Ambição arriscada: cimeira-web para 53 mil com a capital em obras, mas com bom tempo
Leia a opinião de Humberto Ferreira, colaborador do Publituris, na edição 1330 do jornal, de 11 de Novembro.
Humberto Ferreira
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Entusiasmou-me a chegada a Lisboa de 53 mil profissionais da economia digital inscritos na cimeira-web, apesar do Outono não dar a imagem animada da nossa capital. Mas tiveram sorte com o sol. A ORGANIZAÇÃO irlandesa e portuguesa também foi outro impulso positivo, pelo menos até se saber que venderam 53 mil entradas (entre nove e cinco mil euros cada) para um recinto com 18 mil lugares na sessão de abertura, provocando que milhares ficassem de fora, a ver o que se passava lá dentro em grandes placards electrónicos, por entre a reclamação dos pagantes, e sujeitos aos oradores que não usaram inglês, pois tradução simultânea é difícil naquele ambiente.
E também não foi cumprida a pontualidade na abertura e no jantar oficial no Palácio da Ajuda. Além de certas falhas técnológicas devidas à pressão de tantos milhares de telemóveis em simultâneo. Os que não puderam entrar no recinto das conferências ainda esperaram pelo arranque da transmissão para os placards exteriores devido à avaria do telemóvel do fundador da Web Summit. Mais um caso de estudo para atalhos operacionais na transmissão de imagens digitais. O que dirá o relatório dos «árbitros digitais» sobre a qualidade tecnológica da organização? O metro de Lisboa deve ficar nos anais dos piores da Europa. Já na véspera houve falha na iluminação do imponente Galo de Barcelos tecnológico de Joana Vasconcelos, na Ribeira das Naus (ou Caravelas?) que também teve a presença de António Costa.
AS ALTERNATIVAS – Ora este grande evento poderia ter sido programado ao estilo português, com as sessões técnicas no Estádio da Luz, bem iluminado e confortável, e as apresentações entre milhares de criadores digitais e investidores internacionais no espaço lisboeta do Rock in Rio, até entre a exibição de artistas luso-brasileiros para animar as boas perspectivas de negócios, e com serviço shuttle garantido toda a noite para os hotéis.
CIMEIRA DA MULTIDÃO – Conheço as redes entre operadores e fornecedores de serviços, alojamentos, alimentação, animação e lazer, ao alcance de clientes em qualquer parte do mundo e operadas por empresas e hotéis lusos com marcas fiáveis (como a Abreu, etc), mas nunca me cruzei com uma cimeira para 50 mil pessoas, apesar de ter participado em grandes feiras e congressos de Turismo internacional. Este evento com entradas pagas (repito entre nove e cinco mil euros), não será, afinal, uma feira semelhante ao WTM ou ITB, mas mais dispendiosa? A
APOSTA – As nossas empresas existentes (turísticas ou outras) lutam com falta de meios financeiros, mas o Governo abriu um fundo de 200 milhões de euros para negócios digitais avançarem de modo a Lisboa vir a ser conhecida como a imaginativa capital não apenas do design como também da dinâmica economia digital, na base de uma estratégia global para a criação de postos de emprego mais ou menos tecnológicos.
TURISMO BOLKESTEIN – Em vez dos novos técnicos ambulantes criados pela directiva europeia Bolkestein, não seria preferível introduzir melhorias no sistema instalado? No Turismo há gerações que já viajam pela ponta dos seus dedos, mas a maioria ainda prefere viajar com apoio humano. Não entendo como governantes e deputados aprovaram no Parlamento Europeu, em Março de 2005, a proposta do ex-eurodeputado holandês e ex-comissário europeu do Comércio, Frits Bolkestein, liberalizando em Abril de 2006 o acesso às profissões, mesmo por quem não possui experiência nem diplomas comprovativos, que continuam a ser exigíveis para as áreas da saúde e direito.
ECONOMIA PARTILHADA – O argumento Bolkestein partiu da contratação de serviços somar 70% da riqueza produzida na União Europeia, e do Turismo no Leste Europeu, Ásia, África, e América Latina praticar salários inferiores aos europeus. Diz-se que Bolkestein previu a actual trágica vaga de refugiados, mas na versão final da directiva, a Europa baixaria 7,2% dos custos salariais nas profissões não regulamentadas à data, quando, afinal, as profissões do sector são regulamentadas em Portugal há mais de 50 anos, com cursos de hotelaria, de técnicos e guias-intérpretes de Turismo, e de gestores de empresas e organismos. Talvez amanhã substituídos por condutores Tuk-Tuk. Entretanto preparem-se os leitores para usar táxis partilhados e para qualquer família estranha se candidatar pela web a ir de férias no vosso carro alugado por intermediários desconhecidos por meio de aplicativos digitais. Mais um desafio ao fisco para cobrar IVA e IRS devidos por este novo negócio.
AQUI PORTUGAL – Aproveito para pedir a S.Exa, o Senhor Presidente da República que considere apoiar, junto da UNESCO, autarcas e empresários algarvios que lutam desde 2001 para Sagres ser Património da Humanidade e lugar da globalização na descoberta de rotas marítimas nos séculos XV e XVI; e para a ONU aprovar a extensão da plataforma continental na zona atlântica adjacente aos Açores e Madeira. Metas com forte expressão externa e inegável factor de orgulho nacional. E desejo que venham mais empresários, investidores e criadores de negócios digitais capazes de desenvolver a vocação tecnológica e organizativa de várias gerações de portugueses polivalentes e trabalhadores dedicados.