A nossa sina: aviação com gestão estrangeira e incerteza sobre o euro e a Europa
Na despedida de Junho, a actualidade aborda temas delicados, desde a saída, ou não, da Grécia da zona euro, aos atentados por alegados terroristas islâmicos em Sousse na Tunísia, Lyon na França, e Kuwait, perspectivando um complicado verão turístico, em especial para a Tunísia e França.
Humberto Ferreira
TAAG retoma este ano voos entre Luanda e Praia, via São Tomé
Miradouro do Zebro é nova atração turística no concelho de Oleiros
Faturação dos estabelecimentos hoteleiros em Portugal ultrapassou os 6MM€ em 2023
Portugueses realizaram 23,7 milhões de viagens em 2023
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“A promoção na Europa não pode ser só Macau”
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Comitiva portuguesa visita MITE a convite da APAVT
Na despedida de Junho, a actualidade aborda temas delicados, desde a saída, ou não, da Grécia da zona euro, aos atentados por alegados terroristas islâmicos em Sousse na Tunísia, Lyon na França, e Kuwait, perspectivando um complicado verão turístico, em especial para a Tunísia e França.
Em Paris os taxistas, fartos da indulgência estatal face à expansão da Uber em França, provocaram violentos cortes de trânsito, que levaram o Governo a extinguir os serviços Uber enquanto não cumprirem exigências idênticas aos taxistas locais. Justo!
De 25 a 28: quatro dias com uma mistura de notícias trágicas, urgentes, e diversificadas entre positivas e apressadas.
Por cá a Antral assinalou o Dia do Táxi e lançou uma aplicação para smartphone, enquanto, nos dias mais quentes do ano, muitos portugueses optaram pelas praias e outros pelas festas de São João e São Pedro, conversando sobre o martírio aos gregos nas sessões contínuas do Eurogrupo e do estado-maior desta união inclinada para satisfazer ingleses e americanos.
NEGÓCIOS AÉREOS – Por cá, a assinatura do contrato de venda da TAP correu bem no Terreiro do Paço. Seguiu-se o encontro de David Neeleman e Humberto Pedrosa com gestores da Vinci e Ana sobre o futuro do aeroporto de Lisboa. Depois David Neeleman voou para ultimar outro acordo importante: a parceria da Azul com a United Airlines (líder de um dos três grupos americanos de aviação, parceira da Lufthansa e da aliança Star que integra a TAP).
O acordo Azul II abrange a venda de 5% das acções da Azul à United, incluindo um lugar na administração da Azul, um programa comum de lealdade para passageiros das duas empresas, e códigos comuns nos voos EUA-Brasil-América do Sul.
No Publituris esforçamo-nos sempre para revelar análises alargadas sobre a complexa evolução do sector.
ALIANÇA TRIPARTIDA – Foram dias com boas notícias para a Azul, que dispõe de três eixos: a TAP Na Europa, a United nos EUA, e agora do eixo global entre TAP-Star-Azul-United.
Novidade que passou despercebida em Portugal, onde pouco se sabe da Azul, ou se esta vai ou não operar em rede com a TAP, como pretende fazer com a United.
A Azul opera mais de 900 voos diários para 100 destinos, com uma frota de 145 aviões. Emprega mais de 10.000 tripulantes e é o maior cliente da TAP Engenharia e Manutenção nos hangares de Porto Alegre e Galeão: a «odiada» filial da TAP no Brasil (negócio acima de 700 milhões de euros, entretanto liquidado), que com gestores lusos serve as frotas da Azul, da canadiana Transat, e TAP, prestigiando a tecnologia lusa no Brasil.
Em 2015 a Azul conquistou o 5º prémio Skytrax de melhor companhia aérea da América do Sul. E em 2014 os prémios da melhor low-cost mundial pela CAPA e da companhia brasileira mais pontual pela Infraero.
A sua base principal é em Guarulhos-São Paulo, e as rotas mais populares são para a Amazónia, Rio de Janeiro, Paraná, Belo Horizonte, Florida, etc. Vai intensificar com os novos parceiros voos para mais destinos nos EUA, Caraíbas, e Europa, certamente via Lisboa pela TAP.
A Azul gere o programa de lealdade «TudoAzul». O Barclays Bank foi o parceiro financeiro do acordo Azul-United. E a United voa para o Brasil desde 1992 de Chicago, Houston, Nova Iorque, e Washington.
PROJECÇÃO MUNDIAL DA EUROAVIAÇÃO – As marcas que dominam o mercado europeu são dos grupos Lufthansa, British Airways-Iberia, AirFrance-KLM, e eventualmente a parceria Alitalia-Ethiad.
Com a venda da TAP ao consórcio Gateway aguardam-se as reacções do grupo Ethiad (que inclui AerLingus, Air Berlin, Air Serbia, Darwin, Jet Airways, Alitália, etc); a evolução da aviação na Holanda, Bélgica, Suíca, Áustria, Finlândia, Dinamarca, Suécia, Noruega, e Irlanda, depois da integração das respectivas linhas aéreas nos citados grupos. Concretizadas as ofertas pela TAP e AerLingus, no espaço único aéreo passam a voar apenas empresas privadas europeias.
