Reformular o Turismo e Comércio Internacional
No anterior texto, nesta coluna, tratei um tema delicado: como das crises nascem mudanças nas organizações e como o actual modelo já se aproxima das sete décadas, Portugal poderia avançar com uma proposta doméstica, e outra internacional, visando actualizar a organização geral do Turismo e Comércio Internacional.
Humberto Ferreira
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No anterior texto, nesta coluna, tratei um tema delicado: como das crises nascem mudanças nas organizações e como o actual modelo já se aproxima das sete décadas, Portugal poderia avançar com uma proposta doméstica, e outra internacional, visando actualizar a organização geral do Turismo e Comércio Internacional.
Por exemplo, refrescando as prioridades da UNWTO, fomentando maior intercâmbio turístico entre os países membros, valorizando os sítios e os costumes classificados como Património Cultural da Humanidade, recomendando uma reorganização das actividades turísticas ligadas em consórcios compreendendo o tecido empresarial de cada região, disseminando a fórmula do turismo ser o eixo do desenvolvimento económico das cidades, regiões e países. E tentando desviar as excessivas rivalidades existentes entre um modo doentio de competitividade política e económica. As populações devem ser estimuladas pelas Nações Unidas a cooperar mais. O Turismo é a indústria da Paz. A OMT enfrenta problemas idênticos, mas em níveis diferentes.
COMPARAR TURISTAS RECEBIDOS POR POPULAÇÃO RESIDENTE – A UNWTO, por seu lado, mostra-se preocupada com as assimetrias dos fluxos turísticos internacionais.
A França recebe 1,26 turistas por habitante (83 milhões de turistas/ano). Andorra recebe 2,2 milhões de turistas com apenas 80 mil habitantes (uma taxa de 2805% da população), e o Vaticano, com uma população de 800 residentes, recebe largos milhões de peregrinos de todo o mundo, por ano. A maioria dos países das Caraíbas também recebe maior número de turistas do que as respectivas populações, aliás, tal como Portugal. Mas já o Reino Unido recebe apenas 0,46% de turistas por habitante.
Comparativamente, o Bangladesh recebe 0,003 turistas por habitante, ou a India e o Paquistão que recebe (cada um) 0,005 turistas por habitante.
A India recebe 500 mil turistas/ano com uma população de 1200 milhões, mas continua a ser notícia de violações colectivas de mulheres que ousam viajar sózinhas, apesar de ser o centro da religião Hindu. E o Paquistão (país muçulmano) continua a ser palco de atentados radicais e refúgio de talibans. São problemas internos que ambos os países devem resolver desde que aceitem o apoio e medidas da comunidade internacional.
PONTOS NEVRÁLGICOS – Lembro que, no caso doméstico, foquei a criação das seguintes vertentes em novas perspectivas:
OBSERVATÓRIO DA CONCORRÊNCIA; promoção de ROTAS DE TURISMO TEMÁTICO (e em vez de alimentar as rivalidades regionais e municipais, sugeri a adesão às comunidades intermunicipais).
Criar ao nível local, NÚCLEOS (desks) ESPECIALIZADOS em promoção, divulgação, e atendimento, dirigidos a organizadores e condutores de grupos, e turistas individuais estrangeiros e nacionais, interessados na obtenção de informações actualizadas sobre cada destino, tema, ou modalidade – a funcionar como fontes de rectaguarda dos tradicionais postos de turismo, os quais podem ser substituídos por centros de atendimento telefónico e/ou electrónico, ligados ao portal VISITE PORTUGAL.
Editar um LIVRO BRANCO DO TURISMO em cada década, para dar conta do cumprimento dos planos aprovados em cada mandato, e para se acompanhar as medidas mais bem sucedidas e as que merecem transformação.
Avaliar a utilidade do CALENDÁRIO SAZONAL (OU ANUAL) DE EVENTOS TEMÁTICOS, com todos os EVENTOS reconhecidos pelo VISITE PORTUGAL.
Consolidar e reforçar as ROTAS para servir, entre outras, as seguintes áreas:
TURISMO BALNEAR, DESPORTIVO, URBANO, RURAL, e MARAVILHAS DA NATUREZA.
MI – CONGRESSOS, REUNIÕES, FEIRAS, e APRESENTAÇÃO DE MARCAS, MODELOS, EQUIPAMENTOS, etc. E fomentar mais grupos de incentivos.
TURISMO CULTURAL: ROTAS E EVENTOS de VINHOS, CONFRARIAS GASTRONÓMICAS, ROTAS de ALDEIA RÚSTICAS E HISTÓRICAS, e VISITAS GUIADAS aos MONUMENTOS ROMÂNICOS, CLÁSSICOS, GÓTICOS, BARROCOS, MANEIRISTAS, e CONTEMPORÂNEOS.
