Sector diz que é impossível eliminar problema da sazonalidade
A sazonalidade foi o destaque do painel dedicado ao Algarve no último dia do congresso da APAVT, com todos os participantes a reconhecerem que não há forma de eliminar o problema, mas apenas de o gerir.
Carina Monteiro
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A sazonalidade foi o destaque do painel dedicado ao Algarve no último dia do congresso da APAVT, com todos os participantes a reconhecerem que não há forma de eliminar o problema, mas apenas de o gerir. Sob o tema «O Futuro do Algarve» o debate contou com a participação de Desidério Silva (Turismo do Algarve), Carlos Costa (Grupo Nau), Mário Candeias (Grupo Pestana), Gilberto Jordan (Grupo André Jordan), e a moderação de Duarte Correia, ex-TUI Portugal e agora administrador da Scenic Tours.
Tendo como permissa ‘O Algarve tem Turismo a mais ou outras actividades económicas a menos?’, Carlos Costa foi o primeiro a falar e fez um retrato do Algarve, que apesar de ser a principal região de turismo do país, tem diversas fragilidades.
“Os principais problemas do Algarve são problemas de produto, sazonalidade, recursos humanos, acessibilidades aéreas e problemas financeiros e sociais”, enumerou.
No que diz respeito ao problema da sazonalidade, considerado por Carlos Costa o principal problema do Algarve, o responsável considera que vai “continuar a existir” e que “não há forma de eliminá-la”, sendo que a maior parte das empresas “gere a sazonalidade, mitigando onde é possível.” As causas para este problema são, naturalmente, o clima e as razões sociológicas, que dizem respeito, por exemplo, aos períodos de férias dos consumidores.
A sazonalidade tem como consequência “a rentabilidade e o encerramento de unidades; a precariedade laboral e qualidade de serviço”. Na opinião de Carlos Costa, os principais produtos do Algarve são o Sol& Mar e Golfe (época de Março a Abril e Outubro) e, apesar da existência de outros produtos, estes “nunca serão suficientes para ocupar a oferta hoteleira que temos durante todo o ano”.
As dificuldades de contratação de mão-de-obra, sobretudo qualificada, são também um problema para o sector, que tem como consequência o recurso “ao trabalho temporário e outsourcing e mão-de-obra pouco qualificada”, afirma.
Já quanto ao problema da acessibilidade aérea, o responsável destaca a insuficiência de voos na época baixa e recorda o que aconteceu nos últimos anos com a descida do peso da operação charter para o destino. “Há 20 anos, o Algarve tinha operação charter que assegurava 80% dos turistas para o Algarve, agora representa 10%, por causa do surgimento das low-cost. Consequência? Redução de dormidas e estadia média. Algumas destas viagens foram deslocalizadas para outros destinos, nomeadamente de cidades, o que explica também o crescimento desses destinos. Também em consequência das low cost o viajante tornou-se independente.”
Carlos Costa deixou ainda algumas propostas para atenuar os problemas do Algarve, como a captação de mais empresas, não só de Turismo; atrair mais residentes; um programa de investimento público que contemple, por exemplo, a requalificação da EN125; um programa de captação de investimento entre públicos e privados; a eliminação de barreiras à entrada de empresas e até mesmo à saída, porque ajuda ao rejuvenescimento do tecido empresarial; alteração da legislação laboral, adequada à realidade turística; e trabalhar na captação de grandes eventos. No caso dos eventos, Carlo Costa deu o exemplo do Grupo Nau Hotels & Resorts, que recebeu, em 2014, um evento da Mercedes, tendo gerado, de janeiro a abril, cerca de 40 mil dormidas e 40 mil refeições em quatro unidades do grupo no Algarve. Em 2016, os hotéis da Nau vão voltar receber um evento, desta vez da Volkswagen, que prevê 23 mil dormidas e mais de 120 mil refeições na Herdade dos Salgados.
Por sua vez, Mário Candeias apresentou uma visão “out-of-the box” da sazonalidade. Começando por dizer que “a questão da sazonalidade tem acompanhado todos os destinos do mundo”, o gestor hoteleiro defende que é preciso “entender e trabalhar a sazonalidade como um indicador”, para poder responder a questões como “temos muito ou pouca sazonalidade? É mau? Para aumentar o PIB devemos aumentar ou reduzir a sazonalidade?”
Para entender e desmistificar o problema da sazonalidade, Mário Candeias recorreu a alguns números. “O mundo consome de forma sazonal. A taxa mundial de sazonalidade é 32% contra os 37,1% de Portugal”. Olhando para o mercado português, o responsável tira ainda algumas conclusões: “O mercado nacional tem aumentado a sazonalidade a um ritmo superior ao estrangeiro (três vezes mais) para o Algarve.”
Mário Candeias lançou ainda para a discussão a ideia que “aumentar a sazonalidade não é necessariamente mau, se o 3º trimestre for melhor trabalhado. (…) As empresas querem é optimizar e rentabilizar os doze meses do ano. A sazonalidade existe e é dificilmente atenuada. Temos de optimizá-la. Como é que isso se faz? Por um lado, com mais informação sobre os clientes (business intelligence) e trabalhar o preço e o branding do destino”.
A necessidade de requalificar a oferta foi a tónica da intervenção de Gilberto Jordan, que partilha da opinião que a sazonalidade é uma questão de gestão. Por sua vez Desidério Silva apontou a falta de reconhecimento da importância do Algarve na economia do país. Para o presidente da Turismo do Algarve, o destino tem sido “desconsiderado e desqualificado”, dando como exemplo a EN125. O responsável lamentou ainda que “muitas das propostas que fazemos não se enquadram nos apoios disponíveis”.
Da assistência vieram alguns comentários. A começar por Vitor Neto que considera que o Algarve tem, sobretudo, um problema estrutural. “Não temos turismo a mais, temos outros sectores a menos. É necessário pensar o Algarve em termos estratégicos para o futuro, com uma visão integrada. Temos um problema político. A importância do Algarve para a economia não é reconhecida e não temos um instrumento político de gestão da região, ao contrário da Madeira, Açores e Lisboa, que está ao pé do poder central.”
Decréscimo da operação turística para o Algarve
Duarte Correia falou da operação turística para o Algarve. “Houve uma substituição de tráfego de charters para low cost e deixou de ter interesse para os operadores operar para o Algarve. Os operadores deixaram de assumir tanto risco nas companhias aérease, nesta fase, a missão de ter mais operação turística é difícil”.
No entanto, o ex-responsável da Tui Portugal, considera que Portugal vai ter mais operação turística em 2016, mas por causa dos problemas dos outros países. “Vamos ter maior tráfego em 2016 porque não existem destinos abertos.”