O Turismo e o Mundo em Mudança
O produto turístico deverá espelhar as expectativas da procuraE eis que mais uma vez chegamos ao mês de Dezembro. De repente, paramos e damos conta que mais um ano está a terminar e nós, na azáfama do dia-a-dia, não tomamos consciência de que chegou o Natal e a seguir vêm as festas do Ano Novo.… Continue reading O Turismo e o Mundo em Mudança
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O produto turístico deverá espelhar as expectativas da procuraE eis que mais uma vez chegamos ao mês de Dezembro. De repente, paramos e damos conta que mais um ano está a terminar e nós, na azáfama do dia-a-dia, não tomamos consciência de que chegou o Natal e a seguir vêm as festas do Ano Novo. E um ano termina. Todos temos consciência que passa rápido, e que muita coisa mudou.
Neste ano, que agora termina assistimos a mudanças profundas que afectaram o nosso confortável modo de vida e abalaram os modelos tradicionais de “fazer negócio”, e o sector turístico não foi excepção. Como testemunha desta situação podem ser lidos, nos diversos documentos e diagnósticos de conjuntura que são disponibilizados, as quebras nas taxas de ocupação, a diminuição do número de dormidas, as descidas Revpar, entre outros indicadores.
Esta introdução serve para dizer que, como alguém um dia afirmou, “nada é constante a não ser a mudança”. E o sector turístico, pela sua natureza, é um dos que mais exposto está. Quase todos os dias são disponibilizados pelas instituições competentes estudos e análises que deixam antever profundas alterações nos paradigmas assumidos nas sociedades desenvolvidas. Desde a economia, às mudanças de comportamentos do consumidor, passando pelas questões ambientais, demográficas e políticas, todas têm fortíssimos impactos numa indústria que deve assumir a “visão prospectiva” como ferramenta de trabalho e planeamento. Qualquer que seja o produto, desde um hotel, ao resort turístico, como ao próprio destino, todos serão alvo destes constrangimentos. Assim, deverá o promotor, o gestor ou o responsável político, antever as mudanças de forma a poder desenvolver a sua proposta da maneira mais correcta. Como já referido, a mudança é lenta e, por vezes, imperceptível, mas é uma realidade.
O planeamento, a organização e a estruturação do produto turístico é demorado. A sua concretização é longa.
Portanto, todo o produto deverá ser planeado não só de acordo com a conjuntura que o envolve, mas sobretudo assumindo uma visão futura das potenciais mudanças que poderão vir a ocorrer. Ou seja, deveremos planear.
De entre as condicionantes mais fortes para o sector turístico podem ser destacadas as de natureza geopolíticas, as económicas, as ambientais, as tecnológicas, as sociais e as demográficas. Todas elas estão intimamente relacionadas e influenciam os comportamentos e os hábitos de consumo do cliente, que é afinal aquele para quem o produto é estruturado, organizado e comunicado, isto implica que todas as variáveis identificadas deverão ser incorporadas quer na estratégia de produto, quer na estratégia de inserção comercial e marketing, assegurando, desta forma, a sua melhor apreensão pelo mercado.
Numa outra dimensão, surge outra categoria de condicionantes directamente relacionadas com a procura turística e que não poderíamos deixar de referir antes de fazermos uma análise mais focalizada às variáveis da oferta. Assim sendo, e resumindo, o cliente é também objecto de mudança, consequência muitas vezes das mesmas variáveis enumeradas anteriormente, que o conduzem para novos padrões de consumo. A motivação da viagem, a sua propensão para a mesma, a preferência por determinados destinos ou produtos, as suas expectativas, a forma como este lida com a tecnologia, são tudo fruto de um cliente mais esclarecido, mais viajado e, sobretudo, mais atento às propostas que lhe são apresentadas. Por exemplo, como já referimos em outros textos, a conjuntura actual afectou profundamente a relação do cliente com o dinheiro e com o bem ou serviço transacionável.
Na perspectiva da oferta, a situação é mais difícil.
Enquanto que na procura a facilidade de adequação à mudança pode ser rápida, no ponto de vista da oferta esta é mais complicada e lenta. Todos conhecem a teoria da elasticidade da procura e da rigidez da oferta turística!!
O facto de se estar atento aos sinais, às previsões conjunturais, não serve exclusivamente para o evitar de erros, mas sobretudo para que possamos prospectivar um caminho e adequar o nosso produto, dotando-o de argumentos que o fortaleçam e o tornem mais competitivo face a outros semelhantes. Assim, uma visão e análise prospectiva deve servir sobretudo como instrumento para dotar o produto turístico de argumentos como a inovação, a diferenciação, a objectividade qualitativa, ou seja, dotá-lo de capacidade de resposta à mudança. Assim, considerando as variáveis enunciadas, as quais poderão afectar profundamente a organização oferta turística e condicionar o seu sucesso, ocorre-nos deixar aqui algumas pistas de como estas poderão contribuir para um posicionamento mais defensivo face às ameaças globais:
1.Variáveis económicas: diz o nosso povo que o bom gestor é aquele que em períodos positivos é capaz de “amealhar” e em tempos de escassez de governar. E assim é, devemos assumir as épocas de dificuldades económicas para aguçar o espírito inventivo e reduzir os gastos sem comprometer a qualidade final. Ou seja, identificar e eliminar centros de custos que possam penalizar a operação, e aproveitar para desenvolver uma gestão mais eficiente.