TURISMO NÁUTICO: maior atenção à vertente dos CLUBES NÁUTICOS, sobre o intercâmbio com clubes estrangeiros para a recepção de veleiros e lanchas que se deslocam crescentemente às mais consagradas provas internacionais.
Portugal deve apresentar um calendário de nível no litoral Norte, Centro, Lisboa, Alentejano, Algarvio, Açoriano e Madeirense.
CRUZEIROS: ao nível do MAR, há ainda que projectar os portos que recebem mais cruzeiros internacionais, com a construção de terminais adequados com ligação a transportes intermodais: aeroportos, caminhos de ferro e transportes urbanos.
DESPORTOS AÉREOS: os nossos Aero Clubes devem prestar maior atenção à internacionalização e ao intercâmbio desportivo.
RELIGIÃO: No sector religioso, além de Fátima, que prima pelo seu programa de peregrinações internacionais, há SANTUÁRIOS MARIANOS E OUTROS a merecer maior impacto em países onde as ordens estão estabelecidas. E há a rota portuguesa do Caminho de Santiago, assim como o programa anual das romarias e festas religiosas de Norte a Sul com grande impacto no volumoso TURISMO ÉTNICO.
OUTRAS VERTENTES: projectar ROTAS para EXPEDIÇÕES DE AVENTURA, BEM-ESTAR, SAÚDE, FAMÍLIAS, JOVENS, ESTUDANTES ERASMUS e MBA, TURISMO SENIOR, ROMANCE, TURISMO RESIDENCIAL, etc. Há uma imensa variedade de ofertas a merecer promoção específica junto dos núcleos externos de apreciadores das nossas valências e precisiosidades.
CONCORRÊNCIA – Soube que o Dubai recebe diariamente, nos voos A380, centenas de turistas que vão tratar da imagem, em cirúrgias plásticas mundialmente reconhecidas – sendo, portanto, mais difícil concorrer com um destino de petrodólares, que também se prepara para ser mais um pólo de cruzeiros internacionais, mas por isso também importa mudar a organização e usar mais criatividade para ombrear com a concorrência, começando por surpreender os concorrentes com a proposta para actualizar o intercâmbio internacional, a partir da modernização da UNWTO, que deve servir países mais atrasados e, também, os países históricos do sector a par dos mais avançados e com mais petrodólares.
A companhia Emirates opera uma frota de 47 unidades A380 para e de 27 «Hubs» mundiais, propondo com as suas congéneres dos restantes Emirados, transformar a região num dos maiores pólos mundiais de atracção turística, fazendo sombra à Europa, Caraíbas, Estados Unidos, Ásia (com destaque para a China, que já tem os pólos de Pequim, Shangai, Macau e Hong Kong), etc. Se não reformularmos o modelo, ficamos atrasados.
JOÃO MARTINS VIEIRA – Recebi deste amigo e professor de Turismo da Lusófona, um simpático comentário, via World Press, sobre a ideia que adiantei para a UNWTO ter em atenção que foram portugueses que instigaram a criação da rota marítima da Seda entre a China e a Europa.
Pois Jorge Alvares chegou a Macau em 1513, revelando-se um grande mercador entre o Rio das Pérolas e portos de Cantão, de tal modo que os mandarins lhe outorgaram o direito de estabelecer a rota e um entreposto em Macau. Território administrado por governadores portugueses até 1999. Pela longa distância, Jorge Álvares actuava por conta própria, morrendo nessa faina sem voltar à Pátria. Ele não fez a rota da seda, mas certamente outros portugueses a fizeram. Limitei-me a vincar que as rotas comerciais por via marítima foram eles a «desbravar» no próprio Mar do Sul da China. A mítica Rota da Seda foi recriada no séc. XIX, pelo geógrafo alemão Ferdinand Von Richthofen, baseado no historial das anteriores expedições transcontinentais, e símbolizando a aproximação da China à Europa e vice-versa, em termos de trocas comerciais e culturais.
FEITORIAS – Diz-se que a primeira FEITORIA portuguesa foi estabelecida na Ucrânia. Houve mercadores portugueses a operar no Mar Negro, uma das paragens da Rota da Seda terrestre, pela India, Sião e Turquia.
Aliás, fui eu a propor que a promoção externa e integrada de Portugal se faça, de futuro, através do simbolo das FEITORIAS DE PORTUGAL, que os navegadores e comerciantes portugueses estabeleceram ao longo das rotas marítimas que foram descobrindo e explorando.
Amanhã, em vez da diplomacia económica acumulada nas embaixadas, a AICEP poderá nomear uma rede de FEITORIAS de PORTUGAL no exterior, como modernos entrepostos dos nossos produtos e serviços. Assim a iniciativa privada queira e possa gerir esses empreendimentos comerciais através da diáspora. Se o mundo mudou, os portugueses que foram sempre pioneiros da expansão podem agora ser os principais promotores do que Portugal melhor produz e faz, incluindo receber turistas.