“Continuo muito confiante para o próximo ano”
Mário Azevedo Ferreira, CEO da NAU Hotels & Resorts, considera que Portugal vai manter os bons resultados turísticos em 2017. Para já a recente notícia da saída do Reino Unido da União Europeia não abala a confiança do responsável. Falou com o Publituris na semana em que foi inaugurado oficialmente o Hotel Palácio do Governador, em Lisboa.
Carina Monteiro
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Mário Azevedo Ferreira, CEO da NAU Hotels & Resorts, considera que Portugal vai manter os bons resultados turísticos em 2017. Para já a recente notícia da saída do Reino Unido da União Europeia não abala a confiança do responsável. Falou com o Publituris na semana em que foi inaugurado oficialmente o Hotel Palácio do Governador, em Lisboa.
Este ano, a NAU Hotels & Resorts vai registar um crescimento dos resultados na ordem dos 25%. A que factores se deve este crescimento?
Em primeiro lugar, Portugal, como destino turístico, vive um momento positivo, resultado de vários factores: a nossa imagem é boa, de um país seguro e com uma oferta turística diversificada. Depois, a situação geopolítica internacional fez com que um conjunto de destinos que anteriormente eram nossos concorrentes vivam hoje em dia situações difíceis. Como tal a procura continua, mas dirige-se para destinos seguros.
Em segundo lugar, há um conjunto de factores que têm a ver com a nossa estratégia. O grupo é recente e tem vindo a consolidar a sua imagem e afirmar-se e a conquistar cada vez mais credibilidade. Isso faz com que tenhamos ao longo destes três últimos anos de gestão vindo a consolidar um conjunto de parcerias e relacionamentos com empresas importantes e, sobretudo, a consolidar uma imagem de um grupo hoteleiro capaz de dar resposta a grandes eventos.
Em 2014, tivemos uma grande operação com a Mercedes na época baixa, com o lançamento de quatro novos modelos. Em 2015, não tivemos nenhuma operação significativa nesse segmento específico e, depois, começámos a negociar uma operação para 2016. Pelo que um dos factores de crescimento, este ano, tem a ver com uma ocupação em época baixa absolutamente anormal, comparativamente com a nossa concorrência habitual no Algarve. Tivemos um mês de Janeiro fraco, como toda a gente, mas a partir de Fevereiro não parámos de estar cheios. Fizemos o lançamento do modelo da Volkswagen que ocupou praticamente a totalidade da Herdade dos Salgados, mas também com impacto nas duas unidades de São Rafael. Algum negócio que habitualmente tinha lugar nos Salgados foi desviado para São Rafael. A operação da VW terminou no final de Abril e três dias depois tivemos um conjunto de nove eventos que só terminaram em meados de Junho.
De modo que a nossa operação de Janeiro a Maio é uma operação que registou o dobro das receitas do ano passado, ou seja, mais de 14 milhões de euros.
Depois o segundo factor tem a ver com o crescimento em ocupação e preço da época “shoulder” e na época alta.
Justamente, estamos na época alta e sabemos que a ocupação nesta altura é normalmente elevada, aqui o importante é que o preço também acompanhe. Isso está a acontecer?
Sim, está. Grande parte da nossa operação está no Algarve, onde temos uma oferta muito concentrada: quatro unidades na Herdade dos Salgados, duas em São Rafael. Portanto seis unidades, em oito, que estão no concelho de Albufeira. Temos 80% da nossa oferta de camas no Algarve. Falando do Verão no Algarve. Nos últimos anos, temos vindo a verificar que se vendiam umas unidades mais depressa que outras. São unidades distintas e temos vindo a segmentar e a acentuar as diferenças, adaptando as unidades para segmentos de mercado específicos. Em São Rafael temos duas unidades, uma de suites e outra de quartos duplos, uma em cima de praia e outra ligeiramente afastada. O que fizemos foi dedicar a unidade de suites, um pouco mais afastada do mar, para um hotel claramente para famílias, com tudo incluído, com animação, kids club. Fizemos isso pela primeira vez em 2014 e tem vindo a afirmar-se. O hotel São Rafael Atlântico é um hotel clássico, mais vendido para adultos.
