo Estado português), o consórcio titular da empresa terá apenas cinco administradores, que poderão aumentar para nove (cinco a nomear por Humberto Pedrosa e quatro por David Neeleman), especificando que a distribuição de dividendos, e concessão ou reembolso de prestações acessórias devem ser tomadas se aprovadas por sete dos administradores. Ou seja, nenhum dos sócios poderá tomar tais decisões sem a concordância da maioria da administração.
ESTRANGEIROS ARRISCAM MAIS – Numa Comunidade de 28 Estados Membros não pode haver condicionamentos quanto aos titulares das empresas e investimentos mútuos. Mas podem vender-se os meios estratégicos de cada país, região, ou munícipio a interesses estrangeiros, transferindo-se os lucros da energia, transportes, banca, e estruturas públicas para privados estrangeiros na sua maioria.
Adianto que a Mota Engil, por exemplo, está a negociar a venda da sua vasta área de transportes portuários e logística ao grupo turco Yildirim – Yilport Holdings, incluindo a Tertir, Liscont, Takargo, Sadoport, Sotagus, etc. O consórcio Lisbon Cruise Terminal (LCT) já gere as escalas dos navios de cruzeiros que visitam Lisboa e está prestes a arrancar com a construção do novo Terminal de Cruzeiros em Santa Apolónia, orçada em 23 milhões de euros e com prazo de entrega até ao primeiro trimestre de 2016. É uma parceria liderada pelos turcos da Global Liman, pelos americanos da Royal Caribbean, pelo grupo madeirense Sousa, e pelo Porto de Barcelona. Imaginem quantos diversificados interesses gerem os cais e terminais de cruzeiros no porto de Lisboa.
E a rede Portugal Telecom pertence agora de uma empresa francesa. Também crescem seguradoras, e hospitais privados, resorts de bem-estar de empresas chinesas, pelo que a Lusofonia revela-se, também, um projecto irrelevante, já que o atraso na aprovação do acordo ortográfico por parte do Brasil e outros países, não fez crescer, por exemplo, a edição e venda de livros de autores portugueses no Brasil nem de autores brasileiros em Portugal.
Mas a Comissão Europeia opôs-e ao financiamento de TAP pelo seu único accionista, o Estado Português, mas permitiu a venda a grupos chineses das redes da EDP, REN, assim como seguradoras, hospitais privados e outros investimentos estratégicos.
TAP-AZUL – Agrada-me a sugestão da nova imagem dos aviões a verde e encarnado. Neeleman e Pedrosa querem expressar a garantia da TAP continuar a ser a companhia de bandeira de Portugal, o que pouco interessa, tratando-se de conceito desactualizado.
Mas creio que a mudança de imagem será positiva. O mesmo não sucede sobre as linhas mestras divulgadas por Neeleman e Pedrosa, após o contrato de compra e venda da maior exportadora lusa, por um escasso sinal de dois milhões de euros.
Pretendem aumentar oito a dez rotas para o Brasil e dez para os EUA, mas vão reduzir algumas rotas intraeuropeias, e desistir das rotas da China (devido aos problemas que as linhas estrangeiras têm encontrado naquele mercado?).
SUBAVALIAÇÃO – A TAP descurará, assim, três potenciais mercados mundiais geradores de tráfego: Ásia, Pacífico, e Médio Oriente. Perdendo-se a experiência que a TAP colheu antes de 1999 (ano da devolução de Macau a Pequim), com a construção, gestão, e criação do aeroporto de Macau e da Air Macau.
Também é infeliz a suspensão da encomenda de 12 jactos A350 SWB para competir com as rotas orientais que a TAP pretendia abrir em 2017, e que ficam sem efeito, apesar dos mercados sul e norte-americano também exigirem aviões avançados. Aliás, a idade da frota TAP tem sido outro ponto fraco em termos de concorrência, mas os americanos não admitem desvios: linhas aéreas com investimentos dos EUA têm que ter frotas Boeing.
NOVAS LINHAS E FROTA – Os novos donos da TAP prometem 53 novos aviões até 2017, sendo 14 do modelo A330-900NEO e 39 da família A320-321 (para médio curso, onde vão reduzir rotas não essenciais). A PGA poderá usar Embraers mais recentes, substituindo os idodos Fokker 100.
E qual é o plano para melhorar o Hub de Lisboa?
Intensificar o trânsito de tráfego oriundo de África, Brasil e nos voos TAP de New York e Miami, via Lisboa para pontos na Europa e África?
A TAP tem rentáveis fontes em Angola, Moçambique, Brasil, Colômbia (?) e África do Sul? Além de parcerias no âmbito da Aliança Star, incluindo com a United. O Médio Oriente é outro mercado a explorar, através de parcerias com a Emirates e outras dinâmicas empresas que não param de abrir rotas no quadro das alianças Star, Worldspan e Skyteam. Nesta terceira aliança opera a parceria das empresas AF-KLM e Gol (brasileira e rival da Azul).
Continuarei atento sobre as novidades desta nova parceria internacional sedeada em Portugal, lamentando o lapso do aeroporto Viracopos por Guarulhos, ambos servidos pela Azul e creio que também pela TAP. Não escrevi que a TAP voa para Joanesburgo, pois o mercado não funciona mais pelo nome e confiança das empresas e das frotas, mas pelos voos mais baratos. Mas tal não afasta a TAP deste potencial mercado, onde as companhias dos Emirados não param de investir. .
Afinal, o consórcio Gateway é em nome pessoal de Pedrosa e Neeleman e não da Azul ou Barraqueiro. Agradeço os comentários e penso ter esclarecido às questões colocadas.