Paralelamente, é possível identificar diversas variáveis que eram assumidas como diferenciadoras e valorizadas pela procura, mas que na realidade não passavam de elementos que tentavam posicionar o produto em patamares aos quais na realidade não correspondiam.
2.Variáveis políticas: um Mundo em transformação é o que verificamos quando assistimos a qualquer noticiário na televisão ou quando lemos qualquer notícia em uma das muitas publicações disponíveis nas bancas dos jornais. As questões políticas podem-se transformar em verdadeiras oportunidades ou ameaças, basta ter como exemplo o alargamento da União Europeia a 27 membros que poderá constituir uma oportunidade quando vemos um mercado de 499.723.520 potenciais clientes (Eurostat 2009), ou quando se observado de uma outra perspectiva, um território com níveis de desenvolvimento diferentes que facilita a entrada e saída dos indivíduos, facto que poderá contribuir para um aumento dos níveis de insegurança.
3.Variáveis ambientais: segundo alguns autores, a Humanidade enfrenta um dos seus maiores desafios, as alterações climáticas. Segundo o site da União Europeia, este é um fenómeno que já está a acontecer e representa a maior ameaça ambiental, social e económica que o planeta alguma vez já enfrentou. Segundo a mesma fonte, desde 1850, a temperatura já aumentou 0.76º, tendo sido nos últimos 50 anos, devido muito provavelmente às acções do Homem, que se registou o maior aquecimento. Este facto leva-nos a questionar sobre quais deverão ser as futuras opções, em termos de projecto, que o produto turístico deverá assumir.
4.Variáveis tecnológicas: estamos sem dúvida num Mundo cada vez mais globalizado. Assumindo os Descobrimentos como o primeiro passo dado na direcção da Globalização, são agora as novas tecnologias que assumiram o comando do processo. As Novas Tecnologias apropriaram-se do nosso dia-a-dia e já não sabemos gerir a vida sem a elas recorrer. Segundo as estimativas disponíveis no CIA World FactBook de 2008 existem aproximadamente mil milhões de utilizadores de internet no Mundo, o que equivale a uma taxa de penetração global de 15.4%. Esta realidade já está a evidenciar uma mudança de comportamentos, mas poderemos num futuro, com as novas gerações mais familiarizadas com estas ferramentas, antever um uso inimaginável destes suportes, criando uma ainda maior dependência deles.
5.Variáveis demográficas: já todos ouvimos falar, ou já lemos, sobre as previsões demográficas mundiais. Sabemos que irá existir um crescimento populacional global, sustentado principalmente pelo crescimento nos países de África e na Índia, sabemos que o Mundo Ocidental será um mundo envelhecido, sabemos que irá existir um aumento da esperança média de vida das populações, sabemos será necessário um novo conceito de envelhecimento, e finalmente, sabemos que será necessário proceder à “importação de mão-de-obra” para podermos continuar a garantir, de alguma forma, o modelo do Estado Proteccionista a que estamos habituados, nesta velha Europa. No entanto, será que já reflectimos sobre os potenciais impactos que estas alterações irão provocar no sector turístico. Estará o nosso produto realmente adaptado às exigências que este segmento emergente irá exigir? E a futura avalanche de movimentos migratórios que tornará a nossa sociedade muito mais diversificada e multicultural, estarão os nossos empresários e governantes conscientes das exigências que uma sociedade destas irá impor?
Estas são algumas reflexões, de entre muitas outras, que deverão ser alvo de atenção quando se elege o turismo como actividade prioritária. Gerir uma actividade turística implica estar atento ao que se passa no Mundo, e este, como já vimos, está em constante mutação, que deveremos acautelar por forma a sermos capazes de corresponder. Quer seja o produto turístico “Portugal”, quer seja o hotel A ou o resort B, o seu planeamento e estruturação não deverão ser assumidos considerando apenas a conjuntura actual, ou os ensinamentos do passado. Pelo contrário, deverá ser assumida uma postura mais profissional e acautelar os nossos interesses, que no fundo são os interesses dos nossos clientes, e portanto, a razão da nossa existência. Para finalizar, reforçamos uma vez mais que todo o desenvolvimento estratégico do produto turístico deverá ser sustentado em valores mais humanos e mais responsáveis. O produto turístico deverá espelhar as expectativas da procura por forma a ser percepcionado por esta na sua globalidade de noção de “valor”.