Caminhando sobre a linha do Equador
Comecemos por pôr os pontos nos ‘is’. São Tomé e Príncipe não é (ainda) um destino turístico. Falta quase tudo o que um turista exige quando está em férias. E no entanto, em São Tomé somos esmagados pelo poder da Natureza em todo o seu esplendor, tocados pela simpatia de um povo que nos recebe… Continue reading Caminhando sobre a linha do Equador
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Comecemos por pôr os pontos nos ‘is’. São Tomé e Príncipe não é (ainda) um destino turístico. Falta quase tudo o que um turista exige quando está em férias. E no entanto, em São Tomé somos esmagados pelo poder da Natureza em todo o seu esplendor, tocados pela simpatia de um povo que nos recebe de braços abertos. E a prova que não estamos perante um destino turístico é que as crianças que se amontoam à beira das estradas aquando da passagem de turistas imploram por… doces e não euros. O facto só se explica pelo carácter ainda virgem deste jovem país. Mas já aqui voltamos…
O desafio foi lançado pela STP Airways, curiosamente quase um ano após ter realizado o seu primeiro voo oficial, e consistia em conhecer os atractivos turísticos de São Tomé e Príncipe.
Situado no Golfo da Guiné, São Tomé e Príncipe é uma república que ganhou independência em 1975 e que consiste em duas ilhas principais – São Tomé e Príncipe – e alguns ilhéus menores, num total 964 quilómetros quadrados, com uma população a rondar os 150 mil habitantes.
As ilhas terão estado desabitadas até 1470, ano em que os navegadores portugueses João de Santarém e Pêro Escobar terão colocado pé nas areias finas da praia Ana Ambó. No local lá está a prova, assinalando a data e o feito. Algumas décadas mais tarde, em pleno século XV, foi introduzida nas ilhas a cultura da cana-de-açucar, tendo entrado em declínio com a concorrência vinda do Brasil. Durante os séculos que se seguiram São Tomé serviu então como entreposto de escravos. Só no século XIX, época onde decorre o romance da obra Equador, é que a agricultura voltou a ser introduzida, com o cultivo de cacau e café. O período ficou conhecido como o Ciclo de Cacau e foi aí que a sociedade são-tomense se organizou em torno das conhecidas roças.
Actualmente, roças como Monte Café ou Agostinho Neto, a maior delas todas, é viajar para trás no tempo. Invariavelmente largadas ao abandono, despidas de qualquer produção, são autênticos museus vivos de uma outra era onde a escravidão envergonhada parecia imperar. Ainda é possível perceber a organização social destes monumentos vivos, onde não faltava a casa do senhor ou o hospital. Mas entre as roças há uma que desponta como um farol, a de São João, em Angolares. A 40 quilómetros da capital chega-se à São João e cedo se percebe estarmos a entrar num local especial. O proprietário chama-se João Carlos Silva e quem gosta de culinária sabe de quem estou a falar. Para os mais desatentos basta mencionar o programa Na Roça com os Tachos para logo começar a crescer água na boca. Mas o que distingue das demais é não só a culinária mas as artes. Aqui funciona um centro de apoio que estimula a cultura local, sendo esta a primeira roça cultural do país. No local onde antes viviam os patrões é agora uma pousada, cuidadosamente mobilada com mobiliário colonial recuperado da própria roça. Aqui pode pernoitar e saborear os sabores de São Tomé, de uma fantástica varanda de onde se avista o mar, deitar-se na rede e ouvir o João Carlos a contar histórias e a contagiá-lo com o seu entusiasmo e simpatia naturais. Este sim é o São Tomé dos cartões postais que todos vêm à procura.
Vida cara, Hotelaria pouca
Quando se imagina uma viagem a África associa-se a um nível de vida barato. No que a São Tomé diz respeito esta é uma regra que de todo não se aplica. Os preços estão ao nível de Portugal… ou superiores. Uma garrafa pequena de água ronda os 2 euros no hotel e um hambúrguer no pão para matar a fome fica-se pelos… 14 euros. Se a opção for sair do hotel… então não há opção. Poucos são os locais onde se pode jantar com qualidade e segurança. Entre eles destaque para as mariscadas do Bigodes, o Celvas, em Guadalupe, ou os grelhados da Casa da Dona Tété.
