Os Jovens e a Bagagem de Mão
Leia a opinião de Mafalda Patuleia, directora do Departamento de Turismo da Universidade Lusófona.
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Nos últimos tempos, muito se tem falado sobre a emigração em Portugal. Costumamos falar na emigração dos anos 60 maioritariamente para França e Alemanha, contudo este fenómeno já vem desde o séc. XIX, com as grandes vagas para o Brasil e para os Estados Unidos da América. Desta vez, o fenómeno é motivado pela crise que atinge as profissões qualificadas e pelo desemprego crescente em áreas específicas. Os números são astronómicos. Segundo os dados estatísticos, mais de 100 mil portugueses deixaram o nosso país para trabalhar além-fronteiras. Penso muitas vezes nesta “fuga de cérebros” quando dou aulas aos meus alunos e vejo o esforço que eles e as suas famílias fazem para que possam concluir as suas aprendizagens, por forma a estarem preparados para ingressar no mercado de trabalho, no país onde nasceram.
A verdade, é que poderia continuar a escrever esta ladainha em páginas e páginas seguidas. Mas não quero! Quero escrever sobre o lado positivo desta mudança social. Se não vejamos: hoje em dia, parte destes jovens emigram não só pelas questões apresentadas, mas também emigram pelo aumento dos incentivos à livre circulação de pessoas, através do intercâmbio de estudantes e da abertura de novos mercados aos portugueses, como Angola e Brasil. A realidade é diferente. São jovens, que curiosamente, não passam pelos centros de emprego. Concluem os seus cursos superiores e assumem interiormente, que o seu lugar é noutro país que não este. Sei que são decisões difíceis e que do ponto de vista emocional fazem balançar qualquer jovem, por mais estruturado que seja. No entanto, podemos e devemos pensar na oportunidade que estes jovens têm em conhecer novas culturas, novas realidades, novas formas de pensar, que certamente os valorizam enquanto pessoas, mas também enquanto profissionais. Este enriquecimento pessoal é tanto mais necessário quanto as perspectivas de emprego são actualmente limitadas, e o mercado de trabalho exige cada vez mais flexibilidade e capacidade de adaptação à mudança.
Na verdade, muitos dos meus alunos já saíram. E enquanto estão fora são os meus melhores aliados para projectos comuns de âmbito internacional, quer no âmbito da investigação quer na internacionalização da universidade. E na maioria das vezes, iniciaram o seu percurso em programas de mobilidades para estudantes (Erasmus +, INOV Contact, entre outros), criaram uma rede de contactos nesses países e regressam para oportunidades de emprego para as quais estudaram afincadamente. Actualmente, no turismo e na hotelaria, muitos alunos saem das universidades, não só com seus certificados de conclusão, mas também com o passaporte válido, prontos a abarcar novas realidades. Estamos na era da “bagagem de mão”, na qual todos somos convidados a circular para ingressarmos nestas novas lógicas do mercado de trabalho. E aqui, as universidades têm um papel fundamental, quer na internacionalização dos seus programas, quer na relação que estabelecem com parceiros internacionais que promovem a recepção de estudantes portugueses.
Assim, concluo que esta perspectiva da “circulação” pode e deve ser entendida como uma forma de evolução e não como uma forma de dramatização do sistema. Portugal precisa, obviamente, de jovens mas jovens que circulem e que voltem com “mundo”.
Artigo de opinião de Mafalda Patuleia, directora do Departamento de Turismo da Universidade Lusófona