Terá Portugal mercado para oito companhias? Quatro regulares: TAP, PGA, as empresas Sata Regional e Sata Internacional; e quatro charter: EuroAtlantic, Omni-White, AeroVip, Hi Fly, etc.
PARCERIAS TRANSATLÂNTICAS – Convém seguir a evolução das parcerias transatlânticas até porque o consórcio TAP-Azul tem essa matriz e a TAP fica mais ligada à Azul-United.
Da venda da TAP faltam os valores e prazos concretos para a recapitalização, e indispensável aumento do capital, assim como da dívida a prazo, no montante de 1062 milhões de euros, da responsabilidade dos novos donos, mas dependendo da evolução das receitas da própria TAP e do clima sociolaboral a instalar.
A marca internacional, a experiência, as rotas e slots, os mercados, e o prestígio de 70 anos da TAP valem acima de 350 milhões.
Apresentaram-se a este concurso público internacional, dois empresários nacionais interessados na TAP, ambos sem experiência nesta área.
Humberto Pedrosa foi o escolhido por David Neeleman e pelo jurí do concurso. Creio que os dois farão uma boa parceria.
ESTRANGEIROS ARRISCAM MAIS – Ao furor pelas privatizações junta-se a febre da venda de negócios a estrangeiros para empobrecer a nossa economia. Por exemplo, a Mota Engil negoceia a venda da sua vasta área de transportes portuários e logística ao grupo turco Yildirim – Yilport Holdings, incluindo a Tertir, Liscont, Takargo, Sadoport, Sotagus, etc.
A rede Portugal Telecom é de uma empresa francesa. Também crescem seguradoras, e hospitais privados, resorts de bem-estar de empresas chinesas. A Lusofonia revela-se, assim, um projecto irrevelante, além da queda para a banca.
TAP-AZUL – O caderno de encargos do Ministério da Economia obriga a nova administração da TAP a manter sede em Portugal, a marca, o hub de Lisboa, evitar despedimentos colectivos, apesar da inevitável reestruturação operacional e comercial. A parceria 34/61 Estado-Gateway dependerá, assim, do crescimento da aviação, economia europeia e turismo internacional, a par da competência dos respectivos núcleos de gestão e controlo das obrigações.
Agrada-me a nova forte imagem dos aviões a verde e encarnado. Neeleman e Pedrosa querem expressar a garantia da TAP continuar a ser a companhia de bandeira de Portugal, o que pouco interessa, tratando-se de conceito desactualizado.
Por outro lado não apreciei as linhas mestras divulgadas por Neeleman e Pedrosa, após o contrato de compra e venda da maior exportadora lusa, por um escasso sinal de dois milhões de euros.
Pretendem aumentar oito a dez rotas para o Brasil e dez para os EUA, mas vão reduzir algumas rotas intraeuropeias, e desistir das rotas da China (devido aos problemas que as linhas estrangeiras têm encontrado naquele mercado?).
SUBAVALIAÇÃO – A TAP descurará três potenciais mercados mundiais geradores de tráfego: Ásia, Pacífico, e Médio Oriente. Perdendo-se a experiência que a TAP colheu antes de 1999 (ano da devolução de Macau a Pequim), com a construção, gestão, e criação do aeroporto de Macau e da Air Macau.
A TAP tinha encomendado 12 jactos A350 SWB para competir com as rotas orientais que pretendia abrir em 2017, e que ficam sem efeito, apesar dos mercados sul e norte-americano também exigirem aviões avançados. Tem sido um ponto fraco do grupo TAP em termos de concorrência.
E quem sabe onde as empresas aéreas europeias encontram mais dificuldades? Se nos EUA? Ou na China e Médio Oriente?
FROTA, MERCADOS E GESTÃO – Os novos dirigentes da TAP prometem 53 novos aviões até 2017, sendo 14 do modelo A330-900NEO e 39 da família A320-321 (para médio curso, onde vão reduzir rotas não essenciais). A PGA pode usar Embraers mais recentes.
E qual é o plano para melhorar o Hub de Lisboa?
Intensificar o trânsito de tráfego oriundo de África, Brasil e nos voos TAP de New York e Miami, via Lisboa para pontos na Europa e África?
A TAP tem rentáveis fontes em Angola, Moçambique, Brasil, Colômbia (?) e África do Sul? Além de parcerias no âmbito da Aliança Star, incluindo a United.
O Médio Oriente é outro mercado a explorar, através de parcerias com a Emirates e outras dinâmicas empresas que não param de abrir rotas no quadro das alianças Star, Worldspan e Skyteam. Nesta terceira aliança opera a parceria das empresas AF-KLM e Gol (brasileira e rival da Azul).
E quanto à distribuição de 5% das acções aos trabalhadores, capitalização dos 34% devidos pelo Estado (que tem permitido há anos a esta empresa pública funcionar com capital negativo), e à nomeação do respectivo administrador público no novo conselho, nada se sabe!
Continuarei atento e espero ter coberto, sob o habitual ângulo, o essencial desta nova parceria TAP-Azul.