Quanto a hotéis, a cadeia Pestana tem vindo a apostar forte neste destino, contando actualmente com o Pestana São Tomé Hotel, inaugurado há pouco mais de um ano, e o Miramar, ambos na marginal, e o Pestana Equador, no Ilhéu das Rolas. Paralelamente, lançaram ainda o Vila Maria, um condomínio de luxo situado na capital são-tomense.
Excluindo o Pestana Equador, que é um caso à parte, propício para o dolce fare niente num local edílico, e onde é possível caminhar sobre a linha do Equador, ou simplesmente colocar um pé em cada hemisfério, destacamos o histórico Hotel Club Santana, actualmente explorado pelos Hotéis Teixeira Duarte. Situado junto à praia Messias Alves, o Club Santana conta com 20 bungalows e 11 bungalows suite, com um restaurante e bar de praia a fazer esquecer as suas três estrelas. O serviço é omnipresente e perto da perfeição e a gastronomia faz jus à sua fama.
Eco-turismo, a aposta
É certo que foi descoberto petróleo no Golfo da Guiné e que uma boa parte cabe a São Tomé. Apesar deste golpe de sorte o País parece não querer depender o seu desenvolvimento do ouro preto e aposta forte no turismo para alavancar a sua débil economia. Neste capítulo, ainda em declarações recentes ao Publituris, Mirian Barroso, directora do turismo de São Tomé e Príncipe, afirmava que “faz todo o sentido a aposta no eco-turismo, no turismo rural, porque afinal São Tomé não tem assim tantas praias, que apesar de boas, são limitadas”.
Aliás, um dos desafios (e que desafio!) colocado aos membros que integraram esta fam-trip da STP Airways passava por uma subida ao Monte Amélia, a antiga cratera do vulcão que deu origem à ilha, e onde existem inúmeras espécies endémicas, entrando bem no coração do Parque Natural do Obô. Este é um percurso destinado aos verdadeiros apaixonados pelo trekking, sendo desaconselhado a pessoas de fraca preparação física. Diga-se em abono da verdade que este é um dos casos em que o caminho para se chegar ao destino vale muito mais em beleza que o destino em si, já que a Lagoa Amélia é despida de interesse. Valeu a caminhada… e os dias de recuperação.
Mas não é preciso subir ao vulcão para perceber que o futuro de São Tomé passa mesmo pelo eco-turismo, tal a beleza das suas paisagens, o verde que quase nos ofusca, ou o azul-cobalto do mar, que se mistura aos nossos olhos.
Em algumas roças é possível percepcionar a grandiosidade de outros tempos. Na imagem, apontamento na maior roça de São Tomé, a Agostinho Neto, onde umas outrora bombas de combustível surgem perfeitamente enquadradas na paisagem
A Praia das Conchas é provavelmente a melhor praia
nas imediações da capital. Destaque também para a selvagem praia Jalé, a praia Tamarinos ou a famosa (merecidamente) Praia Café, situada no Ilhéu das Rolas
A piscina infinita do novo Pestana São Tomé Hotel é certamente uma das maravilhas da ilha. Água à temperatura ideal, adaptada às crianças, e uma vista fantástica sobre o mar e a marginal. A poucos metros um passadiço de madeira leva-nos a um local onde, ao som das ondas, uma massagem nos aguarda…
A fam-trip da STP Airways contou com cerca de 25 participantes, tendo reinado (quase) sempre a boa disposição. Invariavelmente discutia-se o futuro do turismo em São Tomé e a forma de o “embalar” ao cliente
A capela do Ilhéu das Rolas não será certamente a imagem mais óbvia do local. Além da praia, das actividades do hotel, e de uma caminhada até ao marco do Equador, aconselha-se vivamente o aluguer de um barco e um dia dedicado à pesca. Infalível a boa disposição e destaca-se o profissionalismo. Quanto a peixe… o saldo do dia foi pobre!
Talvez seja a imagem mais marcante que se leva de São Tomé. Onde param os velhos? É a pergunta que nos assalta permanentemente. São elas, as crianças, a expressão viva deste jovem país. Em cada uma das faces há uma história a querer ser contada