Algarve: pronto a identificar Portugal em vez de costumes exóticos
Na segunda quinzena de Agosto o tema é sobre as férias balneares. São talvez as férias mais populares e acessíveis em Portugal. Há quem faça férias no campo, nas termas, ou férias culturais a visitar países, monumentos, museus e cidades em Portugal e no exterior.
Humberto Ferreira
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Na segunda quinzena de Agosto o tema é sobre as férias balneares. São talvez as férias mais populares e acessíveis em Portugal. Há quem faça férias no campo, nas termas, ou férias culturais a visitar países, monumentos, museus e cidades em Portugal e no exterior.
E ainda há quem não tenha férias, ou trabalhe em actividades complementares. Como dizem os adeptos do futebol, a magia do Turismo é a variedade de opções.
Em 1953 publiquei os primeiros artigos sobre vela e construção naval, sucessivamente na Escócia, Portugal e Brasil. Em 1955 entrei no Turismo, passando a escrever sobre a respectiva temática, e um dos primeiros temas foi destacar os reflexos negativos da imprensa britânica às críticas de turistas e banhistas no Algarve sobre os ruídos, a qualquer hora, dos motociclos e veículos da época.
TURISMO DISPENSA RUÍDOS – Passo sempre férias no Algarve, numa zona com cinco praias. Uma afortunada zona balnear, onde usufruo de opções entre praias de naturismo, ou para praticantes e provas de bodyboard, surf, windsurf, pesca lúdica, convívio familiar e de amigos, ou num resort de luxo.
Mas desde as seis da manhã sofro, tal como há 60 anos, os efeitos dos escapes de motociclos de cidadãos que vão trabalhar, ou de turistas com potentes motas, isto apesar da tecnologia produzir hoje veículos mais silenciosos e haver núcleos activos a protestar contra tal abuso.
Curiosamente, governantes, autarcas, e operadores, pouco se importam com tais minudências. Toca a ouvir potentes motas e alguns carros armadilhados a rugir na noite, por automobilistas sem respeito por quem pretende apenas passar uns dias ou semanas em sossego. Ao que se juntam ruídos de festivais de música e outros eventos, pois quanto mais ruidosos mais populares atraem.
FALTAM INCENTIVOS – Os programadores de eventos fazem bem em juntar música à animação nocturna nas praias afastadas dos polos hoteleiros e residenciais, cabendo aos autarcas reservarem as zonas urbanas para dormidas isentas de ruídos diurnos ou nocturnos.
A própria Comissão Europeia peca pelo atraso na regulamentação das normas comuns a observar por hotéis, restaurantes, cafés, esplanadas e outros estabelecimentos em relação à transmissão sonora de programas de TV ou outros, ou ainda música de fundo, visando proteger os direitos de autor, não o incómodo dos decibéis acima das normas nefastas para programas de Turismo de Bem-estar.
Sem fiscalização suficiente contra os excessivos ruídos dos veículos de duas rodas e outros, as autoridades focam-se mais no estacionamento e nas coimas nas rotundas e ruelas. E até os planos estratégicos da nossa capital ignoraram tais diversificadas malhas, resumindo Lisboa aos bairros históricos, dispersos monumentos e jardins.
Em termos de ordenamento urbano, destacam-se apenas o Parque das Nações em Cabo Ruivo, e a Zona de Belém, para a qual sugiro: Parque dos Oceanos de Belém.
RUÍDOS CONTINUAM – A Sociedade Portuguesa de Autores pouco se importa com ruídos, mas é pioneira na contestação de decisões judiciais internas e europeias, favoráveis aos empresários e promotores da música portuguesa. Os comerciantes já aceitam pagar à SPA se quiserem satisfazer os clientes com programas de TV (futebol em 1º lugar, apesar dos futebolistas não serem sócios da SPA).
Entretanto os residentes em Lisboa vão protestando, incomodados pelos turistas que usam alojamentos locais instalados em prédios familiares, agora altamente movimentados por clientes que entram e saem com frequência entre ruídos e conflitos, no horário de silêncio entre as 24 e 09 horas.
ACESSOS A PRAIAS – Voltando às praias, o Turismo do Alentejo acaba de anunciar um plano de promoção para as praias em 2016, usando a imagem de Vasco da Gama, natural de Sines, para atrair mais banhistas às praias entre Santo André e a Costa Vicentina. Um projecto no Plano Operacional Estratégico Sol e Mar.
Ora uma pecha portuguesa é a frequente mudança de marcas e estratégias. As marcas mais antigas são as que continuam a atrair mais clientes.
