Conversas à Mesa: “A vida correu-me bem”
Conversas à Mesa a António Monteiro, director de Comunicação e Relações Públicas da TAP.
Patricia Afonso
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Sempre sonhou ser jornalista. O caminho levou-o até outras empreitadas. “Esta cadeira não é a minha”, diz hoje, confessando-se, porém, satisfeito com a vida. António Monteiro, director de Comunicação e Relações Públicas da TAP, conhece a companhia aérea de cor, ou não estivesse lá há já 44 anos. Natural de Vila Flor, foi em 1954, com 6 anos, que o mais novo de quatro irmãos se juntou à família em Lisboa.
“O choque não foi grande. A necessidade de me juntar os meus irmãos e pais era mais forte. Aquela viagem foi marcante. Tive que ir de camioneta até Carrazeda dos Anciães, onde apanhei o comboio até ao Porto e depois Lisboa. Ainda apanhei o barco porque os meus pais viviam em Porto Brandão. Foram dois dias sozinho, mas com uma expectativa enorme.”
Os Estudos
Na capital, ingressou na Casa Pia de Lisboa como aluno externo, regalia do pai trabalhar na instituição, onde estudou dactilografia e estenografia, tendo em mente, quiçá, vir a trabalhar no jornalismo. “Era uma grande escola, bem organizada, com professores de bom nível. Tinha uma diversidade de coisas que, infelizmente, se perdeu e que hoje até seria bastante útil. Como cursos profissionais, desde relojoaria à carpintaria”, define António Monteiro, precisando que até ao 5.º ano estudou a área comercial. Findo os estudos, teve que optar entre a universidade e entrar “rapidamente” no mercado de trabalho. Em 1965, começou nos passaportes do Governo Civil de Lisboa. “Foi a minha entrada no mundo do turismo.” Sobre o serviço militar, António Monteiro afirma que era “impossível passar ao lado [das movimentações políticas e revolucionárias], quanto mais não fosse porque as opções políticas da época nos punham perante opções de vida em tempos difíceis. A maior de todas era a guerra. Ninguém pode ignorar um jovem ser colocado perante a opção de ir defender a Pátria, matar ou ser morto. Não ignorei, mas acabei por não ser onfrontado com a vida militar.” Ressalva que não fez nada de “reprovável” para ficar fora destas lides, mas, caso o desfecho fosse diferente, já tinha exílio preparado. Iria para Londres, onde já tinha trabalho e amigos. “A minha mãe diz que foi ela que rezou muito a Nossa Senhora de Fátima. Parece que continua activa”, afirma, entre gargalhadas.
A TAP
“Aos 20 anos, já posso pensar noutras coisas. As grandes empresas pediam o serviço militar cumprido, mas trabalhar naquele organismo [Governo Civil] permitia-me passar o dia com pessoas ao serviço das agências de viagens e de turismo, incluindo da TAP”, conta. A ida para a companhia “foi mais ao menos intuitiva.” “Perguntei se estavam a admitir pessoal e disseram-me para aparecer na 2.ª feira e fazer provas. Em menos de um mês, a Maio de 1969, mudei-me para o Aeroporto de Lisboa.” Esteve no atendimento ao público quatro anos, durante os quais começou a viajar – a primeira vez foi a Londres e Amesterdão – e contactou com outras culturas. Não obstante, a própria sociedade portuguesa começava a efervescer e o regime deixava de conseguir controlar tudo. Também a TAP crescia e era uma companhia jovem. Tudo pendia para um maior contacto com o cinema, literatura, música e novos artistas, assim como os movimentos e revoluções estudantis. “Por contraditório que pareça, os anos 70 a 74 foram muito interessantes”, relata. “Eramos jovens atrevidos e às vezes levávamos umas ‘castanhadas’. Alguns iam passar uns tempos a Caxias ou Peniche. Não tive esse azar um pouco por sorte. Ter turnos influenciava a minha vida, pois, normalmente, as coisas aconteciam quando estava a trabalhar.” Dá-se o 25 de Abril e “a primeira coisa que fiz foi mudar de serviço, para não ter essas limitações”, explica, relembrando que os tempos eram de mudança, com o turismo de massas a desenvolver-se.
O percurso na aviação
Muda para o planeamento financeiro e, ainda antes dos 30, “embrenhei-me na actividade sindical.” Foi um dos fundadores do SITAVA, onde tinha “como principais actividades a contratação colectiva e a comunicação.” Foram 15 anos de sindicalismo, durante os quais abriu uma revista, entretanto extinta – da qual guarda “religiosamente os cinco volumes encadernados.” Enquanto sindicalista sempre se bateu pelo consenso – uma característica que ainda mantém – e esteve presente em causas tão relevantes como a liberalização do transporte aéreo. A vida sindical acaba quando, “por razões diversas, não foi possível estabelecer acordo.” Em 1995, volta às Finanças e, pouco depois, é convidado para o departamento de Marketing. Passado algum tempo, o director da revista de bordo da TAP reforma-se e é António Monteiro que lhe sucede. “Foi quando o meu gosto pelo mundo da comunicação teve o seu momento alto.” Esteve nestas funções praticamente dois anos e, em 1998, chega o convite para director de Comunicação e Relações Públicas. “Era um grande desafio. Há pessoas que se acomodam na vida e há quem ache que, às vezes, os desafios são uma boa forma de nos testarmos e ver se estamos acomodados.“ A 01 de Maio mudava-se.
E o futuro?
Já atingiu a idade da reforma. Não tem hobbies, mas sabe “onde gastar o tempo quando for necessário [é apaixonado por fotografia].” Casado em “segundas núpcias”, pai de dois rapazes (com 37 e 33 anos) e avô de gémeos diz “que enquanto estiver a fazer algo que me dá prazer – e trabalhar com pessoas que me dão liberdade – não vejo grandes motivos para sair.” “Agora, isto tem que ter um fim, até porque acredito no princípio marxista de ‘8 hs para trabalhar, 8hs para a cultura e 8hs para descansar’ e na reforma como um grande valor civilizacional. Vou tentando fazer um pouco de tudo”, refere. “Por outro lado, a empresa está num período de algum impasse e não queria sair sem que estivesse melhor definido. Portanto, estou aqui também para ver como as coisas correm e, eventualmente, tomar decisões quanto a minha vida.” “Acho que tive alguma sorte porque a vida correu-me bem, fiz sempre coisas que me deram algum prazer, nunca houve um período em que andasse chateado, sem gostar do que fazia ou a querer mudar. As coisas foram acontecendo”, diz António Monteiro a certo momento da nossa conversa, em jeito de resumo.
Entrevista publicada a 23 de Agosto de 2013.