Estes espaços não são para turistas, são para viajantes
Seis anos e sete espaços de alojamento e restauração depois, o Grupo The Independente Collective chega ao Porto, onde começou a construir este ano um hostel nas Caves da Sandeman, em parceria com a Sogrape. The Independente Collective, nome meio português, meio inglês de um grupo que surgiu em 2011 com a abertura do The… Continue reading Estes espaços não são para turistas, são para viajantes
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Seis anos e sete espaços de alojamento e restauração depois, o Grupo The Independente Collective chega ao Porto, onde começou a construir este ano um hostel nas Caves da Sandeman, em parceria com a Sogrape.
The Independente Collective, nome meio português, meio inglês de um grupo que surgiu em 2011 com a abertura do The Independente Hostel & Suites e do restaurante The Decadente, mesmo em frente ao miradouro São Pedro de Alcântara, em Lisboa. Depois, em 2014, o projecto foi aumentado para o edifício ao lado para Suites & Terrace. Chegados a 2017, o grupo The Independente Collective, fundado por quatro irmãos, tem diversos espaços de restauração e a guesthouse Uva do Monte, em Melides, todos diferentes, mas com um DNA comum: a reprodução e a reinterpretação da hotelaria tradicional num contexto contemporâneo.
Para explicar a origem deste sucesso, Duarte D’Eça Leal recorda o ambiente que se vivia quando deram início ao projecto. Uma crise económica que se alastrava também ao Turismo. “O número de viagens estava num histórico mínimo e associado a isso havia um enorme problema de emprego. Como os rendimentos eram menores, os conceitos que apelassem a uma democratização e a uma universalidade teriam à partida maior tendência para ter sucesso”, lembra. Hoje, espaços como o restaurante The Decadente, que era particularmente conhecido pelo seu value for money, “já são mais abrangentes e mais repetidos”. “A par disso, havia a questão que os espaços de hospitalidade não estavam genericamente abertos ao público. Não eram locais de culto, de destino, e muito menos de passagem. Quando abrimos, éramos o primeiro hostel em Portugal aberto ao público, viemos recuperar essa tradição. Acredito que essa é uma das grandes razões de sucesso”. Outro dos motivos, indica, “é que trouxemos para Lisboa uma filosofia de viagem mais cosmopolita, comum noutros países, e que as pessoas esperavam que surgisse em Portugal. A partir de 2011, começámos a ver o boom da restauração em Lisboa, mas não a tradicional, como se conhecia”.
Confessam que têm estado a tentar perceber o que verdadeiramente diferencia o grupo e onde estão as suas valências. “Chegámos à conclusão que o nosso espaço nesta indústria é precisamente na hospitalidade, mas numa hospitalidade que consiste na fusão do alojamento e da restauração”, refere Duarte D’Eça Leal. “Costumamos dizer que os ‘amenities’ que as pessoas procuram hoje em dia são sociais, não são tanto físicos. Isto é, não estão tanto à procura do mini-bar, do room service, estão à procura mais de uma vertente social, conhecer as pessoas, os locais, conhecer os próprios destinos de uma forma autêntica e local. Essa é a visão do grupo”.
Ao fim de dois anos de operação, o The Independente Hostel & Suites expandiu-se para o edifício ao lado, onde abriram as suites e o restaurante The Insólito. “Expandimos, porque percebemos que as suites eram produto com bastante procura. Foi uma expansão natural, afinal o conceito já se chamava hostel&suites, simplesmente quisemos equilibrar o produto e posicioná-lo numa forma diferente que conseguisse ter um preço médio durante muito tempo igual ao dos quatro estrelas, em algumas alturas até dos cinco estrelas”, explica Duarte D’Eça Leal.
Definir o perfil das pessoas que frequentam hoje os espaços do grupo não é uma tarefa simples, porque, referem, a “nossa base de clientes é bastante eclética”. “O que percebemos é que o nosso cliente-tipo talvez não tenha uma idade definida, mas tem uma filosofia de vida”, explicam. “Os nossos clientes identificam-se e revêem-se num certo tipo de abordagem à sua vida social, estão à procura de uma experiência entre amigos, que os pratos sejam descomplicados, desmaterializados, que os produtos sejam de origem local e autêntica”. Sobre a base de clientes há uma história engraçada: “O agregador Hostelworld produz uma ficha para cada unidade e parte dessa ficha é preenchida por eles, nós éramos descritos a certa altura como uma unidade ‘for the younger people; for older people’”. Também recordam aquela vez em que “um grupo de miúdos que estava a jantar no The Decadente e a certa altura um deles reparou que a avó estava a jantar com as amigas”.
Uva do Monte, em Melides
Há três anos, o grupo expandiu o negócio para a Costa Alentejana, com a gestão de um alojamento em Melides. “A ideia era que, ao redesenhar e promover a guesthouse Uva do Monte, estivéssemos a atrair um cliente que se relaciona com a nossa filosofia e que lhe déssemos a conhecer um território ainda pouco divulgado. Surgiu, assim, a oportunidade de sermos os operadores de uma antiga casa agrícola e sedimentar uma base de clientes ligada ao nosso grupo”.