O Turismo vive de dois tipos de clientes: os fiéis a cada destino (meu caso), ou a cada unidade, e os que preferem novas experiências. Neste caso a ERTAR promete uma revolução no produto balnear nas praias alentejanas, que serão requalificadas e equipadas com novos apoios, acessos e sinalética. A apresentação das praias Vasco da Gama será em Outubro.
Na zona balnear dos meus encantos subsistem há décadas: hotéis, restaurantes, esplanadas, cafés, muitos bares, a drogaria especializada em artigos e equipamentos para pescadores, quiosques de jornais, a farmácia, o posto dos CTT, a barbearia e cabeleireiro, e apenas um dos antigos estabelecimentos balneares.
Na última década cresceram as lojas e escolas de surf e campos de Natureza, lojas de roupas e artigos para desportos náuticos, lojas de chineses, um veterinário e um escritório de contabilidade, mais os vendedores ambulantes com uma surpreendente panóplia de opções.
Em contrapartida fecharam postos de combustível, bancos, apoios de praia, pensões, minimercados, papelarias e fotografia, lojas de rendas, lembranças e roupas, peixaria, talho, uma residencial, e até a Delegação Marítima, postos da Guarda Fiscal e GNR.
E se a rede de estradas melhorou bastante desde 1955, os acessos às praias beneficiaram de poucas inovações. Pelo contrário, de ano a ano pioram, e à medida que vou envelhecendo a altura das falésias ao areal vai sendo mais difícil de descer e subir. Uma das praias merece registo no Guiness com a escadaria mais difícil do Sudoeste Europeu.
Já a praia familiar que frequento tem uma excelente flotilha de rápidas embarcações desportivas e de lazer, desde gaivotas, a caiaques, e outras a motor com excitantes percursos. Os toldos foram substituídos por cómodas espreguiçadeiras, e tanto o café-bar como o restaurante satisfazem clientes antigos e jovens.
Todavia, estas e outras praias merecem mais, se queremos acompanhar a concorrência italiana, espanhola, grega, etc. Onde nos apoios de praia nada falta, desde solários e recintos de massagens, a piscinas para quem se incomoda com a temperatura da água e os jogos infantis à borda de água.
Claro que se paga tudo. Já não há almoços grátis.
Os nadadores-salvadores são uma obrigação legal dos concessionários, que têm de vender cerveja, refrigerantes, e cafés, suficientes para pagar este serviço, uma vez que há menos pessoas a alugar toldos ou espreguiçadeiras.
Sempre fui adepto do sistema de utente pagador nas autoestradas, antes das scuts e das pps. Aliás, lembro-me que a grande receita dos banheiros, na minha juventude, derivava da guarda da nossa roupa urbana, e dos duches. Hoje paga-se para visitar um museu, parque público, ou castelo, tal como em toda a Europa se paga para aceder aos serviços WC.
Por isso aceito que cada pessoa que possa usufruir dos serviços de emergência balnear, pague uma taxa de um euro ao concessionário.
ITÁLIA EM PORTUGAL? – Outra desilusão: o Algarve tem, entre outros, um prato incomparável: a cataplana de peixe, mas encontrei poucos restaurantes a promover a especialidade. Em contraste há bastantes restaurantes com placas «Itália», «China», etc.
Pergunto: são estrangeiros ou portugueses que não escolhem casas de comida portuguesa ou algarvia? Estou em crer que são portugueses que preferem experimentar pratos exóticos.
No Algarve além da sardinha e da lagosta, nem a caldeirada aparece nas tabuletas, onde não faltam pizzas, hamburgers, pastas, lasanha, salsichas, etc.
IDENTIFICAÇÃO EM PORTUGUÊS – Nota-se que o número de tabuletas em inglês, ultrapassa as placas em português.
Algum turista mais distraído, dependendo do vinho e cerveja consumidos, pensará estar em Inglaterra, pois até muitos hotéis portugueses adoptaram complicados nomes em inglês, sem que as autarquias e o fisco lhes aplicassem mais uma taxinha: a de usarem idiomas estrangeiros na sua identificação comercial.
O Turismo é um negócio que atrai estrangeiros apostados em descobrir novos sabores, costumes, e culturas, mas há empresários do ramo a quem falta este orgulho.
Há seis décadas tento espalhar, por escrito, o orgulho de ser português e projectar a nossa cultura e a nossa capacidade de organização e gestão. Lamento os resultados pouco satisfatórios. Mas não desisto.