Na Herdade dos Salgados temos quatro unidades: o Salgados Vila das Lagoas Apartments, com apartamentos T1 e T2; depois temos uma unidade fantástica, o Salgados Dunas Suites, muito perto do mar, é a nossa unidade farol em termos de preço, porque conseguimos aí preços extraordinários, devido à unidade estar na primeira linha de mar e os apartamentos disporem de grandes áreas. Depois temos o Salgados Palm Village Apartments & Suites, mais recuada em relação ao mar, mas que, pela sua dimensão e espaços envolventes generosos, é ideal para famílias e all incluive e por isso concluímos essa unidade criando um produto de all inclusive, com área de jardins, piscinas, parque infantil, kids club, etc. Vendeu muito nos anos anteriores e este ano fizemos uma parceria com a TUI e a unidade tem agora uma forte percentagem de clientes deste operador. Finalmente, o Salgados Palace, uma unidade absolutamente fantástica, mas muito concebida para grandes eventos e menos favorável para uma operação de Verão. Com a experiência dos últimos anos, ou seja, esse hotel era o último a ser vendido para o Verão, e para o vendermos bem tínhamos de baixar o preço, o que resolvemos foi criar um produto só para o Verão e que nos ajudasse a vender melhor o hotel nesta época. Para isso, criámos o conceito Salgados Summer Club que aplicámos este ano pela primeira vez. Começou a sua operação em 15 de Junho e estamos cheios. Tivemos um crescimento de preço enorme, porque estamos a vender um produto que tem uma componente de F&B incluída, componente de animação, piscina só para crianças, um kids club, área de jardim, etc, ou seja, pensámos um produto para os quatro meses de Verão, para transformar um hotel que normalmente é de eventos e congressos para ser um hotel para famílias.
Em termos médios quanto subiu o preço no Verão no Algarve?
Uma subida de 15% com um aumento da ocupação na casa dos 7, 8%.
A abertura do Salema Beach Village, no Algarve, é outra das novidades que apresentam este ano. Como está a operação?
Tínhamos objectivos ambiciosos para Junho e Julho/Agosto, uma ocupação de 40% e 70%, respectivamente. Posso dizer que em Junho ultrapassámos o objectivo. Em Julho, já cumprimos e em Agosto estamos muito perto de atingir. O nível de preço está acima do que esperávamos, sobretudo em Julho e Agosto. Fizemos uma operação de marketing forte junto dos nossos clientes habituais e são eles que estão a reservar.
Perspectivas para 2017
Em 2017 vão conseguir ter uma operação de Inverno semelhante à deste ano?
Estamos a fazer tudo o que podemos e estamos muito perto de conseguir, embora não seja tão grande como a da VW. Não posso anunciá-la, enquanto não estiver garantida. Até há a possibilidade de termos duas operações de grandes dimensões, uma logo no início do ano e outra um pouco mais à frente. O que já temos garantido é um conjunto de congressos que vão repetir-se, é o caso da REMAX, o Update em Medicina, o maior congresso de medicina que se faz em Portugal, e o regresso do congresso de Cardiologia, entre outros.
Como está a vossa confiança para 2017, tendo em conta a saída do Reino Unido da União Europeia? Têm muitas unidades no Algarve e o mercado inglês é muito importante para o destino.
Ninguém pode fazer futurologia sobre isso, porque é tudo muito recente. A forma como o Reino Unido vai lidar com essa situação ainda é imprevisível, porque vai haver mudança de governo. O que se pode antecipar, e já começou a acontecer, é a desvalorização da libra. Todos os contratos feitos em Portugal com os operadores britânicos fazem-se em euros, não se fazem em libras. De modo que, se houver uma continuidade desta desvalorização da libra, os contratos vão custar mais. Podemos assistir a várias situações: os operadores podem querer renegociar os contratos. Depois, vamos ver até que ponto toda esta situação afecta o desenvolvimento económico e o crescimento do consumo dos britânicos. De que forma é que isso vai afectar a confiança dos consumidores. Sabemos, por outro lado, que o Reino Unido é um país onde as pessoas sentem essa necessidade de sair.
Em suma, temos noção que todas estas situações existem, temos de estar cautelosos, não vamos mudar nada. Ainda não tivemos nenhum feedback de operadores britânicos a quererem renegociar ou repensar preços para o próximo ano, é muito prematuro para isso. Continuo muito confiante para o próximo ano. Se não tivesse havido a votação que houve, estaria mais confiante.
Podem olhar para outros mercados?
Já olhamos.
Mas não há nenhum capaz de substituir o mercado inglês? Sim, não tenhamos ilusões sobre isso. O Reino Unido é o mercado que melhor nos conhece e representa mais de 35% das dormidas do Algarve. Mas também julgo não vai ser necessário substitui-lo. Num cenário mais pessimista, pode haver alguma redução, mas julgo que ainda é muito prematuro estar a equacionar esse cenário. Até porque há exemplos de países que não pertencem à União Europeia e que estão muito bem economicamente. Julgo que não devemos nunca pôr em dúvida a capacidade do Reino Unido de dar a volta a esta situação.