São 12 quartos divididos entre duas townhouses, mais quatro quartos superiores, dois dos quais suites. Este ano, pela primeira vez, estará aberta durante dez meses, de 1 de Março até ao final de Novembro. O contrato de gestão está a terminar agora o terceiro ano. “Conseguimos, através da nossa rede de clientes, atrair um público, não sendo o cliente generalizado do booking.com, é um público mais de reservas directas, que procura um produto dentro do Turismo mais perto da praia e do litoral semelhante a este da vertente social. Temos uma sala grande com uma cozinha comum onde os clientes se encontram e interagem. Porto Este ano, o grupo prepara-se para abrir um projecto no Porto, em parceria com a Sogrape. Foi a própria Sogrape que fez o convite há três anos. “Fomos contactados pela Sogrape que nos disse que pretendiam rejuvenescer a marca Vinho do Porto e consideravam que éramos os parceiros ideais para, juntamente com eles, desenvolvermos este projecto”. E foi o que fizeram ao longo dos últimos três anos. A obra arrancou no início do ano e prevê-se que esteja concluída até ao final de 2017.
The House of Sandeman, como irá chamar-se o alojamento, fica localizado nas caves da Sandeman, em Vila Nova de Gaia. Serão 10 suites e 60 camas de hostel, mais um espaço de restauração. O piso térreo manterá a produção do vinho Sandeman e a visita às caves. E, em cima, alojamento, uma sala, restaurante e esplanada. Mas não se pense que o The House of Sandeman será uma repetição do The Independente ou do The Decadente. “Somos um colectivo de espaços independentes, apesar de sermos um grupo, queremos que cada destino conte a sua história, não temos como objectivo franquiar conceitos ou marcas. O The Decadente nunca sairá deste edifício. Lá vai haver outro conceito de restauração muito virado para o destino e o produto”, afirma Duarte D’Eça Leal.
O projecto de arquitectura de interiores do The House of Sandeman é de Catarina Cabral, que também assinou os primeiros projectos do grupo. Bernardo D’Eça Leal, um dos fundadores, vai viver para o Porto em Julho e liderar a operação no Norte.
Oportunidades de investimento
De volta a Lisboa, para falar das oportunidades de investimento que a cidade ainda oferece. “O mercado mudou, no sentido em que há cada vez mais turistas, mais poder de compra, tanto internacional, como local, estamos a fazer, felizmente, um percurso interessante e capaz de atrair um cliente que valoriza o destino, isto é, um cliente menos ‘low cost’, um cliente que comparativamente com outras cidades, já não está só a vir para Lisboa por ser um destino acessível, mas porque é actrativo. Isso também significa que há mais oferta, tornou-se uma indústria mais interessante, com barreiras de entrada relativamente reduzidas, é muito fácil abrir-se um hostel, uma guesthouse, sobretudo com a legislação em vigor”, defende.
Para Duarte D’ Eça Leal, Lisboa continua a ser atractiva: “O que estamos a ver é um percurso que não é exclusivo a Lisboa. Temos a vantagem de ter recursos humanos qualificados altamente acessíveis, comparativamente com os nossos concorrentes, como é o caso de Espanha, o imobiliário pode não ser tão mais caro, mas os RH são. Continua a ser bastante interessante e a cidade, felizmente, não se restringe a este bairro e ao casco histórico”. Bernardo completa: “Existem oportunidades que eventualmente não estão à superfície como há dez anos, agora é mais difícil, é preciso eventualmente arriscar noutras localizações menos obvias da cidade, mas ainda existem”.
O grupo está à procura de oportunidades de negócio com determinadas características. “O local tem de ter uma história para contar e depois conjugar a isso, a competitividade do imobiliário. Temos um pipeline em permanência, já estudámos mais de 40 negócios diferentes ao longo destes últimos cinco anos, somos muito selectivos nos negócios que abrirmos”, reconhecem. No entanto, questionados sobre quais os locais de possível interesse, referem Tavira e Açores. “São destinos com os quais nos identificamos e em que nos revemos. Qualquer tipo de modelo de negócio”.
Embora os números relativamente a 2016 ainda não estejam fechados, a empresa estima facturar perto de quatro milhões de euros. A restauração é responsável por dois terços da facturação. “Nunca tivemos um preço de hostel”, refere Duarte, para quem as guesthouses e hostels desta nova geração vieram contribuir “muito positivamente” para a construção de preço. “Como esta gama, não hoteleira, conseguiu posicionar-se com um certo tipo de preço, permitiu que a gama de topo arrancasse e destacar-se”. No ano passado as suites fecharam com um preço médio de 114 euros e a taxa média de ocupação anual foi de 80%.