Devemos estar todos muito atentos, estaremos preparados para se os operadores turísticos nos abordarem, sobretudo se houver uma evolução continuada negativa da taxa de câmbio da libra, é provável que se produza algumas tentativas de renegociação do contrato. O mais importante é que nada na nossa situação enquanto destino seguro se alterou e também não é crível que a situação de destinos que apresentam factores de insegurança se altere para 2017, por isso vamos continuar ser um destino muito apetecido.
Como é que está a operação no Lago Montargil & Villas, no Alentejo?
É uma operação mais difícil que a de Lisboa e do Algarve, mas mais fácil do que aquela que antecipámos no início da restruturação deste grupo empresarial.
Os clientes são sobretudo os portugueses, e empresas durante a semana. É um hotel magnífico numa paisagem extraordinariamente calma, tranquilizante e apaziguadora que as empresas escolhem para fazer reuniões quando precisam exactamente disso. Os quartos são óptimos, temos excelentes áreas de restauração e temos algumas salas moduláveis. Pelo facto de termos um spa, duas piscinas interiores, é um destino de todo o ano. Depois, chega ao fim-de-semana e é uma romaria de gente que vem de Lisboa e arredores para ali. Isso foi a boa surpresa. Em 2013, quando pegámos neste grupo, o hotel estava fechado, retomámos a operação e pensámos, vamos fazer o Verão e depois vamos chegar a Outubro e vamos fechar. Mas acabámos por não fechar. Funciona o ano todo. O nosso objectivo é conquistar eventos e reuniões, casamentos, aniversários durante a semana, sabendo que ao fim-de-semana o hotel enche e cada vez mais com clientes fiéis que nos reservam directamente. Este ano, continuamos com uma operação que em volume está a crescer ligeiramente na casa dos 5, 6%, mas está a crescer 12% em preço.
Hotel Palácio do Governador
Em Lisboa, qual é a importância da abertura do Palácio do Governador para a marca e para a estratégia do grupo?
É muito importante. A nossa principal missão é recuperar valor para um conjunto de activos que estavam numa situação decrépita e que era preciso reactivar. Esse objectivo foi cumprido. Em segundo lugar é um hotel especial, encontra-se num edifício especial, numa zona fantástica de Lisboa, com muito pouca oferta hoteleira. As pessoas diziam que os turistas não querem ficar aqui. A verdade é que estamos cheios e as pessoas adoram estar perto destas atracções turísticas. Depois, outro factor fundamental para nós, enquanto equipa de gestão, é que este é o primeiro hotel conceptualmente criado por nós. Embora uma parte dos trabalhos já estivessem feitos quando pegámos no hotel, a verdade é que o conceito que iria ser implementado era completamente distinto daquele que nós acabámos por implementar. Este hotel tem a nossa marca, tem aquilo que nos consideramos ser o ADN do grupo. É um hotel, que além de todo o conforto, tecnologia, que é necessária para que um hóspede de hoje se sinta bem, também proporciona uma experiência única.
Qual é o vosso objectivo em termos de preço médio para este hotel?
O nosso objectivo é situá-lo ao nível dos melhores cinco estrelas de Lisboa e está a caminhar muito rapidamente para isso. Comparamo-nos com os hotéis mais icónicos de Lisboa, como a Pousada de Lisboa, o Altis Belém, o Pestana Palace, o Bairro Alto Hotel, o Lapa Palace. É nesse nível de preço que queremos situar esse hotel. Ainda não está, mas todos os meses está mais próximo.
Hoje em dia a NAU Hotels & Resorts é uma cadeia de hotéis de cidade e resorts. Os vossos clientes têm essa percepção e isso é uma vantagem para o grupo?
Têm cada vez mais. Obviamente que somos mais conhecidos em Portugal, do que fora. Temos vindo a criar e a consolidar uma relação próxima com uma vasta quantidade de clientes, através de acções de marketing directo e que abririam caminho para no futuro eventualmente criar um sistema de fidelização. Embora esta questão tenha de ser estudada e vista à luz da dimensão. Temos uma dimensão forte em termos de camas, menos forte em número de unidades. Mas de facto é o caminho que estamos a percorrer. Não podemos esquecer que a marca Nau foi apresentada em Dezembro de 2014.
Esta marca tem ambições internacionais?
De momento não. Temos muito ainda a fazer aqui. Temos uma missão neste momento e temos um perímetro de activos que temos de explorar, gerir e valorizar, à qual se poderão juntar outros, quer provenientes dos nossos accionistas, quer de fora, era algo que gostaríamos muito que acontecesse, que houvesse investidores que considerassem que temos capacidade para gerir unidades.